Quem paga a conta do capitalismo da solidão? Entrevista com Paul Klotz

Foto: Misako Style | Wikimédia Commons

09 Dezembro 2025

O jornal francês Le Figaro entrevista Paul Klotz, autor de um relatório publicado pela Fundação Jean-Jaurès que expõe como as grandes empresas de tecnologia estão lucrando com a epidemia do nosso século. Às custas do Estado.

A reportagem é de Ronan Planchon, publicada por La Repubblica, 08-12-2025.

Existem estudos cujas conclusões oferecem esperança, e depois existem "os outros". Entre estes, Paul Klotz, advogado e economista formado pelo Sciences Po Paris, destaca um: segundo a Fundação da França, até 2025, 12% dos franceses com mais de 15 anos, especialmente jovens e pessoas com renda modesta, viverão em situação de isolamento objetivo. Em outras palavras, seu contato físico com outras pessoas será inexistente ou quase inexistente. Esse número é ainda mais preocupante porque está crescendo: em 2010, "apenas 9% das pessoas estavam isoladas".

Eis a entrevista.

Será a solidão um dos grandes males do nosso século? Será ela realmente um fenômeno contemporâneo?

Não, não é um fenômeno novo. A solidão é tão antiga quanto a própria humanidade. Por muito tempo, foi até valorizada: basta pensar nos ensinamentos bíblicos ou na filosofia estoica, que associam esse estado interior ao autocontrole, à espiritualidade e a uma rica vida interior. A diferença hoje é que ela assume os contornos de um "fato social total", como explico em minha nota: 12% dos franceses vivem em isolamento objetivo, ou seja, não veem ninguém. Quanto à solidão subjetiva, o sentimento de solidão nunca foi tão forte em um segmento da população: 40% das pessoas com menos de 25 anos dizem senti-la.

Outro fator me leva a considerar a solidão como um elemento da nossa "nova condição social": na França, quanto mais pobre você for, maior a probabilidade de estar sozinho. 49% das pessoas na faixa de renda mais baixa afirmam ter se sentido sozinhas nos últimos sete dias, em comparação com apenas 15% daquelas na faixa de renda mais alta. E essa mesma solidão alimenta a insegurança: estudos mostram que, quando se está isolado, é mais difícil acessar emprego, direitos e obter sucesso acadêmico. A solidão é, portanto, um ciclo vicioso que acentua as desigualdades.

Como o colapso de grandes estruturas tradicionais alimentou esse fenômeno?

O colapso de estruturas em larga escala e narrativas coletivas é uma das duas principais hipóteses que apresento para explicar a epidemia de solidão, juntamente com o desenvolvimento do capitalismo digital. Não estou inventando nada: a sociedade está se tornando "arquipelagoizada", estruturada em torno de comunidades mais polarizadas e desprovidas de narrativas compartilhadas.

Na década de 1960, havia 200 mil bistrôs na França; hoje, restam 40 mil. Todos esses lugares de coesão, esvaziados pela modernidade, foram substituídos por uma cultura neoliberal onipresente. Basta observar o consumo ou o trabalho: comprar e vender agora se baseiam em avaliações por estrelas, e o reconhecimento de habilidades foi substituído por indicadores de desempenho organizacional! Quanto às causas da disseminação dessa cultura de rivalidade, elas devem ser buscadas na dinâmica do nosso sistema econômico, que incentiva a competição social e a constante narrativa — basta dar uma olhada no LinkedIn.

Será que a 'domiciliação' do consumo, do entretenimento e agora do trabalho piorou tudo isso?

Claro! Deixando o trabalho de lado por um momento, a 'domiciliação' do consumo e do entretenimento é uma das grandes forças das plataformas e da economia da atenção, típica do capitalismo digital. Por razões de conforto imediato, torna-se preferível realizar uma enorme quantidade de atividades trancado em um quarto ou atrás da tela de um celular.

Pesquisas sobre o uso do tempo mostram que, apesar de termos ganhado um tempo livre significativo graças à automação residencial e à redução da jornada de trabalho, não o utilizamos mais para trabalhos manuais, jardinagem, culinária ou mesmo para tomar banho. Nosso tempo de sono diminuiu em uma hora e meia por noite nos últimos 50 anos. Tudo isso em favor do tempo gasto em frente às telas.

Mas não creio que devamos atribuir responsabilidade excessiva aos indivíduos: para incentivar as pessoas a saírem e criarem relacionamentos reais, precisamos primeiro combater os agentes que fomentam o vício em telas, os serviços digitais supérfluos que impulsionam o consumo e geram ansiedade. O que precisamos, antes de tudo, é de uma política cultural, uma política de soberania!

Em seu livro A Civilização do Casulo, Vincent Coquebert argumenta que hoje existe uma tendência ao retraimento, mascarada por uma aura positiva de vida sedentária "descolada", como sugere a expressão "Netflix and Chill". Será que essa tendência de solidão escolhida reforça a que vivenciamos?

Acho que essa tendência acabou. É natural que tenha sido empolgante no início: os novos serviços ofereciam formas de entretenimento sem precedentes. Mas estamos regredindo: quando converso com as pessoas sobre plataformas de streaming, muitas as descrevem, antes de tudo, como uma fonte de consumo excessivo. Uma pesquisa do think tank Destin Commun, realizada em 2024, apontou que metade dos franceses gostaria de viver em um mundo onde as redes sociais nunca tivessem sido inventadas.

Se ainda resta algum vestígio desse "estilo de vida sedentário e tranquilo", parece-me mais uma consequência da evolução dos nossos estilos de vida — muito mais domésticos, incluindo o teletrabalho — do que uma causa da solidão. A menos que derive de uma escolha filosófica ou espiritual, a solidão é percebida como sofrimento na grande maioria dos casos.

Você denuncia um verdadeiro negócio da solidão. Como o capitalismo digital lucra com isso?

É muito simples. O que as grandes plataformas vendem naturalmente? Atenção. E como manter essa atenção pelo maior tempo possível? Organizando a solidão. Quanto mais isoladas as pessoas estiverem, mais disponíveis se tornarão para serviços que afirmam preencher esse vazio. Uber Eats e Deliveroo bombardeiam os usuários com notificações para que optem por pedir comida em vez de compartilhar uma refeição; Instagram e TikTok exploram a necessidade de comparação social para que as pessoas deslizem pelos perfis em vez de conhecerem pessoas reais. Essas experiências geram frustração — aplicativos de namoro como o Tinder são o exemplo perfeito — o que alimenta novos usos e aumenta os lucros.

E vou além: esses ganhos privados são financiados indiretamente por recursos públicos. As plataformas colhem os benefícios ao organizar a solidão, enquanto o Estado e os sistemas de bem-estar social pagam o preço. Um estudo holandês mostra que a solidão aumenta os gastos públicos com saúde mental em 10%; aplicado à França, essa estimativa equivale a pelo menos 2,7 bilhões de euros por ano.

Paradoxalmente, será que as redes sociais e os aplicativos de namoro, ao colocarem nosso vizinho contra um completo estranho do outro lado do mundo, reforçam nossa solidão? Será que aumentaram nossas expectativas em relação aos outros?

Sim, esse é o princípio da solidão subjetiva. O sofrimento associado à sensação de solidão não depende do número real de relacionamentos. Funciona por meio da comparação. Parafraseando o pesquisador Sébastien Dupont, a solidão é como dinheiro: mesmo sendo rico, você pode se sentir pobre quando cercado por pessoas mais ricas. As redes sociais produzem exatamente esse efeito, exibindo diariamente perfis "hipersociais" que parecem ter sucesso em tudo. É a própria essência do conceito de influenciador.

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