Desigualdades climáticas: os ricos poluem (muito), os pobres pagam o preço (pesadamente)

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06 Novembro 2025

Em seu último relatório, o World Inequality Lab (Laboratório Mundial da Desigualdade) detalha como a parcela mais rica da humanidade contribui significativamente mais para o aquecimento global do que a mais pobre, enquanto sofre menos com seus efeitos.

A reportagem é de Matthieu Jublin, publicada por Alternatvies Économiques, 30-10-2025. A tradução é do Cepat.

Alguns números são suficientes para entender o quão inextricavelmente ligadas estão a crise climática e as desigualdades globais de riqueza. Embora a meta de manter o aquecimento abaixo de 1,5°C seja agora inatingível, segundo muitos cientistas, esse fracasso não é atribuível a todos os seres humanos da mesma forma, nem os afeta igualmente, como nos lembra a última edição do relatório sobre desigualdade climática publicado pelo Laboratório Mundial da Desigualdade.

A primeira dimensão dessas desigualdades diz respeito ao nível de contribuição para o aquecimento global. Ao avaliar o impacto de carbono do consumo (por exemplo, a compra de combustível para o carro), os 50% mais pobres da população mundial são responsáveis por apenas 10% das emissões globais de gases de efeito estufa, enquanto os 10% mais ricos emitem 47% e o 1% mais rico, sozinho, emite 15%.

O estudo também examina as emissões em função do patrimônio. Retomando o exemplo anterior, não se mede mais a compra de combustível, mas a propriedade de um campo de petróleo por meio de investimentos. A diferença é ainda mais gritante: a metade mais pobre da humanidade responde por 3% das emissões globais, enquanto o 1% mais rico é responsável por 41% dessas emissões.

Desigualdades massivas na contribuição para as mudanças climáticas entre ricos e pobres

Distribuição das emissões globais de gases de efeito estufa relacionadas ao consumo e investimentos por categoria de riqueza em %.

O patrimônio global é, na verdade, ainda mais desigualmente distribuído do que a renda. Os 50% mais pobres da humanidade detêm apenas 2% do patrimônio, três vezes menos que os 0,001% mais ricos (ou seja, 56 mil pessoas!).

Através de seu patrimônio, os 10% mais ricos controlam os investimentos necessários para a transição

Participação do patrimônio total detido por grupo de riqueza em %.

Essa disparidade de riqueza está na raiz da segunda dimensão das desigualdades climáticas: por meio de seu patrimônio e investimentos – atualmente extremamente intensivos em carbono – os mais ricos têm uma capacidade muito maior de influenciar a trajetória climática do mundo do que a vasta maioria da população mundial, analisam os autores.

A pegada de carbono média do patrimônio do 1% mais rico é 400 vezes maior do que o da metade mais pobre da humanidade

Emissões de gases de efeito estufa relacionadas ao patrimônio por pessoa em toneladas de CO2 equivalente por ano.

Finalmente, há a última dimensão das desigualdades climáticas: a exposição aos efeitos do aquecimento global, que atinge a metade mais pobre da humanidade com mais força.

Em 2050, em comparação com um cenário sem aquecimento global, esse grupo sofreria aproximadamente um terço da perda da renda bruta ligada às mudanças climáticas – quase o mesmo que o décimo mais rico da humanidade. Mas, ao calcular a perda relativa de renda (como percentagem da renda inicial), os 50% mais pobres da população mundial suportariam 74% da perda total de renda, em comparação com 3% para os 10% mais ricos.

Desigualdades de exposição: os mais pobres têm mais a perder com as mudanças climáticas

Percentagem das perdas de renda absolutas e relativas ligadas às mudanças climáticas em 2050 por categoria de riqueza.

Nota: As perdas absolutas referem-se aos danos monetários totais causados pelas mudanças climáticas em comparação com um cenário de manutenção do status quo, enquanto as perdas relativas indicam a redução percentual na renda inicial em comparação com esse cenário.

Isto justifica, segundo o relatório, medidas que ataquem tanto as mudanças climáticas como as desigualdades: a proibição de novos investimentos na extração de combustíveis fósseis, um imposto sobre a pegada de carbono do patrimônio e um aumento substancial dos investimentos públicos na transição energética.

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