25 Novembro 2025
A COP30 aconteceu sob um cenário geopolítico desafiador. A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, um ano antes da conferência de Belém, pôs em dúvida qualquer avanço da agenda climática. A incerteza ganhou força quando o “agente laranja” tirou o 2º maior poluidor climático do planeta do Acordo de Paris no dia em que tomou posse, em 20 de janeiro. E ganhou ares de tragédia anunciada com as perseguições tarifárias e políticas anticlimáticas e pró-combustíveis fósseis promovidas por Trump deste então.
A reportagem é publicada por Climainfo, 24-11-2025.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse várias vezes esperar que a conferência conseguisse fortalecer o multilateralismo, ameaçado por ações de Trump e seus aliados. Em sua última fala na plenária de encerramento, ele disse que foi “muito bom ver que o multilateralismo está vivo e consegue entregar resultados às pessoas”. A diplomacia climática respirava aliviada.
Depois de duas semanas em que tudo aconteceu – até mesmo um incêndio em uma área da Zona Azul – e depois de vários momentos nos quais as duras negociações estiveram prestes a colapsar, os países foram capazes de, juntos, promover alguns avanços importantes, analisa Giovana Girardi na Agência Pública. Ainda que não na velocidade com a qual a crise climática avança.
O lento processo diplomático que é a Conferência das Partes da ONU para o clima realizada anualmente evitou o colapso em um cenário sem acordo, reforça a Bloomberg. “Sabíamos que esta COP ocorreria em meio a águas políticas turbulentas”, disse Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) no encerramento da conferência em Belém. “A COP30 mostrou que a cooperação climática está viva e forte.”
A diplomacia contou com uma “força extra” do presidente Lula, que voltou a Belém na semana final da conferência para tentar costurar acordos – é raro o presidente do país anfitrião participar dessa etapa. Já no G20, na África do Sul, no fim de semana, Lula descreveu um cenário “muito difícil”, segundo a Folha. Ele chegou a fazer ligações de lá para destravar impasses.
A Folha lançou uma pergunta a jovens de diferentes países e líderes indígenas no evento: por que ainda insistimos na COP? Afinal, as conferências do clima parecem lentas demais para resolver a urgência climática; as negociações são sempre duras, e há países que parecem estar ali só para bloquear soluções; e a necessidade de que decisões sejam por consenso dificulta ainda mais.
Líder de Justiça Climática da ActionAid na Zâmbia, Michael Mwansa compara o processo das COPs ao de libertação dos países africanos da colonização. “A libertação nunca pode vir sem luta, e precisamos estar conscientes de que estamos em luta”, diz. “E nós não devemos desistir. É isso que as comunidades esperam de nós, que participamos da COP: que nunca desistamos delas.”
Já Angel Tokali é da República Democrática do Congo e se disse honrada de ter representado na COP30 os grupos com os quais trabalha. Ela avalia que as COPs têm fragilidades como qualquer outra cúpula, mas que seria pior sem elas. “Continuo otimista. Porque as fragilidades também podem se transformar em oportunidades. Não é porque existem dificuldades que nada pode funcionar ou mudar”, diz.
Mas… e agora? O professor Carlos Eduardo Frickmann Young, coordenador do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA) da UFRJ, explica n’O Globo que começa uma nova fase, com menos visibilidade, mas essencial para o avanço de novos temas que serão construídos ao longo do próximo ano da presidência brasileira, que só termina na COP31, na Turquia.
“As decisões principais são tomadas na COP, mas são construídas ao longo do ano. E uma decisão muito adequada da diplomacia brasileira foi criar grupos de trabalho, distribuídos em pares de países, e grupos de discussão sobre pontos específicos, para que a agenda não fique completamente bloqueada por causa de um ou outro ponto sem avanço. Então, acho que a diplomacia brasileira também sai bem dessa história. Tentou bastante, aliás, foi bastante agressiva, o presidente da República envolvido diretamente na pauta, na discussão. E isso pode trazer resultados de longo prazo”, avalia o economista.
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