24 Novembro 2025
"Diante de uma realidade complexa, marcada por uma Itália cada vez mais secularizada e surda a Cristo, com taxas crescentes de abandono dos fiéis, declínio de casamentos e batismos a ponto de o Cardeal Zuppi denunciar o declínio da cristandade, mas não do cristianismo, Leão XIV acredita que é crucial a unidade interna, saber manter o conjunto unido, evitar divisões e, ao mesmo tempo, avançar para revitalizar as estruturas."
O artigo é de Franca Giansoldati, jornalista vaticanista publicado por Il Messaggero de 21-11- 2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Leão XIV sonha com uma Igreja mais aberta e menos travada para o bem da Itália. Uma Igreja que viva entre as pessoas, acolha as suas demandas, conforte o seu sofrimento compartilhando as esperanças. Ele também imagina estruturas territoriais mais racionais e enxutas, dando continuidade à condensação das dioceses menores. Por fim, pretende reduzir um pouco a média de idade do episcopado por meio de uma renovação natural.
Para começar, obrigará a todos o respeito da idade de aposentadoria, cujo limite de serviço desde sempre é fixado em 75 anos, embora tenha sido frequentemente desconsiderado. Só com essa medida poderia substituir imediatamente vários bispos de dioceses prestigiadas. Por exemplo, D. Bruno Forte em Chieti, D. Domenico Sorrentino em Assis, Giulio Brambilla em Novara e Tommaso Caputo de Pompeia (o santuário mais visitado de Itália) já atendem os requisitos para a aposentadoria. O Cardeal Cantoni de Como também está na lista. Um grupo maior é esperado em 2026. Entre as dioceses que serão incluídas está Milão, a maior do mundo, onde D. Mario Delpini celebrará seu 75º aniversário em agosto. Trata-se de uma posição relevante que o Papa poderia até mesmo explorar para eventuais transferências na liderança da Cúria.
Ontem de manhã aconteceu, de fato, a primeira visita do novo pontífice à Itália. Além de uma breve visita a Genzano após o conclave para visitar os Agostinianos, Prevost nunca havia saído dos Castelli Romani. O dia em Assis começou cedo com uma oração silenciosa diante do túmulo do santo padroeiro da Itália. Seguiu-se o encontro simbólico e programático com seu episcopado. Como Primaz da Itália, ele falou sobre diretrizes para a criação de uma Igreja de proximidade, certamente mais unida e harmoniosa, capaz de caminhar nos sulcos da história enfrentando os emergentes desafios da evangelização. Esse objetivo é naturalmente alcançável, disse ele aos mais de duzentos e setenta bispos, desde que seja capaz de renovar-se constantemente. Em sua opinião, é preciso evitar que a inércia, mesmo com boas intenções, retarde as mudanças necessárias. Ele afirmou que todos devemos cultivar a atitude interior que o Papa Francisco chamou de aprender a se despedir, uma atitude valiosa ao se preparar para deixar o cargo. Resumindo, nenhum bispo deve permanecer grudado em sua cadeira.
Diante de uma realidade complexa, marcada por uma Itália cada vez mais secularizada e surda a Cristo, com taxas crescentes de abandono dos fiéis, declínio de casamentos e batismos a ponto de o Cardeal Zuppi denunciar o declínio da cristandade, mas não do cristianismo, Leão XIV acredita que é crucial a unidade interna, saber manter o conjunto unido, evitar divisões e, ao mesmo tempo, avançar para revitalizar as estruturas.
Naturalmente, o quadro que emergiu no longo discurso de Prevost, preparado para sua breve visita à Úmbria, não se limitou a aspectos puramente estruturais ou funcionais; o foco se ampliou para a pastoral. Deve-se continuar a promover um humanismo integral; um sentido do humano que exalte o valor da vida e o cuidado com cada criatura, que intervenha profeticamente no debate público para difundir uma cultura de legalidade e solidariedade. A plateia ouviu atentamente, alguns bispos tomaram notas e ao final não houve nenhum debate. Após a leitura, o Papa se despediu, mas não sem reiterar que o único caminho a seguir é recomeçar pelos fundamentos, pelo essencial, pela proclamação de Cristo e fazer com que seja pelos italianos em todos os âmbitos da vida cotidiana. Algo que, nestes tempos, nem sempre é assim tão fácil.
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