"Bergoglio já tem uma vitória: graças a ele, as pessoas se reaproximaram da Igreja." Entrevista com Andrea Riccardi

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17 Março 2017

A mensagem do Papa Francisco consegue tocar o coração das pessoas, mesmo daquelas distantes da fé. Essa é a “reforma” fundamental implementado pelo pontífice mais hostilizado da história contemporânea. Palavra de Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, que adverte: um papa não deve ser avaliado como um empresário.

A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada no jornal La Stampa, 16-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Professor, como está o Vaticano?

Não se pode isolar o que acontece do outro lado do Rio Tibre do catolicismo, que, no início desta década, era percebido em uma crise muito grave. Com a renúncia de Bento XVI, parecia impossível governar a Igreja. Depois, chegou a “surpresa Francisco”.

E com ele começaram as reformas: estão funcionando?

A reforma que engloba todas é a mudança da relação da Igreja com o mundo. Ou seja, a passagem de uma posição defensiva a uma simpatia que toca o coração das pessoas, mesmo daqueles que não creem. Sem essa chave de leitura – que também pode ser chamada de ternura, misericórdia, abertura – não se entende o pontificado.

Sim, mas a “barca de Pedro” deve ser guiada: Bergoglio está fazendo isso bem?

Acima de tudo, não se deve avaliá-lo como um empresário, mas olhar para ele como um papa que age pela “conversão pastoral” da Igreja. Depois, com certeza, Bergoglio também é um homem de governo e sabe que também é preciso passar por escolhas não vencedoras. Mas todas as mudanças devem ser enquadradas no mais importante: o impacto com as pessoas.

É o mais importante porque criou popularidade?

Não, porque regenerou a ideia de Igreja do povo, derrubando a concepção da Igreja como minoria coesa e combativa.

O que mais o papa deseja entre os objetivos ainda não alcançados?

Que os pobres sejam mais centrais na Igreja, com o que também ajudaria um clima melhor na Cúria.

Como se explicam as tensões que o cercam?

Diante da globalização, das migrações, de concepções diferentes de família, da convivência entre religiões diferentes, Francisco sugere como ser católico. Isso é tão incômodo que leva a alinhar vários “nãos”, fortalecidos pela típica força inercial da Igreja, que custa a mudar.

Mas é “business as usual” para um pontífice?

Não. Nunca houve uma oposição tão aberta a um papa como para Bergoglio, difusa em vários níveis, desde as hierarquias, aos leigos, aos blogs.

Com que características?

É uma rejeição da sua mensagem, algumas vezes uma deslegitimação do portador da mensagem. Eu penso em um certo tradicionalismo e me pergunto: como é possível tal rejeição ao papa? Depois, há à indiferença, como se o papa não tivesse mudado: isso talvez seja ornamentado com algumas citações de Francisco reduzido a slogans.

Francisco vai conseguir?

A sua intuição e a sábia bússola do povo de Deus irão na direção certa: a do Evangelho e da história que corre.

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