18 Outubro 2025
A vida do jesuíta mais famoso do século XX poderia ser transformada em uma apaixonante série de televisão. Citado pelos papas, foi missionário, paleontólogo e geólogo: suas ideias atravessaram com força o breve século.
A reportagem é de Giovanni Maria Vian, publicada por Domani, de 13-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A vida de Pierre Teilhard de Chardin, o jesuíta mais famoso do século XX, poderia ser transformada em uma apaixonante série de televisão. O cientista —geólogo e paleontólogo de renome — já havia aparecido no primeiro romance de Morris West sobre o Vaticano, "As sandálias do pescador", posteriormente levado às telas por Michael Anderson (O Homem do Kremlin). Publicado em 3 de junho de 1963, dia da morte de João XXIII, "o bom papa", o livro imaginava a eleição de um cardeal do Leste Europeu, o ucraniano Kiril Lakota, quinze anos antes do conclave revolucionário que escolheria Karol Wojtyła.
No ano anterior, em 1962, o Santo Ofício havia publicado uma advertência contra "ambiguidades e até mesmo erros" em âmbito filosófico e teológico presentes na obra de Teilhard, que já havia falecido havia sete anos. O cerne da questão era o evolucionismo. "Quanto mais ressuscitamos o Passado, menos espaço encontramos para Adão ou para o Paraíso terrestre" — e, consequentemente, também para o pecado original — ele já havia escrito em 1922.
Católico progressista e bom conhecedor do Vaticano, o escritor australiano coloca em cena Teilhard com um nome imediatamente reconhecível em sua chegada ao Aeroporto de Fiumicino, recebido pelo general jesuíta.
Até mesmo as feições lembram as do padre francês, que, no entanto, nas fotografias autênticas é muito mais fascinante do que a descrição imaginária: "Jean Télémond era um homem que não podia passar despercebido. Com 1,90 m de altura, reto como o cano de uma arma, rosto magro, cabelos grisalhos e olhos azuis imperturbáveis e atentos, ele usava sua batina preta como um uniforme; até mesmo a cor amarelada malárica de sua pele e as rugas ao redor de sua boca com os cantos virados para cima contavam a história de suas campanhas em terras exóticas."
Superando a fantasia
Não vale a pena revelar mais, mas se a história imaginária do Padre Télémond é atraente, a realidade que a inspira supera a fantasia. Ainda mais fascinante é a história do aristocrata jesuíta, descendente pelo lado materno de Voltaire.
Há pelo menos umas trinta reconstruções de sua vida, mas a biógrafa mais recente, Mercè Prats, em um inteligente e magnífico livro (agora publicado em italiano pela Libreria Editrice Vaticana), não hesita em falar de um "eclipse" de Teilhard, "um completo desconhecido para muitos. No entanto, entre aqueles que a leem, ele continua a suscitar debates apaixonados", acrescenta.
Prats, historiadora autêntica que o estudou exaustivamente, debruçando-se sobre arquivos até então inacessíveis, opta em relatar a sua vida e parar "antes do florescimento de todos os 'ismos' associados ao seu nome". Mas não deixa de mencionar as diversas leituras de Teilhard: em 2015, o Papa Francisco o mencionou em uma nota na encíclica Laudato si' em relação a "Cristo Ressuscitado, fulcro da maturação universal".
Por sua vez, Jean-Luc Mélenchon, durante a campanha presidencial de 2022, chegou a afirmar que os textos do jesuíta lhe permitiram "transitar facilmente para a filosofia materialista".
Matéria e espírito
Mais do que Bergoglio, três de seus antecessores, embora não tenham revogado a advertência curial de 1962, efetivamente a colocaram de lado. Ecoando em 1966 uma convicção do paleontólogo autor de descobertas fundamentais na China — "quanto mais estudo a matéria, mais encontro o espírito" — Paulo VI afirma que Teilhard "foi capaz de ler nas coisas um princípio inteligente que deve ser chamado de Deus". Ao tentar conciliar fé e razão, sua obra é "fora do comum", escreveu Wojtyła em 1981.
Ratzinger, como teólogo e como papa, escreveu sobre o cientista diversas vezes, com sutis raciocínios e esclarecimentos, mas com substancial apreciação. Da última vez, em 2009, reitera a afirmação, que remonta à antiguidade cristã, de que o mundo inteiro "vai se tornar liturgia" e não uma realidade separada: "É a grande visão que Teilhard de Chardin também teve: no final, teremos uma verdadeira liturgia cósmica". A frase de Bento XVI apreende o ponto central do pensamento de Teilhard, que imagina o universo evoluindo em direção a um ponto final, "o ponto ômega", que é Cristo.
Para alcançar essa grandiosa construção, Teilhard é o protagonista de uma verdadeira "mística da travessia". Assim escreve Edith de la Héronnière, arrebatadora tanto quanto os inúmeros escritos do cientista, em um livro publicado na Itália pela L'Ippocampo e entremeado justamente por citações: em particular do diário e das muitas cartas desse "evolucionista cristão", especialmente à meia dúzia de amigas apaixonadas por ele, a começar por uma prima. Testemunhando profundos relacionamentos sentimentais nos quais, apesar de causar perplexidade, o jesuíta — apaixonado, mas rigoroso consigo mesmo — nunca quebrou seu voto de castidade.
O quarto de onze filhos, Pierre nasceu em 1881. Uma criança tímida e sonhadora, ingressou na Companhia de Jesus aos onze anos. Entre seus professores estava Henri Bremond, um estudioso de Newman que mais tarde abandonaria os jesuítas (mas não o sacerdócio) e — autor da monumental Histoire littéraire du sentiment religieux en France — entrou para a Academia da França. Cerca de trinta anos depois, ele se lembraria daquele aluno como "muito inteligente, o primeiro em tudo, mas com uma compostura desesperadora", possuído por "outra paixão, ávida, avassaladora, que o fazia viver longe de nós: as pedras".
O destino do jovem religioso está contido naquela frase de Bremond. Tendo também concluído na Inglaterra a culta formação que outrora era prerrogativa incomparável dos jesuítas, foi enviado para lecionar física e química em uma escola secundária no Cairo. Aromas do Oriente
Do “Oriente", ele se lembraria da " predileção por aquelas regiões quentes e desérticas da Arábia, repletas de aromas de incenso e de café", bem "consciente de como minhas simpatias e minha natureza — incapaz de prescindir do cristianismo — se inclinam inquestionavelmente para aquela parte do mundo ainda não cristianizada". Lá, ele também teceu uma profunda amizade com uma espécie de pirata, Henri de Monfreid. Não atraído pela filosofia e pela teologia, mas precisamente pelas "pedras", Teilhard tornou-se missionário após a experiência fundamental e terrível da Primeira Guerra Mundial, onde serviu como um ousado maqueiro. Suas viagens se multiplicaram, especialmente para a China, palco de suas principais descobertas, para a África e para a América. Também para se distanciar e se proteger do controle de Roma — que mesmo assim descreveu como "o polo cristão da Terra" por onde passa "o eixo ascendente da humanização" — e de sua ordem, durante os períodos de dura repressão antimodernista, de meados da década de 1920 ao início da década de 1950, defendido, porém, pelos mais importantes jesuítas do século: Henri de Lubac e Jean Daniélou.
Teilhard morreu repentinamente em Nova York, em 10 de abril de 1955, na casa de sua amiga Rhoda de Terra, onde tomava chá com outros amigos após assistir à missa mais solene, a Missa de Páscoa, na Catedral de São Patrício. "Deus tudo em todos" foram as últimas palavras transcritas (de São Paulo) em seu diário.
Leia mais
- Pierre Teilhard de Chardin. Apaixonado pelo mundo. Artigo de Vito Mancuso
- O jesuíta entre tecnologia e espiritualidade. Artigo de Gianfranco Ravasi
- Teilhard de Chardin, presença que permanece. Artigo de Faustino Teixeira
- A rapidez do devir. Entrevista com Paolo Trianni
- Pierre Teilhard de Chardin, cientista inovador, filósofo heterodoxo, místico jesuíta e poeta deslumbrante
- Teilhard de Chardin: um profeta do nosso tempo
- Teilhard de Chardin. Cientísta e místico. Revista IHU On-Line, Nº 140
- O futuro que advém. A evolução e a fé cristã segundo Teilhard de Chardin. Revista IHU On-Line Nº. 304
- A realidade quântica como base da visão de Teilhard de Chardin e uma nova concepção da evolução biológica. Artigo de Lothar Schäfer. Cadernos IHU ideias, Nº 45
- Teilhard de Chardin. A mística do fogo que vê na ciência a presença de Deus. Conferência com Carlos James dos Santos
- Em vez de missa on-line, rezo ‘A missa sobre o mundo’, de Teilhard
- Pierre Teilhard de Chardin. Completa-se um século da redação de “A potência espiritual da Matéria”
- Livro explica como Teilhard de Chardin uniu sua fé com sua experiência de mundo
- Rumo à comunidade eclesial, o caso de Theilard de Chardin
- Teilhard, uma nova linguagem
- Mística, estranha e essencial. Secularização e emancipação. Revista IHU On-Line, Nº. 435
- Rumo à comunidade eclesial, o caso de Theilard de Chardin
- Como a resposta de Teilhard à censura do Vaticano finalmente veio à tona
- Hora de reabilitar Teilhard de Chardin?
- Teilhard de Chardin: a Igreja que reabilita o jesuíta darwinista. Artigo de Alberto Melloni
- A visão de Pierre Teilhard de Chardin. Um mundo em mudança
- Teilhard de Chardin, um homem extremamente contemporâneo
- A ultrafísica de Teilhard de Chardin