07 Setembro 2024
"Em sua carta, a definição de doação de Madre Teresa é tão simples quanto o ensinamento de Jesus: um presente dado a partir da abundância não tem o mesmo significado que um presente com sacrifício", escreve Joel Rothschild, historiador e curador da Rothschild Foundation & Archives, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 05-09-2024.
Em uma carta datada de 11-05-1991, de Madre Teresa ao professor Thomas Farrell, presidente do departamento de humanidades da Johnson & Wales University, ela descreve um contraste marcante entre doar a partir da abundância de alguém e o carisma, que beneficia a humanidade. Farrell propôs ajudar a causa das Missionárias da Caridade escrevendo e publicando um artigo sobre o trabalho delas, o que traria publicidade para Madre Teresa. Ela nunca buscou publicidade e gentilmente recusou sua oferta, o que pode ter parecido uma rejeição para o professor.
No entanto, sua carta não foi uma rejeição; foi mais significativa, revelando seu mais profundo compromisso com o serviço e nos proporcionando sua pura definição de doação, apesar de ser rica ou pobre. A carta nos oferece uma lição essencial sobre bondade e caridade. Ela descreve perfeitamente a luz do Espírito Santo que a guiou por 87 anos, um espírito que a morte não pode diminuir.
A carta de Madre Teresa reconhece que, embora a intenção de Farrell de ajudar fosse boa, ela não estava alinhada com sua definição de doar com carisma — um termo grego que significa um presente dado livremente, graciosamente e sem expectativa. O carisma encarna o conceito de doação e sacrifício altruístas. É uma missão compartilhada dentro de uma comunidade dedicada a servir ao bem maior. Na Igreja Católica, refere-se a um dom ou graça concedido pelo Espírito Santo para edificar a comunidade da igreja.
Ela explica nesta carta seu conceito de generosidade, que é puro e altruísta. Ela descreve o contraste marcante entre dar com carisma e doar a partir da abundância de alguém, sublinhando que doar do excedente não tem o mesmo significado, pois não impõe um custo tangível ao doador, sendo semelhante a uma mera dedução fiscal.
Após recusar sua proposta, ela oferece sua definição de ajudar:
Nós [as Missionárias da Caridade] e [os] pobres dependemos completamente da Divina Providência, que nos chega através do compartilhamento espontâneo dos ricos e dos pobres. Se você quer ajudar, compartilhe algo de si mesmo — não da sua abundância — mas até que doa. Dê o que lhe custa — faça um sacrifício — fique sem algo que gosta, para que possa compartilhar o que economizou com aqueles que não têm nem o que precisam.
Essa compreensão profunda de bondade e ajuda é uma lição que continua a inspirar as pessoas hoje.
Uma carta datada de 11 de maio de 1991, de Madre Teresa ao professor Thomas Farrell (Foto: Arquivo de Joel Rothschild)
A explicação de Madre Teresa sobre doação em sua carta nos lembra a parábola bíblica de Marcos 12,41-44, onde Jesus estava no templo com os discípulos e testemunhou algo que ele usou para ensinar os discípulos sobre doação. Ele se sentou em frente ao tesouro do templo e observou muitas pessoas ricas colocarem grandes quantias de dinheiro. Então, uma pobre viúva chegou e colocou duas pequenas moedas. Jesus ensinou aos discípulos que a viúva deu mais do que os ricos. Os ricos tinham muito dinheiro sobrando e só ofereceram a Deus trocados, dinheiro do qual não dependiam. A carta de Madre Teresa, no contexto de sua vida, exemplifica o ensinamento de Jesus aos discípulos.
Recentemente, encontrei um artigo sobre doações de caridade feitas por um empresário da tecnologia que capturou a atenção do público. Ao longo de vários anos, ele doou 500 milhões de dólares para sua fundação, ganhando imensos elogios e estabelecendo-se como uma figura de generosidade e filantropia, quase alcançando um status de semissanto. Enquanto suas contribuições foram amplamente celebradas, senti-me compelido a refletir sobre Marcos 12,41-44 e considerar sua vasta riqueza.
Apesar da adoração generalizada, fui impactado pela noção de que ele poderia fazer muito mais; dada sua imensa fortuna, sua doação de 500 milhões de dólares constituía apenas 0,25% de sua fortuna de quase 200 bilhões de dólares. Matematicamente, isso era equivalente a alguém com um milhão de dólares doar apenas 2.500 dólares. A escala de sua riqueza reflete uma modéstia proporcional em sua doação. Essa perspectiva revelou as complexidades da filantropia e questiona se a contribuição desse bilionário significa sacrifício.
A parábola bíblica de Marcos 12,41-44 e os ensinamentos de Madre Teresa ressoam aqui, enfatizando que a doação fiel envolve sacrifício — um sentimento aparentemente ausente nas doações desse empresário. Embora alguns possam considerar minha postura como excessivamente crítica em relação à generosidade, essas reflexões encorajaram uma consideração ainda mais ampla sobre o que significa doar. Se uma doação proporciona um benefício considerável de relações públicas ao doador e não envolve sacrifício real, é mais uma compra estratégica do que um ato de verdadeira caridade?
Esse pensamento nos convida a refletir sobre a natureza da doação e a buscar contribuições que realmente nos custem, incorporando o espírito de altruísmo mostrado por Madre Teresa e as Missionárias da Caridade. Sua doação altruísta é um exemplo divino de carisma que destaca um modelo de caridade que enfatiza não apenas o ato de doar, mas a intenção e o sacrifício por trás disso, incentivando todos os que são capazes a contribuir de maneira genuína e significativa.
Em sua carta, a definição de doação de Madre Teresa é tão simples quanto o ensinamento de Jesus: um presente dado a partir da abundância não tem o mesmo significado que um presente com sacrifício. Há uma disparidade espiritual entre ajudar com dons da abundância e o ethos de genuíno sacrifício de Madre Teresa e suas irmãs. Madre Teresa e as Missionárias da Caridade exemplificam uma contribuição pura e altruísta para a fraternidade humana, que é uma incumbência de todos nós que acumulamos algo a oferecer.
Madre Teresa conclui sua carta com uma oração para o professor:
Rezo por você para que se concentre cada vez mais em angariar fundos de amor e compaixão, e assim não veja ninguém ao seu redor sentir-se indesejado e não amado. Seja as mãos de Deus para servir os pobres em seu tempo livre e seja seu coração para amar os mais pobres dos pobres o tempo todo.
Olhando para toda a sua vida, só podemos concluir que a oração e a definição de caridade contidas na carta são um chamado para todos, ricos ou pobres, fazerem mais para servir aos pobres e menos afortunados ao nosso redor. Quando perguntada sobre a possibilidade de se tornar santa, ela articulou seu espírito mais uma vez e respondeu: "Se algum dia me tornar Santa — certamente serei uma de 'escuridão'. Estarei continuamente ausente do Céu — para iluminar a luz daqueles que estão nas trevas na terra."
Os escritos de Madre Teresa revelam lições essenciais para a humanidade muito depois de sua morte. Somos abençoados pelo fato de ela ter tirado alguns momentos para escrever alguns de seus pensamentos mais cruciais durante seus 87 anos. Hoje, os trabalhos das Missionárias da Caridade de Madre Teresa estão presentes em todo o mundo, inclusive na ex-União Soviética e nos países da Europa Oriental. Elas ajudam efetivamente os mais pobres dos pobres em vários países da Ásia, África e América Latina, e realizam trabalhos de ajuda em decorrência de catástrofes naturais, como inundações, epidemias e fome. A ordem também possui casas na América do Norte, Europa e Austrália, onde cuidam dos necessitados, incluindo idosos, alcoólatras, pessoas em situação de rua e pessoas com AIDS.
Nos próximos anos, outros curadores e historiadores encontrarão mais escritos da jovem Agnes Gonxha Bojaxhiu, que se tornou Santa Teresa de Calcutá; este escritor espera que suas palavras sejam compartilhadas livremente em todo o mundo para que continuem oferecendo esperança e encorajamento.
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Uma carta de Madre Teresa explica sua definição de caridade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU