29 Julho 2025
Em (mais um) falatório sem sentido, Trump recicla teorias conspiratórias e associa eólicas a baleias ensandecidas e pássaros mortos.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 29-07-2025.
No clássico “Dom Quixote de la Mancha”, do espanhol Miguel de Cervantes, o personagem, em sua loucura, enfrentava moinhos de ventos como se fossem dragões monstruosos. Ao final, derrubado pela força de seu “inimigo”, o personagem se consola aludindo a um feitiço que teria transformado os monstros em inofensivos moinhos, ao invés de reconhecer a realidade.
Séculos depois das andanças imaginárias de Quixote pelas planícies de La Mancha, os moinhos de vento ganharam outro adversário, muito mais mercurial do que o personagem de Cervantes – o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O Dom Quixote do século XXI também enxerga o que não existe; no entanto, mais perigoso que o herói insano do clássico espanhol, Trump não tem apenas lanças e escudos para derrubar seus inimigos imaginários – ele tem o governo da maior potência global à sua disposição.
O quixotismo de Trump ficou evidente no último domingo (27/7), durante uma coletiva de imprensa com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em seu resort de golfe na Escócia. Em mais um falatório desconexo, Trump atacou as usinas eólicas, reciclando cismas sem sentido e teorias conspiratórias.
“É tão triste. Você sobrevoa e vê os moinhos de vento por toda parte, destruindo seus lindos campos e vales, matando seus pássaros e, se eles ficarem presos no oceano, destruindo seus oceanos”, disse Trump. “Não permitiremos que um moinho de vento seja construído nos Estados Unidos. Eles estão nos matando”.
Como o Daily Beast lembrou, a paranoia de Trump contra as turbinas eólicas é antiga. Nos anos 2000, ele tentou impedir na Justiça a construção de um parque eólico offshore nas proximidades de seu campo de golfe na Escócia, sem sucesso. Em 2019, um tribunal do Reino Unido condenou o grupo empresarial de Trump a pagar as custas do processo movido contra o projeto.
Na campanha eleitoral do ano passado, Trump transformou as eólicas em alvo de sua ira política, argumentando – sem qualquer prova ou evidência, ao seu melhor estilo – que elas estariam “enlouquecendo” baleias e matando-as no litoral dos EUA. Ele também acusou os geradores eólicos de causarem mortandade de pássaros.
O Guardian retrucou em detalhe cada alegação. Não há evidência qualquer de que as eólicas estejam afetando o comportamento de animais marinhos. Nem de que elas matem mais pássaros do que colisões com linhas de energia ou gatos domésticos. Nem de que elas tenham vida útil curta (aliás, pelo contrário, a vida útil típica é de 20 a 25 anos). E muito menos de que esses moinhos estejam “nos matando”.
Ou seja, as turbinas eólicas não são os dragões pintados por Trump, como os moinhos do passado não eram os monstros imaginados por Quixote. Mas a insanidade do passado era ilusória, estava nas páginas dos livros. Agora, ela não apenas é real, como também preside os Estados Unidos.
A Rolling Stone e o Telegraph também repercutiram a ira de Trump contra os moinhos de vento.