21 Outubro 2025
"Talvez Leão terá que "equilibrar" a atual nomeação, profundamente desagradável para grupos católicos "conservadores", com outras de natureza muito diferente, senão oposta. A reforma da Igreja é um quebra-cabeça complicado", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 20-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Ao nomear Josef Gründwidl, pároco "progressista" de 62 anos, como Arcebispo de Viena na sexta-feira, Leão XIV marcou um ponto crucial em seu pontificado porque essa escolha, inserida no contexto histórico da Igreja Católica na Áustria, representa uma virada que pesará muito no futuro.
Vamos dar um passo atrás para entender o evento. Na época do Vaticano II, o então Arcebispo de Viena, Cardeal Franziskus König, foi um dos mais ilustres Padres Conciliares, sempre alinhado a favor de reformas nas estruturas eclesiásticas.
Seu nome, de grande autoridade na Europa, recebeu alguns votos nos conclaves de agosto e outubro de 1978. Quando o cardeal (nascido em 1905) renunciou em 1986 por ter atingido o limite de idade, João Paulo II escolheu Hans Hermann Groër, um monge beneditino, como seu sucessor. A decisão, aplaudida pelos "conservadores", decepcionou os "progressistas", que a consideraram como uma forma de ofuscar o legado de seu antecessor. Mas, a certa altura, surgiram rumores — depois considerados fundamentados pelo próprio pontífice, que a princípio havia sido incrédulo — de que o clérigo havia abusado de alguns seminaristas. O escândalo foi enorme na Áustria, e as críticas a Wojtyla foram duras, pois, para fazer esquecer König, havia escolhido uma figura mal vista por muitos. E assim, por ordem de Roma, em 1995, o prelado foi forçado a deixar Viena.
Em seu lugar, o papa — que percebeu sua escolha desastrosa — indicou o dominicano Christoph Schönborn, posteriormente nomeado cardeal em 1898.
Ciente desse “histórico”, é razoável supor que Leão estava sob considerável pressão para escolher um novo arcebispo; não se tratava apenas da eleição do líder de uma comunidade qualquer, mas da diocese de Viena, uma das capitais mais ilustres da Europa. E o sucessor de um prelado — nascido em 1945 — que durante décadas havia sido um teólogo altamente respeitado e uma das figuras "progressistas" mais estimadas no episcopado europeu.
Mas, há poucos meses, Francisco nomeou como administrador apostólico de Viena justamente Gründwidl, agora escolhido como arcebispo da capital austríaca.
O bispo recém-eleito era próximo da "Iniciativa Pfarrer", que, há cerca de vinte anos, em um "Apelo à Desobediência", convidou os párocos a apoiarem reformas importantes na Igreja Romana. Reformas que ele reafirmou em uma recente entrevista: celibato opcional para padres, presença de mulheres em cargos de decisão na Igreja e sua admissão aos ministérios ordenados, começando pelo diaconato.
Considerando que nenhum dos atuais cardeais italianos — à frente de organismos vaticanos ou diocesanos — jamais se expressou com tamanha clareza sobre tais questões "tabu", pode-se avaliar a audácia do novo Arcebispo de Viena e a mensagem que Robert Francis Prevost, ao escolhê-lo, parece estar enviando a toda a Igreja Católica. Talvez Leão terá que "equilibrar" a atual nomeação, profundamente desagradável para grupos católicos "conservadores", com outras de natureza muito diferente, senão oposta. A reforma da Igreja é um quebra-cabeça complicado.
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