Ainda estamos acordados? Comentário de José Antonio Pagola

Foto: Stephanie LeBlanc/Unsplash

28 Novembro 2025

As primeiras gerações cristãs atribuíam grande importância à vigilância. Elas sentiam o risco de se esquecerem de Jesus e não queriam que ele as encontrasse 'adormecidas' um dia.

O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 24-11-2025.

Eis o texto.

Um dia, a fascinante história da humanidade chegará ao fim, assim como a vida de cada um de nós inevitavelmente chega. Os Evangelhos colocam um discurso sobre esse fim na boca de Jesus, e sempre enfatizam uma exortação: "Vigiai", "Estai alertas", "Mantenham-se despertos". As primeiras gerações cristãs atribuíam grande importância a essa vigilância. O fim do mundo não chegaria tão cedo quanto alguns pensavam. Eles sentiam o risco de gradualmente se esquecerem de Jesus e não queriam que ele os encontrasse um dia "adormecidos".

Muitos séculos se passaram desde então. Como nós, cristãos, vivemos hoje? Ainda estamos despertos ou adormecemos gradualmente? Somos atraídos por Jesus ou distraídos por todo tipo de assuntos secundários? Seguimos a Ele ou aprendemos a viver como todos os outros?

Estar vigilante é, antes de tudo, despertar da inconsciência. Vivemos o "sonho" de sermos cristãos quando, na realidade, nossos interesses, atitudes e estilo de vida muitas vezes não são os de Jesus. Esse "sonho" nos protege da busca por nossa conversão pessoal e pela conversão da Igreja. Se não "despertarmos", continuaremos a nos enganar.

Estar vigilante é viver atentamente à realidade. É ouvir os clamores daqueles que sofrem. É sentir o amor de Deus pela vida. É viver com mais atenção à sua misteriosa presença entre nós. Sem essa sensibilidade, não é possível trilhar os passos de Jesus.

Às vezes vivemos imunes aos chamados do Evangelho. Temos corações, mas eles se endureceram; temos ouvidos, mas não ouvimos o que Jesus ouviu; temos olhos, mas não vemos a vida como ele a via, nem olhamos para as pessoas como ele as olhava. Então, o que Jesus queria evitar entre seus seguidores pode acontecer: vê-los como "cegos guiando cegos".

Se não despertarmos, o que aconteceu com aqueles da parábola poderá acontecer a todos nós, que mesmo no fim dos tempos perguntamos: "Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te ajudamos?"

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