19 Dezembro 2025
"O perdão é o caminho que nos leva a essa descoberta, um caminho doloroso que nos coloca diante de uma encruzilhada, uma escolha, uma alternativa", escreve Leonardo Allodi, sociólogo e professor na Universidade de Bolonha, em artigo publicado por Avvenire, 16-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O que transforma a condição humana da tragédia à esperança – afirma H. Arendt – é a possibilidade do perdão.
Segundo o classicista estadunidense David Konstan (1940-2024), a história de José e seus irmãos é o primeiro momento registrado na história em que um ser humano perdoa outro. Um momento que mudou a história da humanidade, como também observou Jonathan Sacks: "A humanidade mudou no dia em que José perdoou seus irmãos. Quando perdoamos e somos dignos de ser perdoados, não somos mais prisioneiros do nosso passado. A vida moral é aquela que abre espaço para o perdão."
Nos últimos quatorze capítulos do livro de Gênesis (37-50), desenrola-se a história da linhagem de Jacó, a história de José e seus irmãos. Após testar seus irmãos, quando percebeu que finalmente reconheciam sua culpa e mereciam punição, José — seus irmãos não suspeitavam que ele os havia compreendido — “retirou-se e chorou” (Gênesis 42,24). Outro momento central da história é confiado às palavras de Jacó: “Dirás a José: ‘Peço-lhe que perdoe os erros e pecados de seus irmãos que o trataram com tanta maldade! Agora, pois, perdoa os pecados dos servos do Deus do teu pai.’ Quando recebeu o recado, José chorou” (Gênesis 50,17). Em seu comentário, São Cesário de Arles escreveu: “Ele beijou cada um deles e chorou por todos, até que o derramamento de suas lágrimas encheu as montanhas dos temores, e com as lágrimas de amor lavava o ódio de seus irmãos”.
O “pão do perdão”: há outra história, desta vez literária e muito mais próxima de nós, que devemos ao “poeta que mais chegou perto do homem e do seu coração”. A história de Ludovico, mais tarde Frei Cristóvão, é contada no Capítulo IV de Os Noivos. Após a briga e o assassinato, Ludovico refugia-se num convento onde inicia uma vida de expiação e serviço. Ele doa todo seu patrimônio à família de Cristóvão. Mas deseja pedir perdão ao irmão do homem assassinado para remover, "se Deus abençoar minha intenção, o ressentimento de sua alma". Diante do perdão concedido, "o rosto do frade iluminou-se com uma alegria agradecida, sob a qual, porém, ainda transparecia uma humilde e profunda compunção pelo mal a que a remissão dos homens não podia reparar". Dominado pela sincera contrição de Frei Cristóvão, o irmão do homem assassinado, tomado pela emoção geral, "jogou os braços ao redor de seu pescoço e deu e recebeu o beijo da paz". Quando chegou a hora de se despedir, Frei Cristóvão pediu apenas uma coisa: "Estou prestes a me pôr em viagem: digne-se trazer-me um pouco de pão, para que eu possa dizer que desfrutei de sua caridade, comi seu pão e recebi um sinal de seu perdão". E então aquela cena, indelével, que permanece em nossos corações mais do que qualquer tratado teológico ou filosófico sobre o perdão: o Padre Cristóvão caminhava, com uma consolação que jamais sentira novamente, depois daquele dia terrível, para a expiação à qual toda a sua vida devia ser consagrada... Parando, na hora da refeição, na casa de um benfeitor, comeu, com uma espécie de voluptuosidade, o pão do perdão; mas guardou um pedaço e o colocou em sua cesta, para conservá-lo como lembrança perpétua.
Há também duas experiências paralelas, que recordaremos mais adiante, aquelas de Giovannino Guareschi e Simon Wiesenthal, duas histórias unidas, no mínimo, por uma experiência dramática comum: os campos de concentração alemães da Segunda Guerra Mundial. Esses exemplos resultam muito úteis para esclarecer minha tese: a saber, que, partindo de um conceito que é fruto da história de um longo caminho que nos conduz ao âmago da teologia cristã, ou seja, o conceito de pessoa, é possível falar de uma "antropologia do perdão" ou mesmo, como faz Robert Spaemann, de uma "ontologia do perdão".
A natureza humana é uma natureza teleologicamente orientada, chamada a despertar e descobrir em si mesma aquela marca que a constitui em sua essência, mesmo que não esteja imediatamente acessível à nossa consciência. É por isso que J.H. Newman está certo quando observa: "Sabemos que quanto mais próximo um objeto está de nós, menos podemos contemplá-lo e compreendê-lo. Cristo se aproximou tanto de nós na Igreja que (se me permitem a expressão) não podemos mais nem o contemplar nem discernir... Nossos rostos estão voltados para outro lugar; não o vemos e não reconhecemos sua presença apenas pela fé, porque ele está acima de nós e dentro de nós”.
Dizer que o ser humano é uma pessoa significa reconhecer que cada um de nós não é simplesmente uma natureza, mas sim "possui uma natureza", uma "distância interna" que sempre nos permite ir além da pura facticidade do que somos e, portanto, por exemplo, objetivar nossas próprias limitações. Entre outros, quem investigou o significado da consciência na vida do homem foi o Cardeal John Henry Newman, para quem uma espécie de "instinto do espírito" reina na consciência; nela está presente um âmbito escondido, um reino, no qual opera um "legislador supremo, um juiz santo, justo, poderoso, onisciente e recompensador". Quando me refiro a "antropologia do perdão", estou falando precisamente desse elemento estrutural do ser humano. O perdão é uma dessas formas de despertar da camada mais profunda da consciência humana; é a marca da pessoa, exatamente como a promessa, a capacidade de prometer: o perdão, dirá Spaemann, estabelece a independência da identidade em relação à sua submissão à facticidade e, por essa razão, "é um ato eminentemente criativo". A tarefa do homem é sempre um despertar.
Despertar para quê? Despertar significa descobrir realmente dentro de nós o que Agostinho, com suas famosas palavras "interior intimo meo et superior summo meo", sugere (Confissões, III, 6, 11). O perdão é o caminho que nos leva a essa descoberta, um caminho doloroso que nos coloca diante de uma encruzilhada, uma escolha, uma alternativa. Como Spaemann afirma, também no perdão o homem se depara com uma alternativa: a prisão dentro de si mesmo ou a Cruz: "Da prisão dentro de si mesmo, da curvatio in se ipsum, como expressa a tradição agostiniana, ele só pode sair pregando-se na cruz da realidade". O perdão sempre configura um novo começo e, poderíamos dizer, "uma nova criação". O cristianismo é, nesse sentido, realmente a religião que acredita que um novo começo é possível, a qualquer momento. Esse "novo começo, a qualquer momento" não diz respeito apenas à vida da Igreja ou à vida da sociedade em geral, ou à dinâmica histórica e às grandes instituições da civilização influenciadas há séculos pela revolução cristã, ou até mesmo nascidas dela, mas ainda mais e em primeiro lugar, à nossa vida mais pessoal. Um novo começo que a qualquer momento parece estar confiado a cada um de nós. No perdão, tanto aquele que perdoa quanto aquele que é perdoado pode redescobrir a si mesmo e vivenciar sua natureza mais íntima e verdadeira. É por isso que Tertuliano está certo ao afirmar que a alma é inerentemente cristã. E muitos séculos depois dos padres pré-nicenos, Bernardo de Claraval escreverá que o perdão e o arrependimento são a lei do sopro tanto da alma individual quanto da "grande alma da humanidade histórica". Recentemente, Riccardo Di Segni lembrou que o perdão "é essencial para a sobrevivência do mundo. O erro faz parte da natureza humana, e se existisse apenas justiça, não haveria sobrevivência para os seres humanos".
Certamente, o tema do perdão continua sendo um tema difícil de abordar quando se deseja realmente chegar ao âmago do fenômeno: ao "verdadeiro núcleo da ideia de perdão chegamos somente quando refletimos que, no homem, estamos lidando apenas com uma pessoa", como diz Guardini. O perdão, que sempre nos pega desprevenidos, apresenta-se como uma grande empreitada, uma decisão moral abrangente, uma "agonia" na qual toda a nossa pessoa está envolvida; perdoar, e até mesmo ser perdoados, nos leva realmente ao limite das nossas possibilidades. Ao mesmo tempo, o perdão está sempre exposto a um perigo: a sua banalização.
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