22 Outubro 2025
"A maneira como falamos sobre as pessoas tem impacto. Não tem impacto apenas quando jovens republicanos discutem quem querem mandar para as câmaras de gás. Tem impacto quando um chanceler fala sobre uma paisagem urbana indesejada que poderia ser melhorada por meio de deportações", escreve Regina Nagel, educadora religiosa, psicóloga empresarial e autora. Atualmente, estuda História Europeia na FernUniversität Hagen e participa do Omas gegen Rechts Deutschland eV (Avós contra a Alemanha de Direita), em artigo publicado por katholisch.de, 20-10-2025.
Eis o artigo.
Donald Trump aprendeu o método de "inundar a zona com merda" com Steve Bannon. Ele envolve inundar o público com meias-verdades, mentiras, tagarelice e, no sentido mais verdadeiro da palavra, "merda". O objetivo é desviar a atenção de questões controversas e destruir a democracia por meio de uma aliança de direita entre políticos, bilionários da tecnologia e círculos "cristãos" de direita. No sábado, milhões de pessoas foram às ruas nos EUA, mais do que em junho, para protestar contra essa reestruturação brutal da sociedade. Seu lema: "Sem Reis!" E como Trump responde? Com um vídeo em que ele, como um autoproclamado rei, expele fezes de um avião sobre os manifestantes. "Inundar a zona com merda". J.D. Vance, que se vê como um sucessor e está sendo preparado pelo bilionário da tecnologia Peter Thiel, aumenta a aposta ao postar um vídeo em que líderes democratas são forçados a se curvar em homenagem ao "Rei Trump".
Trump posted an AI video of himself wearing a crown and dumping shit from a “King Trump” jet on No Kings protesters.
— PatriotTakes 🇺🇸 (@patriottakes) October 19, 2025
This is where we are as a country. pic.twitter.com/rnzUkJ4C4K
A estratégia da direita de constantemente expandir os limites do que pode ser dito funciona nos EUA e aqui também. Em sua valiosa palestra sobre "Extremismo de Direita – Os Mentores da Nova Direita", o educador Markus Rieger-Ladich, de Tübingen, explica que falar sobre pessoas tem um caráter performático. Falar sobre o tempo, diz ele, não muda o tempo. A maneira como falamos sobre as pessoas tem impacto.
Não tem impacto apenas quando jovens republicanos discutem quem querem mandar para as câmaras de gás. Tem impacto quando um chanceler fala sobre uma paisagem urbana indesejada que poderia ser melhorada por meio de deportações.
Há uma necessidade urgente de resistência a essa mudança nos limites do que é dizível e também do que é realizável. Não apenas quando se fica sem palavras de horror. Será que os cristãos que internalizaram a frase "Mas não será assim entre vocês" (Marcos 10,43) têm outra escolha senão aderir – de qualquer forma – ao "Movimento Sem Reis"? Qualquer pessoa que precise de incentivo para fazê-lo deve ler o Antigo Testamento e ver o que os profetas dizem sobre reis que abusam de seu poder e (se permitem) serem colocados no lugar de Deus. Quando questionado sobre o que podemos fazer contra a ameaça da direita, Rieger-Ladich disse no debate após sua palestra: "Saiam da defensiva e fiquem do lado daqueles que são discriminados".
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