22 Outubro 2025
Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, não se encontrarão pessoalmente. Pelo menos por enquanto. A Casa Branca anunciou nesta terça-feira que, após uma conversa entre o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e seu homólogo russo, Sergey Lavrov, "não há planos" para uma cúpula em Budapeste nas próximas semanas.
A reportagem é de Macarena Vidal Liy e Javier G. Cuesta, publicada por La Repubblica, 21-10-2025.
O anúncio ocorre apenas quatro dias após Trump anunciar planos para seu segundo encontro com o líder do Kremlin em dois meses. O encontro planejado na capital húngara foi acertado durante uma conversa entre os dois líderes na quinta-feira, um dia antes de o americano se encontrar na Casa Branca com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, a quem ele tentou pressionar a ceder a região oriental de Donbass ao país invasor, segundo o Financial Times.
Após a reunião, Trump pediu nas redes sociais que ambos os lados assinassem um cessar-fogo agora e deixassem as linhas de frente como estão.
A conversa entre Rubio e Lavrov deveria servir como preparação para uma cúpula que Trump pretendia realizar em "algumas semanas". A ligação parece ter revelado apenas diferenças significativas, embora a Casa Branca não tenha feito referência a um desentendimento entre os dois governos em seu anúncio.
“O Secretário Rubio e o Ministro das Relações Exteriores Lavrov tiveram uma conversa produtiva. Portanto, um encontro presencial entre os dois [líderes] não é necessário”, disse um alto funcionário da Casa Branca, que falou sob condição de anonimato. “Não há planos para o Presidente Trump se reunir com o Presidente Putin no futuro imediato”, acrescentou.
Antes do cancelamento da reunião, Trump continuou a pressionar Kiev a entregar o território ocupado pela Rússia em troca de uma trégua, e a União Europeia e a Ucrânia pediram um cessar-fogo incondicional em uma carta aberta. A resposta de Moscou é que a paz é insuficiente, pois busca subjugar, direta ou indiretamente, todo o país. "Um cessar-fogo imediato significaria abandonar as causas profundas do conflito e deixar a maior parte da Ucrânia sob o domínio nazista", disse o Ministro Lavrov na terça-feira, ecoando a retórica familiar do Kremlin.
Autoridades do Kremlin já sugeriram a possibilidade de cancelar a reunião. "O que não foi acordado não pode ser remarcado", disse o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, em relação a relatos que sugeriam o adiamento da reunião.
Os principais líderes europeus e Zelensky instaram Trump a garantir que a Ucrânia não ceda antes do início das negociações de paz. Lavrov, no entanto, enfatizou que nenhuma trégua faz parte dos planos do Kremlin. "O cessar-fogo é exatamente o oposto do que [o presidente russo] Putin e Trump concordaram em [sua reunião no] Alasca" em agosto, enfatizou o ministro das Relações Exteriores russo, antes de observar que Kiev poderia se rearmar durante a pausa nos combates.
O diplomata insiste que Moscou quer satisfazer o que ele chama de "causas profundas do conflito". Estas, na linguagem do Kremlin, não significam a conquista de um território específico, mas sim a rendição de toda a Ucrânia como um Estado soberano. No início de sua invasão em larga escala em 2022, Putin enfatizou que seus objetivos eram o desarmamento de Kiev, o que a deixaria à sua mercê, e sua "desnazificação", um falso pretexto para substituir o governo eleito de Volodymyr Zelensky, reconhecido até mesmo pelo Kremlin após as eleições presidenciais de 2019, por um representante russo.
A Rússia rejeita uma pausa na guerra, enquanto Trump pede uma trégua imediata. "Deixem-na isolada como está, já está isolada. Acho que 78% do território [na região de Donetsk] já foi tomado pela Rússia. Deixem-na como está", declarou Trump neste domingo, após falar com Putin por telefone e se encontrar com Zelensky em Washington nos dias anteriores.
"Eles podem negociar algo mais tarde. Eu disse a eles para pararem na linha de frente. Voltarem para casa, pararem de lutar, pararem de matar pessoas", acrescentou Trump.
Segundo a imprensa americana, o líder dos EUA teria tentado convencer Zelensky a desistir dos territórios ocupados pela Rússia em troca de "não destruir a Ucrânia". O Washington Post, por sua vez, informou que Putin teria oferecido a Trump a cessão de parte da área controlada nas regiões de Kherson e Zaporizhia em troca de Kiev entregar completamente Donetsk e Luhansk.
Oficialmente, a posição do Kremlin até agora é que todas as quatro regiões ucranianas, incluindo áreas que ele não controla, fazem parte da Rússia depois que Putin assinou sua anexação à constituição russa em setembro de 2022.
"Concordamos em continuar os contatos telefônicos para entender melhor onde estamos e como melhor seguir na direção certa", disse Lavrov após se declarar surpreso com a notícia da CNN e acusar a mídia ocidental de ser "desonesta".
Putin e Trump concordaram na semana passada que o encontro entre o ministro das Relações Exteriores e o secretário de Estado prepararia uma hipotética cúpula entre os dois presidentes em Budapeste. Washington presumia que esse encontro, já cancelado, era uma certeza, enquanto Moscou se mostrou mais cautelosa, falando de "um possível encontro".
"O momento da cúpula Putin-Trump é importante, mas as metas acordadas no Alasca são ainda mais", enfatizou Lavrov antes do anúncio da Casa Branca.
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, recusou-se a revelar as exigências e concessões da Rússia antes de uma possível reunião com Trump, que agora não ocorrerá tão rapidamente quanto o esperado. "A Rússia não anunciará suas propostas para a cúpula pelo alto-falante; isso prejudicaria o processo de paz", disse a autoridade.
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