24 Novembro 2025
Ausência do mapa do caminho para combustíveis fósseis revelou quem entende a urgência climática e quem defende dividendos de acionistas.
A informação é publicada por ClimaInfo, 23-11-2025.
Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, o presidente Lula disse que a conferência do clima de Belém seria a “COP da Verdade”. A “verdade” cobrada por Lula dizia respeito às metas climáticas (NDCs) dos países, roteiro essencial para que as nações mostrem suas ações para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, determinado no Acordo de Paris.
Agora concluída, a COP30 gerou avanços, mas também deixou lacunas. E o encontro na capital paraense foi mesmo a “COP da Verdade”, mas não por causa das NDCs dos países. A “verdade” surgiu com a proposta de Lula para que a conferência desse a partida em mapas do caminho para eliminar os combustíveis fósseis e o desmatamento, nos moldes do “Roteiro de Baku a Belém” para o financiamento, mostram Folha e André Trigueiro.
Foi assim que a verdade veio à tona no fim da COP30. A intensa disputa pela inclusão do mapa do caminho para acabar com petróleo, gás fóssil e carvão escancarou a profunda divisão entre quem tem a plena noção da urgência de se atacar a principal causa da crise do clima e quem quer manter tudo como está, beneficiando acionistas em detrimento de milhões, ou bilhões, que sofrerão cada vez mais com os efeitos das mudanças climáticas.
Mais uma vez, cientistas do Planetary Science Pavillion da COP30 – o primeiro pavilhão científico em uma conferência do clima da ONU – foram precisos, mostra O Globo: “Apesar dos esforços do Brasil e de muitos países para unir o mundo em torno de um roteiro para acabar com nossa dependência de combustíveis fósseis, forças contrárias bloquearam o acordo. Elas parecem ignorar que, ao contrário dos pavilhões da COP [onde houve um incêndio na 5ª feira], não podemos evacuar o planeta Terra quando desastres acontecem”.
Um dos titulares do pavilhão científico, o climatologista Carlos Nobre prevê que a iniciativa da presidência da COP30 de buscar um mapa do caminho paralelo para combate ao desmatamento e ao uso de fósseis encontrará resistência até a COP31, segundo O Globo. No entanto, o pesquisador se diz otimista de que a ciência chegará mais forte à conferência do ano que vem.
Para o físico Paulo Artaxo, que também integrou o grupo de cientistas da COP30, o lobby da indústria do petróleo acabou vencendo os interesses da população mundial. E, diante do bloqueio feroz liderado pela Arábia Saudita, com apoio de Rússia, China e Índia e um “dedo” dos Estados Unidos, mesmo ausentes em Belém, o cientista propõe mudanças no funcionamento de tomada de decisões estabelecido pela ONU, informa O Globo.
“O presidente da COP30 enfatizou que deveria ser a cúpula da implementação, com a construção do ‘mapa do caminho’ para a eliminação dos combustíveis fósseis como prioridade. O problema é que isso colide com os mecanismos de decisão da ONU, que prevê a necessidade de consensos e, obviamente, o mundo está muito complexo hoje em dia e a dificuldade geopolítica complica as negociações. Basta um grupo de países bloquearem uma decisão para que ela não possa ser incluída no documento final.”
Em um balanço da COP30, o secretário-executivo para Mudanças Climáticas da ONU, Simon Stiell, reconheceu a frustração de vários países sobre a ausência de um roteiro para abandonar os combustíveis fósseis, informa a Times Brasil. Mas deixou evidente que se trata de um caminho sem volta. “A direção está clara: a mudança para combustíveis renováveis é imparável. Estamos construindo-a dia a dia, passo a passo, COP a COP”, disse Stiell.
Em tempo 1
E o prêmio “Fóssil Colossal” da COP30, concedido pela Climate Action Network (CAN) e considerado o “Fóssil dos Fósseis” das conferências do clima, ficou com Arábia Saudita e União Europeia, por bloquearem avanços nas negociações climáticas, informa a Folha. A CAN acusa os sauditas de tentar remover referências científicas, enfraquecer proteções de Direitos Humanos e minar qualquer avanço sobre a eliminação dos combustíveis fósseis. Já a UE é uma "campeã climática de fachada", obstruindo discussões nos bastidores e atrasando negociações, diz a rede global de organizações climáticas.
Em tempo 2
Pouco mais de um terço, 35%, das postagens brasileiras sobre a COP30 foram críticas ao evento, ante 20% de menções positivas, mostra um estudo da Quaest divulgado pel’O Globo. Já os posts neutros ou informacionais somaram 45%. Houve um duelo de narrativas: de um lado, um grupo defendia o evento pela oportunidade de vitrine amazônica para o mundo e orgulho nacional; de outro, houve críticas à infraestrutura de Belém e fragilidades internas de logística. Um dos temas com protagonismo na discussão foi o ativismo indígena, segundo a Quaest.
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