30 Dezembro 2025
"A genialidade de Palladio — expresso em sua obra de 71 capítulos, dos quais os primeiros 39 com viés autobiográfico — reside em cativar o leitor com relatos quase pitorescos de experiências extraordinárias, conduzindo-o aos caminhos elevados do misticismo genuíno e da própria teologia", escreve Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 14-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A obra que estamos prestes a apresentar poderia facilmente ser considerada um best-seller. No entanto, estamos no distante ano de 420: o texto grego em questão seria posteriormente traduzido para siríaco, copta, latim, armênio, georgiano, árabe e eslavo antigo. O autor era Paládio, que nessas páginas afirma ter 56 anos (tendo, portanto, nascido na Galácia por volta de 363-64), um personagem com uma biografia surpreendente. De fato — como resume Vincenzo Lombino, da Faculdade de Teologia de Palermo, que traduz e comenta meticulosamente o texto — ele foi primeiro advogado, depois monge e bispo.
Mas a marca de sua existência foi sua associação com os protagonistas derrotados do cristianismo daqueles anos.
Palladio, Storia Lausiaca, editado por Vincenzo Lombino, Città Nuova (Foto: divulgação)
Ele foi um discípulo fervoroso de Evágrio Pôntico (346-399) por nove anos. Seguidor proeminente do grande Orígenes, Paládio tornou-se uma referência por sua doutrina ascética, mas acabou sendo considerado herege postumamente pelo V Concílio Ecumênico em 553, após receber contundentes críticas de São Jerônimo, que era hostil a Orígenes, à sua teologia e exegese.
Tendo se tornado bispo em 400, primeiro de Helenópolis, na Bitínia, e depois de Aspúnia, sede de sua região natal, a Galácia, Paládio ligou-se posteriormente com o grande São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, que, no entanto, foi deposto e condenado a um duro exílio, onde morreu em meio a dificuldades. Paládio tentou interceder junto ao Papa Inocêncio V, mas, ao retornar de Roma, foi ele mesmo preso e exilado para Assuã e depois para Antinoé, no Egito.
Contudo, em 412, foi chamado de volta à sua terra natal e eleito bispo de Aspúnia, onde pôde escrever a obra que obteve estrondoso sucesso. A obra foi chamada de História Lausíaca, em homenagem ao seu destinatário, Lauso, um alto funcionário do imperador Teodósio II. O texto é narrativamente fascinante e é uma galeria de retratos de ascetas, homens e mulheres, com biografias frequentemente mirabolantes, "que vi e ouvi falar, com quem conversei no deserto do Egito, na Líbia, na Tebaida, em Siena (Assuã), na Mesopotâmia, na Palestina e na Síria, nas regiões ocidentais de Roma, na Campânia e nos arredores".
Paládio, que tinha vivido uma experiência monástica apaixonada e variegada, quer cativar o leitor, começando pelo contratante oficial, um leigo, o camareiro da corte Lauso, debruçando-se sobre um horizonte repleto de figuras hieráticas, mas também de personagens extravagantes. Encontramos uma humanidade que muitas vezes gosta de viver no limite da existência física, infringindo as leis da biologia, nos espaços solitários do deserto, em jejuns e vigílias, e em desafios extremos com o demônio, mas também com seus próprios corpos, como o eremita Doroteu que, como pedreiro, construía celas sob o sol implacável durante o dia e trançava palmeiras à noite para conseguir alimento, confessando sem hesitar que, se o corpo o tinha matado com suas exigências e tentações, "eu vou matar ele".
É esse exercício perturbador de agrypnia, a renúncia ao sono em vigílias extremas, como um certo Sisínio que viveu três anos em uma caverna sem nunca se sentar ou deitar. Ou, folheando aleatoriamente a coleção de figuras introduzidas no proscênio por Paládio, encontramos Isidoro, um famoso monge de Alexandria, no Egito, que "nunca vestiu uma roupa de linho, nunca tomou banho e nunca ganhou carne; e, no entanto, possuía um pequeno corpo tão bem formado pela caridade divina que se poderia supor que desfrutava a vida no bem-estar". Novamente, escolhendo entre dezenas de cenas, eis que "se apresentou como louca e possuída" uma freira chamada "a esponja do mosteiro", porque nunca se sentava à mesa com as outras irmãs, mas "recolhia as migalhas com a esponja para se alimentar e lavava as panelas, contentando-se com esses restos". As mulheres, além disso, são uma presença múltipla e original, como também se descobre no esboço feito pelo curador Lombino em sua introdução.
Nesses e em muitos outros exercícios ascéticos, o objetivo almejado era aquela apátheia, ou seja, a ausência de paixões, alcançando assim uma catarse interior radical, permitindo que irrompesse o espírito de Deus. Deve-se enfatizar, contudo, que Palladio se distancia de práticas ascéticas insensatas, por vezes percebendo nelas uma forma sutil de soberba e vaidade. É por isso que ele também exalta o empenho com a caridade: sugerimos a leitura do capítulo 21, que apresenta Eulógio, um intelectual que se dedicou aos pobres, chegando a acolher um mendigo sem braços nem pernas, cuidando dele por 15 anos, apesar de não receber nenhum agradecimento, pelo contrário, apenas reações brutais do infeliz.
Outra dimensão positiva a ser descoberta em muitos dos personagens dessa representação sagrada do ascetismo cristão é a espiritualidade contemplativa. Não nos esqueçamos, de fato, que o significado primordial do termo grego áskesis é "exercício", semelhante ao de um atleta ou da dançarina: eles alcançam uma espontaneidade e agilidade criativa, mesmo delineando arabescos físicos que desafiam até mesmo as leis da natureza. Esse resultado de liberdade e transfiguração é conquistado, precisamente, por meio de um "exercício" longo, intenso e incessante. O mesmo se aplica à vida espiritual, e é sob essa perspectiva que alguns mestres elaboram uma espécie de programa que inclui diferentes graus e etapas para navegar na atmosfera pura do espírito. O objetivo também é alcançado por meio da meditação insone da Bíblia, palavra de Deus, e a oração. Como escreve o curador, "a História Lausíaca se apresenta não apenas como uma história de monges, mas também como um manual de teologia ascética elaborado por meio de imagens". A genialidade de Palladio — expresso em sua obra de 71 capítulos, dos quais os primeiros 39 com viés autobiográfico — reside em cativar o leitor com relatos quase pitorescos de experiências extraordinárias, conduzindo-o aos caminhos elevados do misticismo genuíno e da própria teologia.
Referência
Palladio, Storia Lausiaca, editado por Vincenzo Lombino, Città Nuova, 268 páginas, €28.