PL da Devastação é ‘ataque direto’ aos povos indígenas, denuncia escritor Djagwa Tukumbó

Foto: Greenpeace/Flickr

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05 Dezembro 2025

Autor lança livro bilíngue e critica retrocessos ambientais, apagamento histórico e limitações da política indigenista.

A reportagem é de Adele Robichez e Lucas Salum, publicada por Brasil de Fato, 04-12-2025.

O escritor e ativista indígena Djagwa Tukumbó vê no Projeto de Lei (PL) da Devastação um “ataque direto” aos povos originários e ao meio ambiente. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, ele afirmou que a flexibilização do licenciamento ambiental expressa interesses políticos e econômicos distantes das preocupações climáticas e comunitárias. “A grande mão que coordena tudo isso, na verdade, tem um nome: políticos”, disse. Para ele, mesmo terras demarcadas continuam vulneráveis sem o acompanhamento e a presença do Estado. “Demarcar terra e não acompanhar é a mesma coisa que não demarcar”, criticou.

Ao comentar 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) e a derrubada dos vetos presidenciais ao PL no mesmo período, Tukumbó criticou a ausência de lideranças indígenas nos espaços de decisão. “Nós não tivemos, com voz ativa, nenhuma liderança sentada nas mesas de negociação”, apontou. Ele também avalia que a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, ainda enfrenta limites na sua atuação. “Vemos uma pessoa que está ali, mas de mãos atadas. Ela não tem um poder forte de negociação”, avaliou.

Djagwa apresentou também seu novo livro, As aventuras de Karai Tukumbó – o espírito das águas, uma obra bilíngue em português e guarani que aborda saberes ancestrais, proteção ambiental e impactos do garimpo. A escolha de escrever nos dois idiomas, explica, busca fortalecer o pertencimento cultural. “Você pode traduzir a ideia, mas não tem como traduzir literalmente. Foi a minha preocupação em escrever em português e em guarani, para despertar o aprendizado desse idioma”, contou.

O escritor defendeu a ampliação do uso de línguas indígenas no cotidiano, na educação e em políticas públicas, citando exemplos como Paraguai e Bolívia. “Quando você volta às suas raízes, isso deixa mais digno saber da sua ancestralidade. O idioma é uma forma de resgatar isso”, indicou. Ele também destacou como diversas expressões e costumes brasileiros, do chimarrão à expressão “tchê”, derivam do guarani, embora muitas vezes sejam apropriados sem reconhecimento de origem. “Seria legal contar isso para as gerações que estão vindo. O problema não é usar essas referências, problema é o apagamento histórico”, pontuou.

Durante a conversa, Tukumbó leu um trecho da obra em guarani, no qual ele diz que “haverá uma conscientização coletiva, e as pessoas irão se agrupar em torno de uma só causa: a floresta e a preservação da vida e do planeta”. Em seguida, comentou a potência do registro escrito como uma forma de resistência. Ele conta que a escrita tem inspirado jovens indígenas, embora parte das lideranças mais antigas ainda prefira manter alguns conhecimentos apenas na oralidade. “Vimos que podemos alcançar um número maior de pessoas e atravessar fronteiras”, afirmou.

O autor anunciou que está escrevendo um novo livro, A invasão da floresta, sobre apropriação cultural e territorial.

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