22 Junho 2017
Ele já visitou 25 países, esteve perto [da Argentina] e voltará a estar perto outra vez . Mas não virá à Argentina. Sabe Deus por quê!
O comentário é de Ricardo Roa, editor-executivo do jornal argentino Clarín, publicado pelo mesmo jornal, 21-06-2017. A tradução é de André Langer.
Desde o início do seu papado, há pouco mais de quatro anos, Francisco fez muitas viagens.
Visitou 25 países. Entre os grandes, o maior: os Estados Unidos. Também a França. (Nota de IHU On-Line: O Papa Francisco esteve em Estrasburgo, sede do Parlamento Europeu. Ou seja, não foi visita ao país francês). E médios e pequenos, uma legião para todos os gostos. De centro, de direita, de esquerda e populistas. Entre eles o México, Cuba, Turquia, Armênia, Uganda, Coreia do Sul, Israel, Jordânia, Egito, Sri Lanka, Albânia e Bósnia.
Já esteve perto: no Brasil, na Bolívia, no Paraguai e no Equador. E acaba de anunciar que logo voltará à região: irá à Colômbia, ao Chile e ao Peru.
Adivinhem qual país falta: falta-lhe nada menos que seu país natal, a Argentina. Ninguém sabe quando pensa em vir. Nem mesmo se alguma vez pensa em vir. Estranho, não?
Francisco faz em Roma coisas que fazia aqui, como acompanhar de perto a vida política e a vida interna do peronismo.
Lê e pergunta o tempo todo sobre o que acontece conosco. E busca sempre o contato, a ligação direta.
Pratica a aproximação. Manda felicitações por ocasião de aniversários, mantém correspondência com companheiros da juventude, telefona para vítimas de abuso e encoraja através de mensagens de texto os que lutam contra o tráfico de pessoas.
Fala com palavras e com gestos. E com gestos que o definem como político. Ele pode enviar um terço a Milagro Sala e dar uma de Perón: enviar a cada pessoa cartas com o que sabe que elas querem e esperam ouvir.
Qualquer semelhança com o General não é pura coincidência. Aí volta a ser o padre Jorge, o peronista companheiro de viagem do agrupamento Guarda de Ferro.
Também segue sendo aquele padre Jorge quando fala muito e atende os dirigentes do kirchnerismo que o desprezaram até depois de ser ungido Papa e quando fala pouco e se fica incomodado e com cara de poucos amigos na presença de Macri.
Quatro anos sem retornar ao seu país podem parecer pouco ou podem parecer muito, dependendo do olhar. Aqui são muitíssimos anos esperando o nosso Papa.
No final das contas, trata-se de uma decisão de Bergoglio. Ele deve ter uma explicação para tanta demora. É difícil encontrá-la. Em todo caso, só ele a conhece.
Uma possível explicação, do lado de Francisco, é que quer evitar qualquer favoritismo: não veio com Cristina presidente e também não virá com Macri presidente.
Embora pudesse vir e ver os dois: seria uma maneira de equilibrar as coisas. Mas se isso não acontecer e Macri for reeleito, então não virá nunca?
Outra explicação do mesmo lado do Papa é que se vier em meio a uma “divisão”, corre o risco de ser usado por um dos lados em disputa.
Também se poderia pensar o contrário: que, com sua enorme popularidade e prestígio, Francisco poderia contribuir para atenuar o conflito. E, de passagem, ajudar o episcopado em seus esforços para moderar a política argentina.
Fora, o Papa pode mediar o conflito entre Cuba e os Estados Unidos e a Colômbia com a guerrilha. E pode rezar em silêncio diante do Muro das Lamentações e abraçar ali mesmo um rabino argentino e um dirigente muçulmano, também argentino.
Ser pontífice significa justamente isso que fez: estender pontes. Mas até agora renunciou a fazê-lo com os argentinos.
Fora daqui, o Papa trabalhou para fechar fendas e para aproximar confissões, que também é cuidar da sua Igreja e sua tarefa no mundo.
E essa parte do mundo também deve estar se perguntando por que não vai ao seu país.
Não pode ser que não saibamos o que fazer para que Francisco venha. Mas acontece. Nem dizer que somente ele e Deus sabem por que não vem.
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Francisco, o Papa autoexilado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU