Igreja indiana cria pastoral da saúde mental para apoiar padres e freiras

Foto: Reiley Costa/Unsplash

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02 Dezembro 2025

A Igreja Católica na Índia criou uma pastoral exclusiva para a saúde mental em meio a relatos crescentes de suicídio e depressão entre padres e freiras no país.

A reportagem é de Thomas Scaria, publicada por Global Sisters Report, 01-12-2025.

"Infelizmente, até recentemente, a pastoral da cura da Igreja estava centrada na saúde física. Havíamos convenientemente esquecido o bem-estar mental dos nossos próprios trabalhadores", disse a Irmã Joan Chunkapura, missionária médica e secretária nacional da Associação de Agentes Católicos da Saúde Mental, formada sob a Conferência Episcopal Católica da Índia.

Pelo menos 25 freiras e 13 padres com idades entre 30 e 50 anos morreram por suicídio nas últimas duas décadas devido à depressão, outros problemas de saúde mental ou exploração sexual, o que sugere uma crise crescente, explicou a freira de 75 anos que desempenhou um papel fundamental no estabelecimento da rede nacional de profissionais de saúde mental.

Ela reconheceu que a igreja indiana tem um número suficiente de profissionais de saúde mental. "Em vez de trabalharmos isoladamente, precisávamos de um esforço coordenado e de uma rede mais ampla", disse Chunkapura ao Global Sisters Report.

A associação organizou um congresso nacional nos dias 10 e 11 de outubro como parte das comemorações do Dia Mundial da Saúde Mental em Changanacherry, uma cidade no estado de Kerala, no sudoeste da Índia.

Mais de 200 profissionais católicos da área da saúde mental, em sua maioria freiras e padres, juntamente com vários bispos, participaram do evento, que buscou maneiras de integrar componentes de bem-estar em todas as áreas da Igreja, incluindo a formação religiosa.

Ao discursar no congresso, o presidente da associação, D. Thomas Tharayil, bispo de Changanacherry, disse: "Nossas paróquias devem integrar a saúde mental e o bem-estar em todos os seus ministérios pastorais, se quisermos construir uma igreja vibrante e cheia de esperança."

O arcebispo enfatizou que a saúde mental e a saúde espiritual são inseparáveis. "Mas não são a mesma coisa, são duas entidades diferentes que levam ao bem-estar mental integral", disse ele.

Dom Lumen Monteiro, presidente do Setor Episcopal para a Saúde, também reconheceu a necessidade de integrar a saúde mental e o bem-estar à pastoral da cura.

"Não estamos aqui para tratar, mas para acompanhar as pessoas como um bom pastor", disse Monteiro, acrescentando: "Empatia e compaixão são os melhores remédios para qualquer doença, e a verdadeira cura começa com o bem-estar mental."

A Igreja Católica na Índia possui mais de 3.500 instituições de saúde, sendo que pelo menos 80% delas estão localizadas em áreas rurais.

Dom Alex Vadakumthala, bispo de Kannur, ex-secretário executivo da comissão episcopal para a saúde, afirmou que o novo ministério da saúde mental deve colaborar com a rede de saúde existente para integrar o bem-estar mental aos serviços de cura da Igreja.

Chunkapura afirmou que o Instituto Nacional de Bem-estar Santa Dimpna, um centro terapêutico para religiosas em Bengaluru, no sul da Índia, é uma iniciativa da associação para a formação de freiras.

A Irmã Jessie D'Souza, psicóloga e formadora da Ordem das Adoradoras do Sangue de Cristo, afirmou ter palestrado para mais de 270 freiras em três grupos, entre setembro e outubro, no Instituto Dymphna, que leva o nome da santa irlandesa e padroeira das doenças mentais.

D'Souza, diretora assistente do instituto, afirmou que este realiza aconselhamento pessoal utilizando técnicas como arteterapia, análise transnacional, terapia cognitivo-comportamental e integração psicoespiritual.

"Não apenas as capacitamos com uma compreensão básica de saúde mental e habilidades de aconselhamento, mas também curamos seus problemas de saúde mental", disse D'Souza, que observou transtornos de estresse pós-traumático, depressão e problemas relacionados à ansiedade em várias freiras.

A religiosa ministrou oficinas de saúde mental para membros das Irmãs Carmelitas de Santa Teresa, São José de Tarbes, Adoras do Sangue de Cristo, Carmelo Apostólico e da Congregação das Irmãs de São José.

"Não discriminamos ninguém dentro de um grupo, mas lidamos com todos coletivamente no treinamento e individualmente na terapia."

A Irmã Baptistina Sally John, psiquiatra e gestora da Treasure, uma rede de saúde mental para religiosas em Wardha, no estado de Maharashtra, oeste da Índia, também frequenta aulas no Instituto Dymphna.

"É uma boa iniciativa para mulheres como eu estarmos sob uma organização maior", disse ela à Global Sisters Report.

Na conferência nacional, John conduziu uma sessão sobre saúde mental e apoio comunitário na vida religiosa. Ela observou que pelo menos 10% das mais de 100 mil freiras da Índia têm problemas de saúde mental, mas o estigma social as impede de buscar ajuda.

"Para elas, a doença mental é resultado de uma falha espiritual ou moral, e buscar ajuda era entendido como um sinal de fraqueza. Portanto, é nosso dever estender a mão a eles", acrescentou John.

A Irmã Rani Augustine, psicóloga e diretora nacional de programas de extensão do Instituto Dymphna, da Ordem das Irmãs Missionárias de Ajmer, realizou treinamentos em saúde mental e sessões de terapia para mais de 300 freiras, especialmente aquelas que trabalham no ministério da educação.

Augustine, que é professora, diretora e vice-diretora do Colégio Sophia em Ajmer, no estado de Rajasthan, no noroeste da Índia, disse que a maioria das freiras que administram escolas ou faculdades enfrenta diversas ameaças de grupos religiosos extremistas. "Muitas irmãs estão mentalmente afetadas", explicou.

Observando que as crianças também enfrentam estresse devido às rápidas mudanças nos sistemas familiares, pais infelizes e mídias sociais, Augustine disse que as freiras professoras às vezes também atuam como conselheiras. "Mas antes de recorrermos aos serviços de saúde mental para ajudar os outros, precisamos colocar a nossa própria casa em ordem", disse ela.

Tharayil elogiou os serviços do Instituto Dymphna, mas enfatizou a necessidade de um centro semelhante para padres e irmãos religiosos que servem à Igreja. Nos últimos anos, Kerala testemunhou seis casos de suicídio de jovens sacerdotes devido a problemas de saúde mental.

"Um padre ouve os problemas de todos, mas não tem ninguém que o ouça", disse o padre Shinto Mathew, presidente da Associação de Agentes Católicos da Saúde Mental na Índia.

Um membro da Ordem dos Carmelitas Descalços falou que a Pastoral da Saúde criará um centro para oferecer apoio emocional e treinamento aos padres diocesanos, padres religiosos e irmãos em Kerala.

O diácono Ed Shoener, presidente da Associação Internacional de Agentes Católicos da Saúde Mental, apresentou os estatutos da organização, que enfatizam a importância de promover a saúde mental entre os membros da Igreja antes de abordar outras pessoas.

Ele disse que a rede indiana de profissionais de saúde mental cresceu mais rápido do que em outros países e pode servir de bom exemplo de como essa rede pode ser coordenada de forma eficiente.

"As irmãs desempenham um papel crucial na promoção da saúde mental em qualquer país e também desempenham um papel convincente na Índia", disse Shoener.

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