30 Dezembro 2025
"Sensibilidades diferentes, até mesmo contrastantes, são necessárias para distinguir e acolher aquela Novidade que, mesmo no mal, por fim consegue brotar", escreve Sergio Massironi, filósofo e padre italiano, em artigo publicado por L’Osservatore Romano, 12-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis artigo.
Estes são tempos difíceis para o cultivo do diálogo judaico-cristão, mas o estudo e a boa leitura podem fazer avançar e aprofundar a nova relação que a Nostra Aetate inaugurou há sessenta anos e que os eventos atuais, por vezes, colocam dolorosamente à prova. É o caso da rigorosa contribuição de Israel Knohl — La disputa messianica. Farisei, sadducei e la morte di Gesù (A disputa messiânica. Fariseus, saduceus e a morte de Jesus (Milão, Adelphi, 2025, 218 páginas, €22, tradução de Margherita Pepoli) — uma obra na qual um dos motivos mais absurdos de inimizade é reinterpretado sob uma perspectiva judaica, com serena lucidez e uma fascinante compreensão das fontes. Durante séculos, de fato, a acusação de ter matado o próprio Deus recaiu sobre o povo cuja eleição, como graça irreversível, o Novo Testamento confirma. Agora, graças a uma pesquisa histórica e a uma exegese científica mais livre para abordar criticamente os fatos, a história do judeu Jesus é iluminada como que por dentro, sugerindo novos entendimentos e novas questões. Knohl é mestre nessa abordagem, graças à linearidade de sua escrita e a uma espécie de estética da complexidade histórica que cativa o leitor com ambientes que, por um lado, são distantes — dois milênios se passaram — e, por outro, familiares, na medida em que a imaginação e as esperanças do povo bíblico alimentam em grande medida o sentimento contemporâneo. "Espero", escreve o autor, "que essa obra possa estimular um novo diálogo e ajudar a promover a compreensão, senão a cura, das relações entre judeus e cristãos."
Professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel Knohl desmantela estereótipos e preconceitos com sua narrativa envolvente, retratando um Jesus integrado em seu tempo e nas disputas internas de um judaísmo originalmente plural. Sua obra oferece uma grande lição sobre como as religiões monoteístas — ao contrário da forma como são frequentemente descritas e percebidas — são universos dinâmicos que não homogeneízam tudo, mas permitem que tensões e contradições pessoais e sociais emerjam, submetendo-as a um juízo que transcende a todos. Um juízo suspenso, deveríamos dizer, porque escapa à competência humana. O caso de Jesus, no máximo, revela a ladeira escorregadia pela qual desliza nosso desejo de fechar o círculo, eliminar a dissonância e padronizar os discursos. Por outro lado, a maneira singular do Nazareno de habitar circunstâncias específicas — sobre as quais a mensagem cristã fundamenta uma compreensão mais profunda de Deus — só se manifesta nos laços que ele estabeleceu com as pessoas, as palavras e as expectativas das quais Jerusalém é, até hoje, uma condensação material e espiritual.
"La disputa messianica: Farisei, sadducei e la morte di Gesù", de Israel Knohl (Adelphi, 2025)
Em particular, a disputa messiânica na qual Knohl contextualiza o destino histórico de Jesus restaura a devida importância a fariseus e saduceus, presenças reais nas narrativas dos Evangelhos e de outros escritos neotestamentários, mas que se tornaram praticamente desconhecidos — ou totalmente caricaturados — no pensamento cristão. Uma análise mais aprofundada revela que uma parcela significativa das diversidades que contrapunham os dois grupos comporta não poucas repercussões nas divergências de sensibilidades e de escolas que agitam o cristianismo (e talvez o islamismo) até os dias de hoje. Não se trata de generalizar, mas sim de captar a irredutibilidade do mistério como doutrina de escola e como recinto identitário: o que eliminou Jesus, com sua imparável consequencialidade, foi, em última análise, um acerto de contas — um entre muitos que têm figuras religiosas como protagonistas — no qual a verdade é diminuída e a vida humana é pisoteada em nome da afirmação (minoritária) de grupo. "O julgamento de Jesus foi, em última análise, um dramático embate entre essas duas abordagens ideológicas diferentes, enraizadas na Bíblia. (...) Em outras palavras, o julgamento de Jesus não foi um embate entre as doutrinas judaica e cristã, mas um conflito entre duas posições dentro do judaísmo, no qual Jesus e os fariseus se encontravam do mesmo lado." Essa percepção não visa os saduceus como grupo. Pelo contrário, ilumina e questiona a própria revelação e a resistência humana — especialmente das elites — de se medir com seu caráter polifônico, crítico e irredutível. Mata-se quem não tolera a presença alheia, com o mistério indisponível do qual é sinal. E ainda se continua a matar, de muitas maneiras, na terra que os cristãos professam redimida pela morte de Jesus.
Sensibilidades diferentes, até mesmo contrastantes, são necessárias para distinguir e acolher aquela Novidade que, mesmo no mal, por fim consegue brotar.
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