11 Outubro 2016
Em entrevista recente ao Global Sisters Reporter sobre o estado do Haiti antes das eleições nacionais, o Cardeal Chibly Langlois evitou falar abertamente de política.
Mas o homem cuja nomeação em 2014 para o Colégio Cardinalício vem sendo visto por analistas como uma espécie de termômetro para indicar o tipo de prelado que o Papa Francisco tem em mente – um alguém com um fortemente envolvimento no trabalho pastoral e compromissado com a solidariedade aos pobres – deixou claro que os desafios econômicos do Haiti permanecem graves.
A entrevista é de Chris Herlinger, publicada por National Catholic Reporter, 06-10-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Num país onde mais de oito em cada 10 pessoas vivem na pobreza e em que a metade do país vive em pobreza abjeta, os problemas econômicos continuam sendo extremos, levando à violência nos bairros pobres e à migração, tanto dentro quanto fora do país, disse o cardeal.
Langlois considerou severa a situação econômica atual, e disse que o Haiti faz muitas importações e não produz o suficiente para as necessidades internas. Disse que há recursos que o país poderia estar usando para o seu próprio bem, entre eles a energia solar e eólica.
Langlois disse que os haitianos “têm o direito de estar preocupados com a mudança climática” e que o país continua vulnerável a desastres naturais “catastróficos”, incluindo o furacão Matthew, que atingiu a ilha em 4 de outubro.
Perguntado sobre como os haitianos se sentem com o papado de Francisco e se existe alguma confusão em torno das suas reformas, Langlois respondeu: “Aqui no Haiti as pessoas gostam muito do papa, e a principal razão é a sua proximidade com o povo haitiano. Esta proximidade, se deve à atenção que ele dá aos pobres”.
Langlois observou que, ao anunciar a sua nomeação como cardeal no dia em que se completavam quatro anos desde o terremoto devastador de 2010, Francisco solidificou a sua posição para com o povo do país.
“O papa deu ao Haiti o seu primeiro cardeal”, disse. “Isso tem um significado muito importante para o Haiti. Transformou a nossa tristeza [com o terremoto] em alegria”.
E acrescentou: “Foi uma resposta a uma pergunta frequente no país: Quando o Haiti irá ter um cardeal? É uma honra para o país inteiro. Independentemente da religião, seja protestante ou católico, é uma honra para todos nós”.
O terremoto continua a afetar o país, embora Langlois considere que “em comparação com o ponto onde nos encontrávamos antes do desastre, grandes avanços foram feitos no país. Podemos ver que, do ponto de vista humano, o povo haitiano se recuperou daquela catástrofe”.
No entanto, o prelado não minimizou os problemas ainda existentes.
“Apesar do progresso que vemos, existem dificuldades que temos de enfrentar”. “Ainda temos pessoas vivendo em tendas. Ainda temos pessoas vivendo em alojamentos temporários. Há pessoas que ainda vivem em condições muito frágeis”.
Segundo Langlois, há uma reconstrução que precisa ser feita em todo o país, incluindo a reconstrução da catedral nacional, que ficou dizimada pelo terremoto. Uma estrutura temporária foi construída perto do local do antigo prédio, mas reconstruir a catedral continua sendo um objetivo.
Apesar de toda a fragilidade, Langlois falou dos muitos pontos fortes do Haiti, incluindo a solidariedade que existe entre os haitianos, que somam cerca de 10 milhões, e entre os haitianos da diáspora, que somam cerca 2 milhões e que vivem no exterior. Disse também que são necessários os esforços de ambos os grupos para melhorar a vida no país.
“Quero sublinhar a solidariedade existente entre os membros da ‘família’”, declarou, “e o fato de que a diáspora é uma força importante para o povo do Haiti”.
Ele também destacou o trabalho de irmãs e padres, dizendo ambos os grupos são “muito honrados e apreciados entre a sociedade haitiana. Respeitados também. Eles dedicam suas vidas a Deus. Mas, acima de tudo, eles se colocaram a serviço da comunidade”.
O prelado falou que o trabalho desenvolvido por estas pessoas em diferentes ambientes é bastante valorizado, sendo o espaço da educação talvez o mais importante de todos.
“Eles estão em contato com todo mundo: adultos, jovens, pais, idosos. Eles desempenham um papel de destaque na sociedade. Aqui, achamos que a educação é a chave para progredirmos enquanto país”, disse o cardeal.
Langlois declarou ainda que o povo haitiano “vive em necessidade”. A maioria das paróquias do país estão nos lugares mais pobres. “Construímos igrejas nos lugares mais isolados do Haiti. Assim, a comunidade religiosa está vivendo nestas áreas e vem se dedicando a ajudar os pobres”.
O entendimento de trabalho pastoral do Papa Francisco “está em sintonia com o que a comunidade religiosa vem fazendo no Haiti há anos”, declarou Langlois. “A missão da Igreja se baseia na solidariedade – não podemos fazer outra coisa senão enfatizar a luz da solidariedade”.
E acrescentou: “É um presente especial, essa presença em nossa comunidade”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Primeiro cardeal do Haiti: “Grandes avanços foram feitos no país” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU