18 Outubro 2025
Vencedor do “Prêmio Nobel de Economia” de 2025, Philippe Aghion é convidado para todos os programas de televisão para elogiar o neoliberalismo. O problema é que este prêmio não é um Prêmio Nobel de verdade, e não é nada além de uma garantia de qualidade...
A reportagem é de Vincent Lucchese, publicada por Reporterre, 17-10-2025. A tradução é do Cepat.
Que melhor maneira para justificar tudo do que um “Prêmio Nobel de Economia”? No dia 13 de outubro, o economista francês Philippe Aghion tornou-se co-vencedor do afamado prêmio em 2025, ao lado do americano-israelense Joel Mokyr e do canadense Peter Howitt. Imediatamente, a imprensa conservadora aproveitou a nova aura do vencedor do “Prêmio Nobel” para relembrar suas ideias neoliberais e sua contundente oposição ao imposto Zucman sobre os ultrarricos.
O problema é que ao mesmo tempo, um antigo “Prêmio Nobel de Economia”, Joseph Stiglitz, apoiou vigorosamente o contrário e defendeu a necessidade da taxa Zucman, denunciando o poder letal da oligarquia que se opunha a ele. Outra contradição: Philippe Aghion é laureado, mesmo tendo sido um dos conselheiros econômicos mais próximos de Emmanuel Macron durante dez anos, com, como resultado, um histórico em termos de explosão da pobreza, colapso social e ecológico considerado desastroso por outros economistas.
O hiato, na verdade, decorre do próprio prêmio, que usurpa em grande parte sua pretensão de mérito científico. Antes de mais nada, não se trata de um verdadeiro Prêmio Nobel. Por meio de seu testamento, Alfred Nobel estabeleceu a concessão de prêmios a partir de 1901, reconhecendo três disciplinas científicas (física, química e medicina), além da literatura e do trabalho pela paz.
Uma usurpação da aura da ciência
Somente em 1968 o Banco da Suécia instituiu o “Prêmio Banco da Suécia em Ciências Econômicas em homenagem a Alfred Nobel”. O banco então negociou que o prêmio fosse concedido pela Fundação Nobel e imitou a cerimônia. Isso fez com que sua iniciativa parecesse um verdadeiro Prêmio Nobel: uma verdadeira “operação de pirataria linguística”, nas palavras do economista Gilles Dostaler, com o objetivo de coroar a economia “com uma aura de cientificidade negada às outras ciências humanas”.
Vários economistas que receberam este falso Prêmio Nobel denunciaram a sua existência, como Gunnar Myrdal que, depois de ter contribuído para a sua criação e de tê-lo recebido em 1974, apelou à sua abolição.
“É uma usurpação, uma farsa, essa história do Banco da Suécia conceder um ‘Prêmio Nobel’ como se fosse o da física ou da medicina”, enfureceu-se o economista Bernard Maris em sua Lettre ouverte aux gourous de l’économie qui nous prennent pour des imbéciles [Carta aberta aos gurus econômicos que nos tomam por idiotas (Le Point, 1999)].
“Um argumento de sofistas, falso, mas com aparência de verdadeiro”
E por uma boa razão, escreve, a economia não pode reivindicar o mesmo grau de cientificidade que a física: “Tudo o que é dito em economia é inverificável, insanável, mas, por outro lado, perfeitamente demonstrável, assim como o contrário também é perfeitamente demonstrável. A economia, como o inconsciente, a metafísica, a religião e o vodu, ignora o princípio da contradição”.
Outros economistas são mais díspares em suas críticas à ciência econômica, mas a questão da desconexão entre os modelos econômicos e a realidade permanece central. Em 2014, o economista Antonin Pottier defendeu sua tese intitulada “A economia em um impasse climático”. Aí ele criticou duramente o trabalho de vários economistas renomados, incluindo Philippe Aghion.
4°C de aquecimento? Uma boa notícia!
Dissecando os modelos matemáticos utilizados pelo economista e seus colegas, ele denunciou a inconsistência entre o modelo e o mundo real. As fórmulas matemáticas apresentadas pelos economistas são válidas no universo fechado e abstrato dos números, mas “o modelo não passa no teste de plausibilidade e isso não parece representar um problema”, observa.
No artigo de 2012 analisado por Antonin Pottier, os economistas Daron Acemoğlu (outro vencedor do “Prêmio Nobel de Economia”), Philippe Aghion e seus colegas modelam o efeito de um imposto sobre o carbono no crescimento econômico. Um dos problemas levantados por Pottier advém do fato de que esse imposto é modelado para um período “temporário”, o que não é a realidade.
Essa falta de interesse pelo mundo real por parte de teóricos e outros economistas ortodoxos leva à formulação de um “argumento sofista, falso, mas com aparência de verdadeiro”, conclui Antonin Pottier, cuja pesquisa também o levou, em 2016, a publicar o livro Como os economistas aquecem o planeta (Seuil).
“A economia continua cheia de preconceitos ideológicos descontrolados”
O pico mais caricatural dessa deriva foi, sem dúvida, alcançado por William Nordhaus. Economista estadunidense, seus modelos o levaram a concluir, sem rir, que um aquecimento global de quase 4°C era o nível “ótimo” a ser alcançado pela economia global. Uma avaliação “escandalosamente estúpida”, nas palavras de seu colega Steve Keen, completamente desconectada de tudo o que é descrito pelos climatologistas, mas que, no entanto, lhe rendeu o falso “Prêmio Nobel de Economia” em 2018.
Essa capacidade desconcertante de algumas teorias econômicas de se libertarem do confronto com a realidade explica por que uma vasta gama de correntes teóricas pode coexistir na economia. E por que essa “ciência” é eminentemente política.
“Isso pode estar mudando um pouco com a corrente empírica, a consideração de fatos como nos trabalhos históricos de Thomas Piketty [economista autor de O capital no Século XXI (Intrínseca, 2014)]. Mas a economia continua cheia de vieses ideológicos descontrolados”, diz Frédéric Lebaron, professor de Sociologia na École Normale Supérieure Paris-Saclay, autor de La crise de la croire économique (Éditions du Croquant, 2010).
Um prêmio repetidor da opinião dominante
Foi, portanto, num contexto de luta ideológica entre diferentes correntes econômicas que o Prêmio Banco da Suécia foi instituído. Em um livro dedicado à história deste prêmio, os pesquisadores Avner Offer, professor na Oxford, e Gabriel Söderberg, pesquisador da Universidade de Uppsala, Suécia, explicam que o Banco Central, em oposição à doutrina social-democrata então vigente na Suécia, instituiu seu prêmio para impor sua doutrina econômica neoliberal e celebrar as virtudes do mercado.
“A instituição sempre foi altamente politizada. Figuras emblemáticas do neoliberalismo, como Hayek e Friedman, foram notavelmente premiadas. Às vezes, economistas keynesianos são premiados, e muito raramente economistas mais heterodoxos, mas continua sendo uma instituição muito conservadora”, enfatiza Frédéric Lebaron.
Uma lógica conservadora também reforçada pela dinâmica acadêmica da disciplina: os economistas indicados ao Prêmio Banco da Suécia são aqueles cujos trabalhos são publicados nas revistas de maior prestígio, frequentemente estadunidenses, e são os mais citados por seus colegas e se beneficiam do lobby mais forte de seus pares. Em outras palavras, as ideias predominantes e mais mainstream são favorecidas.
“O Prêmio Nobel recompensa os economistas que são mais ou menos consensuais em um dado momento”, resumem Jean-Édouard Colliard e Emmeline Travers, autores em 2009 de um Repères sobre os Prix Nobel d'économie (La Découverte), relatado por um artigo no Mediapart.
No entanto, as teorias econômicas também visam justificar a organização da produção e da partilha da riqueza. As teorias dominantes, portanto, tendem a assemelhar-se às relações de poder existentes numa sociedade. “O discurso econômico é o discurso do poder por excelência; seu grau de autonomia é, portanto, limitado. Isso não significa que não possa se emancipar, mas o uso da matemática serve frequentemente como um escudo para reivindicar uma forma de neutralidade ou cientificidade”, observa Frédéric Lebaron.
Quando Philippe Aghion explica que o crescimento econômico e a “inovação verde” nos salvarão do perigo climático, isso provavelmente é mais um indicativo da atual doutrina tecnossolucionista do que um reflexo de uma observação científica relevante.
Quanto aos pesquisadores e economistas que apontam para a urgência de decrescer ou pelo menos de planejar uma forma de sobriedade, é seguro apostar que sua “nobelização” terá que esperar por uma mudança política radical.
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