15 Outubro 2025
Um grupo de católicos que marchou até um centro de processamento de imigração em Chicago há três dias e foi impedido de dar a Comunhão aos detidos disse que não pretende recuar.
A informação é de Camillo Barone, publicada por National Catholic Reporter, 14-10-2025.
Os organizadores afirmaram que seu movimento está apenas ganhando impulso — planejando novos treinamentos, ações legais e mais "protestos sagrados" para desafiar o que chamam de erosão da fé e dos direitos humanos sob a fiscalização federal de imigração.
"Estou obviamente desapontado por não nos terem permitido oferecer a Santa Comunhão àqueles que estão detidos ali", disse o Padre Larry Dowling, um dos sacerdotes que participou da marcha em 11 de outubro.
"Até os últimos três, quatro meses, conseguimos fazer isso e eles nos permitiram, mas sob a atual administração, tudo isso parou. Eles não querem que ninguém entre lá, veja as horríveis condições internas e ofereça qualquer apoio a essas pessoas que estão detidas", disse ele.
Dowling, um padre aposentado da Arquidiocese de Chicago, disse ao National Catholic Reporter que ele e outros membros do clero estão considerando ações legais para fazer valer seu direito de ministrar aos detidos em uma área de processamento de imigrantes que alguns manifestantes dizem ser também usada como centro de detenção.
"Acho que vamos entrar com uma ação judicial, para reivindicar nossos direitos como clérigos e religiosos de poder ministrar a qualquer pessoa nestas instalações", disse ele. "Vamos continuar a revidar de todas as formas que pudermos pacificamente para lutar pelo que é certo".
Enquanto o grupo caminhava menos de 2 milhas (cerca de 3,2 km) da Paróquia St. Eulalia em Maywood até o centro de processamento do ICE em Broadview, eles carregavam faixas da Virgem Maria, cantavam hinos em inglês e espanhol e rezavam o terço.
A esperança deles era simples e sagrada: levar a Santa Comunhão aos homens e mulheres detidos lá dentro. Mas nos portões, essa esperança foi recebida com silêncio e uma porta trancada.
Policiais estaduais de Illinois, atuando em nome do ICE, transmitiram o pedido do grupo. Após uma longa espera, veio um telefonema: Não. Nenhuma razão foi dada.
O National Catholic Reporter entrou em contato com o ICE e a Polícia Estadual de Illinois em 13 de outubro para comentar sobre a recusa em permitir que o grupo distribuísse a Comunhão aos detidos e para descrever as condições dos detidos no centro do ICE. Nenhuma resposta imediata foi dada pelo ICE antes da publicação.
Um porta-voz da Polícia Estadual de Illinois disse que o departamento transmitiu o pedido do grupo ao pessoal do ICE e, após a recusa, "essa informação foi, por sua vez, respeitosamente fornecida àqueles que faziam o pedido". O porta-voz também disse que a polícia estadual "não tem qualquer autoridade sobre os detidos ou a instalação do ICE em Broadview".
Após o anúncio da recusa, os líderes se voltaram para a oração. A Irmã Felician Jeremy Midura, membro da delegação que liderou a marcha, dirigiu-se ao grupo de cerca de mil pessoas reunidas em frente ao centro de detenção, com a voz firme ao relatar que as portas permaneceriam fechadas. Naquele momento, a multidão fez o que tinha vindo fazer: rezou, cantou e partiu o pão juntos na calçada.
"Depois que a irmã compartilhou o relato, oferecemos a Comunhão fora do centro de detenção", disse Michael N. Okińczyc-Cruz, diretor executivo da Coalition for Spiritual and Public Leadership (CSPL), uma rede de paróquias, universidades e ordens religiosas sediada em Chicago envolvida em organização comunitária baseada na fé.
A coalizão, que organizou a manifestação, tem estado na vanguarda do protesto não violento baseado na fé na área de Chicago, e a procissão de Broadview foi, de longe, a maior, disse Okińczyc-Cruz.
"Podem ter negado o corpo de Cristo na forma física, mas estendemos uma oração de comunhão espiritual a eles. Comunicamos aos nossos membros que a luta não termina, que temos que continuar a nos organizar e trabalhar juntos", disse ele.
Em 13 de setembro, o grupo também organizou uma missa popular — uma missa do povo com a presença de mais de 300 católicos em frente à Estação Naval de Great Lakes, em North Chicago, para protestar contra o uso do local como área de preparação para as operações do ICE. Okińczyc-Cruz disse que essas Missas ecoam atos históricos de resistência liderada pela fé na América Latina e na Polônia — desde as missas populares de El Salvador que denunciavam a repressão militar até as Missas celebradas em frente ao Estaleiro Lenin durante o movimento Solidariedade da Polônia.
"O ICE negou não apenas nossa liberdade religiosa", disse Okińczyc-Cruz, "mas [estava] indo contra leis que permitem que ministros entrem para fornecer a Comunhão e serviços religiosos".
Ele e Dowling descreveram a reunião de sábado não como um protesto isolado, mas como parte de uma resistência espiritual mais ampla ao que chamam de um clima de medo cada vez mais profundo.
Okińczyc-Cruz disse que famílias católicas locais relataram "até 150 pessoas amontoadas em uma sala por vez no centro de detenção, que não estão sendo alimentadas adequadamente, que não têm espaço para dormir, nem lugar para tomar banho". Ele acrescentou que muitos detidos são paroquianos católicos, incluindo parentes de membros da coalizão.
"Conhecemos pessoas lá dentro", disse ele. "Sabemos que muitos, muitos deles são católicos e, por isso, queremos ser testemunhas disso e levar o corpo de Cristo, a Comunhão, para dentro do centro de detenção".
Para Dowling, a presença pacífica da multidão foi, por si só, uma mensagem. "Se você vai a protestos por aí, eles estão sempre no topo do prédio, pessoas de fora, pessoas do ICE observando, mas não havia ninguém lá", disse ele.
Os próximos passos da coalizão, disse Okińczyc-Cruz, incluem expandir os programas de treinamento como "Conheça Sua Fé, Conheça Seus Direitos" — um currículo que combina educação legal com formação teológica para ajudar as comunidades paroquiais a se organizarem e permanecerem resilientes. "Devemos confiar em nosso Deus e em nossa fé para sermos pessoas resilientes, pessoas de oração, pessoas não violentas diante do autoritarismo e da violência", disse ele.
O Padre Jesuíta David Inczauskis, estudante de doutorado na Universidade Loyola Chicago que atua no conselho do clero da coalizão, reiterou que a próxima fase unirá oração com política. Os líderes também querem garantir que o fervor da procissão de sábado (11 de outubro) leve a mudanças concretas.
"Reconhecemos que houve um grande momento de paixão associado a este último sábado", disse ele, acrescentando que o próximo passo envolveria mudanças legais no estado de Illinois "que possamos apoiar a fim de restringir a presença do ICE em certos locais".
Ligar a liturgia à legislação, disse ele, faz parte de ver a Missa como uma missão.
O sacerdote também disse que uma possível ação legal por ter o acesso negado ao centro de detenção permanece em discernimento, mas ele acha que é algo que o grupo deve considerar, e afirmou que o conselho do clero da coalizão planeja se reunir na próxima semana para avaliá-la.
"Este é obviamente um momento de desespero e as pessoas estão perdendo a esperança", disse Dowling. "Mas acho que precisamos perceber que Deus está no meio de tudo.
Essa é minha esperança, meu desejo, minha oração, é que as pessoas abram os olhos e os corações e realmente vejam esses como seres humanos, que são exatamente como elas em muitos aspectos e que merecem a mesma dignidade que todos nós pediríamos", disse ele.
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