A Igreja Católica tem medo das mulheres? Artigo de José Luis Ferrando

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09 Dezembro 2025

  • Não é preciso ler o relatório recente da segunda comissão de estudos sobre o diaconato feminino para concluir que a Igreja Católica tem um medo fundamental das mulheres.

  • Muitas vezes me pergunto se os exegetas e teólogos de outras denominações cristãs que interpretam os textos bíblicos de maneira diferente, admitindo o diaconato, o sacerdócio e o episcopado para mulheres, estão tão errados assim? Será que temos o monopólio disso?

  • Uma interpretação correta da Bíblia, da Tradição e uma Antropologia sólida deveriam nos levar à conclusão de que a Igreja, no que diz respeito ao diaconato feminino, está perdendo uma oportunidade perigosa.

O artigo é de José Luis Ferrando, teólogo, filósofo e escritor espanhol, publicado por Religión Digital, 06-12-2025.

Eis o artigo.

Não é preciso ler o recente relatório da segunda comissão de estudos sobre o diaconato feminino para concluir que a Igreja Católica tem um medo fundamental das mulheres. Os motivos são muitos e variados. No fundo, eles temem que as mulheres lhes ensinem uma coisa ou duas. Vou me concentrar em um motivo bem prosaico. Anos atrás, uma boa amiga que ocupava um cargo importante na Igreja, o que lhe permitia ter um relacionamento próximo com bispos e padres, me disse o seguinte: "Dá para perceber quem tem freiras. Elas sabiam como tratar as mulheres." Sem dúvida, existe muita misoginia, apesar dos esforços que alguns bispos e padres fazem para integrar as mulheres em todos os aspectos da vida da Igreja. E essa misoginia inerente precisa ser combatida a partir do seminário. Embora as mulheres sejam cada vez mais numerosas nas faculdades de teologia e muitas vezes ensinem aos seminaristas lições de responsabilidade e seriedade em seus estudos, eles sabem que, ao final da formação, o ministério ordenado do diaconato e do sacerdócio está, por ora, fora de seu alcance.

Muitas vezes me pergunto se os exegetas e teólogos de outras denominações cristãs que interpretam os textos bíblicos de maneira diferente, admitindo o diaconato, o sacerdócio e o episcopado para mulheres, estão tão errados assim? Será que temos o monopólio disso? Claramente, para a Igreja Católica, sim, mas não na interpretação dos textos, da Tradição ou do Espírito Santo, embora alguns prelados pareçam ter engolido essa ideia sem questionar.

Em todo caso, parece que dos dez membros da segunda Comissão, cinco negam a possibilidade do diaconato feminino e cinco o aceitam. Um empate promissor, mas insuficiente. Os dados bíblicos, desde a primeira página da Bíblia, são bastante claros: entre o homem e a mulher existe igualdade total e absoluta; qualquer discriminação decorre das coordenadas culturais da época em questão, que uma hermenêutica sólida deveria expor. A tradição e as tradições devem ser contextualizadas, não absolutizadas. Por quantos séculos escondemos a Eucaristia, sacramento necessário à vida cristã, envolta em uma linguagem incompreensível e uma liturgia sombria? O Espírito Santo soprou maravilhosamente ao longo dos séculos, abrindo caminhos novos e promissores. A história da Igreja e de muitos fundadores de ordens religiosas está repleta disso, mas quanto sofrimento eclesial eles tiveram que suportar! E quanto aos teólogos que, de certa forma, conduziram ao Concílio Vaticano II, perseguidos e ameaçados pela própria Igreja? Simplesmente porque estavam atentos aos sinais dos tempos.

Uma interpretação correta da Bíblia, da Tradição e uma antropologia sólida deveriam nos levar à conclusão de que a Igreja está perdendo uma oportunidade perigosa em relação ao diaconato feminino. As mulheres são maioria na Igreja e têm uma posição firme. A Igreja Católica merece uma forte rebelião feminina para reivindicar muitas coisas. A sociedade, que percebe a Igreja como cada vez mais defensiva nessas questões, recusa-se a ouvir seus discursos, pois os fatos contradizem suas palavras e boas intenções. Nessa área, e de modo geral em relação à sexualidade, ela não é confiável. E o mesmo se aplica à pedofilia.

A história dos ministérios demonstra sua ligação direta com a masculinidade, visto que esta tem sido dominante em sua origem e desenvolvimento. Não nos esqueçamos de que os famosos apóstolos homens estavam ausentes no momento da crucificação de Jesus, e apenas algumas mulheres tiveram a coragem de estar presentes. E que a primeira testemunha da Ressurreição foi uma mulher. Optamos por não tirar conclusões disso…

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