13 Mai 2017
Ele disse que uma certa cúpula de Guayaquil pretendia impor lugares para visita, que foram modificados por razões de segurança
A reportagem é publicada por Ecuador Inmediato, 11-05-2017. Traduzido por Henrique Denis Lucas.
Ouça o áudio aqui.
Ricardo Patiño, o ex-Ministro de Relações Exteriores do Equador, fez um balanço de como foi sua passagem por esta Secretaria de Estado. Ao abordar a visita do Papa Francisco ao Equador, no ano de 2015, ele admitiu que houve atritos e tensões com os hierarcas da Igreja equatoriana, especialmente com a cúpula de Guayaquil, comandada, naquele momento, por Dom Antonio Arregui: "tivemos de ser muito duros para estabelecer que as visitas nos locais de interesse de alguns membros da cúpula da Igreja de Guayaquil não poderiam acontecer, mas que não aconteceriam por questões de segurança", afirmou.
Relação entre o Equador e outros países
"O interesse da nação acima de tudo", ressaltou Patiño, que descreveu como "extraordinária" a relação com os governos colombiano, peruano e chileno, quando, em algum momento, existiram regimes de "alto corte direitista".
"No caso de (Sebastián) Piñera, no Chile, (Juan Manuel) Santos (na Colômbia), Alán García (no Peru), a nossa relação com eles era extraordinariamente boa porque os interesses da nação estavam acima de tudo, assim como também ocorria com o Presidente (Hugo) Chávez", destacou.
Em relação aos gabinetes binacionais, que o Equador mantém com o Peru e a Colômbia, na opinião de Patiño, permitiu que o país "não só pudesse consolidar a paz com os vizinhos, mas também a cooperação".
Sobre a relação com o ex-presidente dos Estados Unidos, o ex-Ministro das Relações Exteriores disse que Barack Obama mantinha uma relação distante com os seus homólogos da região.
"Barack Obama quase não se relacionou com a América Latina, parece-me que em um encontro na República Dominicana (o Presidente Rafael Correa e Barack Obama se cumprimentaram), houve questões que queríamos avançar, como por exemplo o assunto relacionado à região de Angostura, e nunca tivemos uma resposta definitiva, clara", ele revelou.
Diante da pergunta que Equador fez aos Estados Unidos sobre se eles haviam participado do bombardeio de Angostura, em 2008, as mais altas autoridades do Departamento de Estado norte-americano responderam: "é uma questão que nós gostaríamos de virar a página".
"Não admitiram, mas disseram: esperamos que isto possa ser superado. Implicitamente queriam insinuar alguma coisa", disse ele.
A extradição dos irmãos Isaías é outra questão sensível, que foi abordada com o governo de Washington.
"Quando de ambos os lados há desejo de avançar na relação, isto é bom, mas o relacionamento precisa ser cordial, respeitoso, nunca o levamos para outros termos, e talvez eles pudessem explicar que manifestaram seu pouco interesse porque havíamos expulsado a Embaixadora que se atreveu a fazer declarações absolutamente desrespeitosas", lembrou sobre o caso de Heather Hodges.
O caso Julian Assange
O ex-Ministro das Relações Exteriores não considera que foi um erro nem um equívoco conceder asilo político para Julian Assange, fundador do WikiLeaks.
"Foi uma mostra de soberania, em primeiro lugar, e de respeito aos direitos humanos, porque esse senhor era perseguido em todos os lugares e iriam encarcerá-lo. Quem sabe quanto tempo ele teria de viver na prisão e sabe-se-lá quais tipos de consequências a mais ele teria passado por ter revelado os gravíssimos crimes contra a humanidade que eram encobertos", manifestou.
"Não é que compartilhamos de tudo o que Julian Assange faz, como disse o Presidente Correa". No entanto, Patiño admitiu acreditar que não era aceitável que ele fosse perseguido e preso por ter exercido a sua liberdade de expressão.
"No site surgiram algumas informações que poderiam ser interessantes, mas o que revelavam era a posição que eles tinham à respeito de nosso governo e que evidenciava que as pessoas, quando falavam de nós, não tinham proximidade, não havia muito mais informações", explicou sobre o que o Governo do Equador teria encontrado no WikiLeaks, embora tenha admitido que não houve uma longa revisão dos documentos.
Havia uma "super penetração" da CIA nos governos do Equador, Ricardo Patiño enfatizou acrescentando que a interferência da agência norte-americana também foi relatada em instituições de segurança.
"Muito tem sido desarticulado, como o fato de que a agência de controle de drogas, que era dirigida pelos Estados Unidos, pela CIA, tinham seus computadores, seus caminhões, e isso foi removido do comando deles, mas acredito que ainda não esteja totalmente desarticulado, devemos trabalhar mais", acrescentou.
O Equador e o Vaticano
Ricardo Patiño manifestou que a relação com o Vaticano foi muito cordial e com o Papa Francisco foi amistosa, amorosa e de muita confiança.
"No caso da relação com o enviado do Papa, a pessoa que o representa, o Núncio Apostólico, tivemos uma relação de respeito, mas com algumas tensões, por exemplo, que aconteceram quando estava sendo discutida a Constituição", revelou.
Dom Antonio Arregui organizou, em Guayaquil, uma missa ao ar livre "claramente politizada".
"Tive de falar com o Núncio, finalmente, e o fiz. Mas também tive de falar com o Arcebispo Arregui, porque não houve uma reação, como deveria ser", disse ele.
Quando perguntado no programa "El Poder de la Palavra", do site Ecuadorinmediato.com/Radio, se era verdade que houve, por parte do Estado equatoriano, uma vontade de que a chegada do Papa Francisco se tornasse uma visita ao Governo do Equador, o ex-chanceler respondeu: "Quando é feito o primeiro contato direto entre o Presidente e o Papa, a primeira coisa que surge é a ideia de vir".
"Primeiro, a visita do Papa à comunidade católica, pois ele também é um Chefe de Estado. Do ponto de vista diplomático, protocolar, formal, era uma visita de um Chefe de Estado e assim foi tratada. No entanto, a partir do Ministério das Relações Exteriores, cuidamos da coordenação e do tratamento protocolar do Chefe de Estado. Mas quando é o Papa Francisco que vem nos visitar, particularmente, é como se fosse a visita de um pastor", disse ele.
No entanto, ele admitiu que houve atritos com alguns membros da Igreja Católica "particularmente com quem estava à frente da Igreja em Guayaquil (Dom Antonio Arregui)".
"Encarreguei-me de que superássemos alguns desejos de organizar a visita, por exemplo, com as questões que afetavam a segurança. Tivemos de ser muito duros para estabelecer que as visitas nos locais de interesse de alguns membros da cúpula da Igreja de Guayaquil não poderiam acontecer, mas que não aconteceriam por questões de segurança", afirmou.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Equador. Após 2 anos da visita do Papa Francisco, ex-Ministro de Relações Exteriores reconhece que houve tensões com a Igreja Católica (em áudio) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU