A geopolítica das negociações climáticas. Artigo de Alejandra López Carbajal

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

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02 Dezembro 2025

A cúpula de Belém talvez tenha sido o reflexo mais preciso do momento político que estamos vivendo: turbulento, com deficiências e resistência.

O artigo é de Alejandra López Carbajal, diretora de Diplomacia Climática da Transforma, publicada por El País, 02-12-2025.

Eis o artigo. 

Os países do chamado Norte Global chegaram às negociações de bolsos vazios. Sob o pretexto de terem adotado, há um ano, uma meta de financiamento climático para mobilizar 300 mil milhões de dólares e de terem apresentado em Belém uma longa lista de possíveis mecanismos para atingir até 1,3 biliões de dólares na próxima década, encerraram, na prática, as discussões sobre cooperação internacional. Iludidos por grandes números que nada têm a ver com a realidade — visto que, no último ano, o orçamento para a cooperação internacional, incluindo a ajuda climática, só foi reduzido para aumentar os orçamentos militares —, resistiram à adoção de uma meta de financiamento robusta para a adaptação, acabando por adotar uma linguagem ambígua que mal insinua qualquer possibilidade de apoio aos mais vulneráveis.

Essa retirada do Norte Global é um sintoma de como as taxas de crescimento econômico e populacional desses países são insignificantes em comparação com as projeções das economias emergentes, o que se enraizou em regimes cada vez mais conservadores e, consequentemente, na ausência de liderança internacional, evidente nesta COP30.

Essa lacuna de liderança precisa ser preenchida por outros atores.

A COP30 foi um campo de batalha político para o Brasil nessa luta, e o país fez tudo ao seu alcance para sustentá-la. O governo brasileiro não só se aventurou a lançar um dos maiores fundos climáticos já criados para a conservação de florestas, o chamado Fundo Florestas Tropicais Para Sempre, como também conseguiu incutir em nossa consciência coletiva o conceito de mutirão, aquele esforço coletivo que é a marca registrada da principal decisão da COP30, convocando toda a humanidade a enfrentar as mudanças climáticas. Isso sempre foi acompanhado pela liderança de Lula e Marina Silva, que pressionaram pela adoção de um plano para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, o qual, após uma oposição inicial inabalável, foi abraçado como um esforço voluntário pela Presidência da COP30.

No entanto, o Brasil encontrou seus inimigos mais ferozes entre seus amigos mais próximos: os BRICS, um conjunto de economias emergentes fortemente dependentes da indústria de combustíveis fósseis, frequentemente apoiadas por autocracias que não fazem nenhuma tentativa de disfarçar como seus interesses econômicos são os únicos motivadores de suas decisões políticas. Em Belém, eles manipularam diversas sessões de negociação — por exemplo, em relação aos indicadores da Meta Global de Adaptação — e impediram qualquer menção, direta ou indireta, às exportações de combustíveis fósseis.

Mesmo a China, principal impulsionadora tecnológica da atual transição climática, ainda não assumiu a liderança política no cenário internacional, apesar de 60% de sua economia ser atualmente movida por energias renováveis ​​e veículos elétricos.

A luz na escuridão veio de cantos inesperados. A Aliança dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (AOSIS) – que não tem voz nem voto em outros fóruns multilaterais como o G20 ou o BRICS – continua sendo a bússola moral do regime climático e liderou e venceu a batalha para manter viva a possibilidade de não ultrapassar o limite de 1,5°C, sendo quem colocou em pauta que o mutirão existe apenas para fortalecer todos os esforços para evitar os impactos climáticos mais catastróficos.

A América Latina também fez ouvir a sua voz a partir do seu coração indígena e amazônico e reivindicou o seu próprio espaço no cenário internacional. A Colômbia lançou a Declaração de Belém contra os combustíveis fósseis, protestando contra a ausência de qualquer menção real a esta questão no resultado final da COP30; o Panamá lutou até ao fim por um roteiro para travar e reverter o desmatamento; e o México liderou um dos poucos resultados substanciais da COP com a adoção de um Mecanismo de Transição Justa para as pessoas, para os trabalhadores e para as comunidades.

Nessas mudanças geopolíticas, o futuro das COPs não pode mais ser medido por uma única decisão ou menção à eliminação gradual dos combustíveis fósseis, mas sim pela capacidade de prestar contas dos compromissos assumidos: aqueles relativos à redução de emissões comuns a todos os países do mundo e aqueles relativos ao financiamento climático por parte dos países desenvolvidos. Apesar da dificuldade em adotar o resultado final, a COP30 inaugura uma nova era de implementação climática que devemos continuar a promover, no espírito do mutirão.

E para aqueles que pensam que podem se esconder atrás de portas fechadas, negociando decisões insuficientes, sejam eles petroestados, corporações de combustíveis fósseis ou países industrializados que ignoram seus compromissos de cooperação internacional, os processos judiciais virão em virtude do parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça, que é inequívoco quanto às suas responsabilidades legais.

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