31 Outubro 2025
"No fim das contas, a esperança não é a ausência de desespero. É a escolha de atravessá-lo, de mãos dadas, em direção à luz que jamais se apagará", escreve Thomas C. Fox, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 30-10-2025.
Thomas C. Fox é editor/publicador emérito da National Catholic Reporter. É autor de vários livros, incluindo Sexuality and Catholicism (George Braziller, 1995).
Eis o artigo.
Há manhãs em que acordo sentindo um peso que se assemelha à dor, um temor de que a América que amei e conheci esteja se desfazendo. Não é apenas o ataque diário de crueldade e falsidade que me oprime, mas também a aceitação silenciosa disso — como tantas pessoas, até mesmo as boas, parecem insensíveis à decadência moral. Meu espírito se sente esgotado.
Às vezes, fico perto das lágrimas, não por fraqueza, mas pelo cansaço de ver a verdade e a bondade diminuírem na vida pública.
Essa tristeza se aprofunda quando penso em tantos jovens privados de memória e história. Poucos vivenciaram uma época em que a democracia, embora imperfeita, inspirava mais esperança e era menos cínica. A distorção da história e o apagamento do que um dia existiu parecem intencionais — como se aqueles no poder soubessem que esse vazio é seu maior aliado. Quanto menos as pessoas sabem, menos conseguem imaginar algo melhor. Quero alcançá-las — aquelas que não vivenciaram uma época mais livre e confiante — e dizer-lhes que o cinismo não é a realidade.
Por outro lado, vejo pessoas comuns — jovens, idosas e de todas as idades — comprometidas em defender a liberdade, a decência e a verdade. Elas marcham, se organizam e oram, agarrando-se a uma convicção frágil, porém feroz, de que a democracia ainda vale a pena lutar.
Essa réstia de esperança é frequentemente obscurecida pelo desespero. Às vezes, me pego pensando que só o colapso pode expor a podridão — que talvez tenhamos que perder tudo antes que a verdade se revele. Conheço o perigo desse pensamento, mas também reconheço sua honestidade. O desespero pode consumir a ilusão. Pode nos deixar nus diante da realidade.
O que estamos vivenciando é mais do que uma crise política; é um acerto de contas espiritual. Nossos ídolos — riqueza, domínio, certeza — estão sendo expostos como vazios. As mentiras que os sustentavam já não se sustentam. Parece, como escreveu Thomas Merton, citando Nicholas Berdiaev, um momento em que devemos "ser humanos nesta era tão desumana". Em meio a um período tão doloroso, a resposta de alguém como Merton não seria a retirada, mas a contemplação — a recusa lúcida em odiar.
E agora, o Papa Leão XIV, em seu breve pontificado, falou com a mesma clareza moral. Sua primeira exortação sobre a pobreza não tratava apenas de caridade, mas de justiça — a medida do amor na vida pública. É uma dádiva ter uma voz global, incluindo uma americana, que fala com compaixão e convicção, lembrando-nos de que a verdade não pertence aos poderosos, mas aos pobres, àqueles que ainda escutam com o coração.
Isso me ajuda a nomear e a lidar com essa dor — a cuidar dela como se estivesse indo a um funeral. Há algo de sagrado em compartilhar o luto, em deixar a tristeza e a perda serem compartilhadas publicamente, onde abraços são possíveis e lágrimas são permitidas. Precisamos de conforto na dor uns dos outros diante do que está acontecendo.
Essa expressão compartilhada — essa disposição para enfrentar a perda juntos — é necessária e revigorante. Ela restaura nossa humanidade. Ela demonstra que, mesmo quando as instituições falham, a compaixão permanece. Ela demonstra que o que nos une não é a vitória, mas a ternura.
O desespero, portanto, nem sempre é sinal de fracasso. Pode ser o início da transformação — o momento em que o otimismo dá lugar a algo mais sólido e confiável. A esperança, a verdadeira esperança, não é uma expectativa ingênua, mas sim uma postura de desafio moral. É a decisão de continuar acreditando que a bondade ainda importa, que a decência ainda tem valor, que a verdade não será apagada.
Não torço pela catástrofe; torço pelo despertar. Não desejo o colapso; oro por coragem. Mas sei que, às vezes, os dois estão interligados — que o desmascaramento da falsidade pode exigir uma espécie de noite escura da sociedade.
Talvez seja aqui que nos encontramos agora — não no fim da história, mas no árduo trabalho de sua renovação. A tarefa não é restaurar o que foi, mas dar à luz o que poderia ser. Cada ato de decência, cada gesto de solidariedade, cada insistência na verdade é uma pequena ressurreição. Sim, chego a estes dias com sentimentos contraditórios. Mas talvez esses sentimentos contraditórios façam parte da própria fé — a dor de viver de olhos abertos, com o coração partido, mas ainda teimosamente esperançoso.
No fim das contas, a esperança não é a ausência de desespero. É a escolha de atravessá-lo, de mãos dadas, em direção à luz que jamais se apagará.
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