Por: Jonas | 03 Agosto 2013
Na primeira reunião da cúpula sem Hugo Chávez, com a presença do presidente nicaraguense Daniel Ortega e seu par venezuelano Nicolás Maduro, o mandatário equatoriano reafirmou a necessidade de consolidar a aliança regional.
A reportagem é publicada no jornal Página/12, 31-07-2013. A tradução é do Cepat.
Os líderes da ALBA, grupo que reúne países críticos de Washington, buscam recuperar a força após a morte de Hugo Chávez. Numa reunião da cúpula, ontem, em Guayaquil, discutiram ações contra o “império do capital” e a espionagem dos Estados Unidos. A ALBA “é anti-imperialista, mas o império que domina o mundo, inclusive os países hegemônicos, é o império do capital. Esta é a nova luta anti-imperialista”, declarou o presidente do Equador, Rafael Correa, na abertura da cúpula.
O encontro da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), o primeiro realizado sem Chávez, impulsionador do bloco formado em 2004, também delineará uma posição comum diante da Aliança do Pacífico. Este último grupo formado pelo Chile, Colômbia, Peru e México é visto por membros da ALBA como uma tentativa de reabilitar uma área livre de comércio na região. “Vamos debater como fortalecer nossa aliança bolivariana, como retomar essa tarefa que o companheiro Hugo Chávez nos deixou”, declarou o mandatário boliviano Evo Morales, em sua chegada a Guayaquil.
Antes da reunião da cúpula, Morales e Rafael Correa tiveram um encontro, em Quito, na semana passada, no qual criticaram abertamente a Aliança do Pacífico. “Enquanto eu for presidente, o Equador não entrará em nenhuma destas aventuras”, declarou Correa, cujo país, diferente da Bolívia, tem acesso ao oceano Pacífico.
No discurso inaugural da XII cúpula da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), que ocorre na cidade equatoriana de Guayaquil, o presidente do Equador, Rafael Correa, sublinhou a necessidade de defender os povos diante destas manifestações de poder. É necessário “evitar que nossas democracias sejam restringidas” e “manter nossas soberanias, que estão em perigo com esta ordem mundial imoral”, destacou o governante, que considerou que o rascunho da declaração final da cúpula é “tremendamente tíbio” diante destas ameaças.
Ele criticou a espionagem internacional, os tratados de proteção recíproca de investimentos, as transnacionais, os centros internacionais de arbitragem e a imprensa “má”, que qualificou como “letal” para as democracias, ao mesmo tempo em que questionou o papel da Organização dos Estados Americanos (OEA) e reivindicou reformas no Sistema Interamericano de Direitos Humanas (SIDH).
O mandatário acolheu aos presidentes Nicolás Maduro, Daniel Ortega, Evo Morales e as delegações dos países da ALBA, da qual fazem parte Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, Venezuela, bem como o Equador. A ALBA foi criada, há nove anos, pelos então presidentes Hugo Chávez e Fidel Castro.
Esta cúpula de Guayaquil surge da “necessidade de avivar uma aliança que é bastante frágil” porque sempre esteve atada ao “personalismo de Chávez”, disse Andrés González, cientista político e professor de Relações Exteriores da Universidade San Francisco de Quito. Os países membros buscam “enviar uma mensagem muito clara: a ALBA funciona sim, e tem um peso político”, acrescentou.
Correa convidou os governos para refletirem sobre temas como o SIDH, cuja reforma o país andino defende nos fóruns internacionais, por considerar absurdo que Washington seja a sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), apesar de não ter assinado o Pacto San José, que é o “fundamento” do mesmo. É uma “irracionalidade” que a sede esteja no país que promove o bloqueio contra Cuba, disse Correa, que se perguntou: “Até quando toleraremos isto?”.
O mandatário, que qualificou como “atrocidade” o recente incidente vivido pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, cujo avião foi impedido de aceder o espaço aéreo de países europeus, mencionou como um exemplo da necessidade de fortalecer a unidade latino-americana a negativa do Reino Unido em dialogar com a Argentina sobre as Ilhas Malvinas. Diante disso, Correa apelou para os instrumentos oferecidos pela ALBA, a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac), para avançar na integração.
O mandatário anfitrião antecipou que a reunião da cúpula servirá para ventilar temas como o plano estadunidense de vigilância global, revelado pelo ex-contratado norte-americano Edward Snowden, que espera asilo na Rússia. Snowden, acusado de espionagem por Washington, recebeu ofertas de proteção da Venezuela, Bolívia e Nicarágua.
O Equador proporá acelerar a criação de centros regionais de arbitragem que resolvam as controvérsias entre os Estados e empresas estrangeiras. Segundo Correa, as atuais entidades estão dominadas pelas transnacionais e são um instrumento de dominação contra os Estados. O Equador enfrenta milionárias demandas internacionais das petroleiras Chevron e Occidental.
Além disso, o mandatário equatoriano ressaltou que a luta contra a pobreza é o grande “imperativo moral” que os governos latino-americanos possuem para combater “a escravidão do século XXI”, como definiu o fato de “ter gente vivendo na pobreza”. E para isso defendeu o uso racional dos recursos naturais não renováveis para conseguir um desenvolvimento com soberania.
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“Hoje a luta é contra o capital” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU