21 Outubro 2025
- "O Papa vem buscando seu lugar, seu sotaque próprio, e nos primeiros dez dias de outubro, ele já decolou por conta própria, e o fez intervindo mais claramente na política interna de seu país natal. Fim da primeira fase do lançamento."
- Nos primeiros dez dias de outubro, o Papa fez uma série de declarações nas quais se percebeu que havia tomado uma decisão e que havia chegado o momento de reagir à perigosa deriva autocrática que se vive nos Estados Unidos.
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 20-10-2025.
Leão XIV, o primeiro papa americano da história, levou meio ano para mostrar suas garras ao seu compatriota , o presidente Donald Trump. Diz-se que Robert F. Prévost, sobre quem a sombra de Francisco pesa como uma pedra de moinho, não é uma cópia exata do Papa Bergoglio, mas não há dúvida de que ele compartilha o mesmo roteiro pastoral para a Igreja Católica neste segundo quarto de século, como aquele marcado com sua marca pessoal pelo argentino.
Assim começa a análise publicada pelo El Confidencial, que explica como "esta figura religiosa agostiniana vem buscando seu lugar, seu próprio sotaque, e nos primeiros dez dias de outubro já se lançou por conta própria, e o fez intervindo mais claramente na política interna de seu país natal. Fim da primeira fase de lançamento."
"Quem diz ser contra o aborto, mas a favor da pena de morte, não é verdadeiramente pró-vida", declarou o Pontífice no final de setembro, no que equivalia a uma repreensão ao controverso cardeal de Chicago, Blaise Cupich, que ele nomearia alguns dias depois como conselheiro da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano. "E quem diz ser contra o aborto, mas a favor do tratamento desumano de imigrantes nos Estados Unidos — não sei se isso é pró-vida", concluiu o Papa Prévost.
As reações furiosas da galáxia MAGA foram imediatas, como aponta o artigo: "O papa católico Leão XIV é um idiota ou uma pessoa realmente consciente, ou ambos?"; "Alguns papas são uma bênção. Alguns são uma maldição."
Reação à deriva autocrática
Mas isso não impediu que o Papa – continua o artigo – fizesse uma série de declarações nos dias seguintes nas quais se percebeu que havia tomado uma decisão, e que havia chegado o momento de reagir à perigosa deriva autocrática que se vive nos Estados Unidos, especialmente com as deportações em massa lançadas por Donald Trump desde sua segunda chegada à Casa Branca em janeiro passado.
Great honor today for our group from El Paso (@HopeBorder and @elpasodiocese) to meet with the Holy Father (@Pontifex) and be able to bring with us the stories and fears of our immigrant sisters and brothers from across our country. pic.twitter.com/bOBjkOgIW6
— Bishop Mark J. Seitz (@BishopSeitz) October 8, 2025
O tiro de largada seria dado de forma inequívoca em 8 de outubro, quando o Papa recebeu por alguns minutos o bispo da diocese fronteiriça de El Paso, Mark Seitz, onde este lhe entregou um vídeo de quatro minutos e uma centena de cartas de migrantes aterrorizados pelas incursões lançadas por Trump que estão separando famílias.
"A Igreja não pode permanecer em silêncio diante da injustiça. Vocês me apoiam e eu os apoio", disse o Papa, emocionado com os testemunhos que ouviu, segundo o El Confidencial.
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