19 Setembro 2025
"Tudo está destruído. Tudo está arrasado. Inabitável." O Padre Ibrahim Faltas tem dificuldade para falar.
Franciscano, nascido no Egito há sessenta e um anos, vive na Terra Santa, entre Israel e Palestina, há trinta e seis. Foi pároco de Belém antes de se tornar vigário da Custódia e diretor das dezoito escolas franciscanas. Ele viu muita coisa. Mas agora sua voz ao telefone soa trincada pela emoção: "É inacreditável..."
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 17-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Em que sentido, Padre?
Veja, eu vivi a primeira e a segunda intifadas, estava na Basílica quando em Belém houve o cerco da Natividade. Mas eu nunca vi nada assim, nunca. O medo de todos, o sofrimento de todos...
O senhor ficou surpreso com a invasão da Cidade de Gaza?
Claro, ninguém realmente esperava algo assim. Esperávamos que parassem antes.
O presidente israelense Herzog havia assegurado a Leão XIV que não haveria a ocupação da Faixa de Gaza...
Eram palavras, palavras. Ouvimos muitas. O que está acontecendo é terrível. A situação na Cidade de Gaza e em toda a Faixa de Gaza é um inferno. Tudo está queimando, tudo. Ninguém sabe quantos mortos haverá. Há também os reféns israelenses... Uma situação como essa assusta a todos.
Para onde poderão ir os palestinos na Faixa?
Ninguém sabe ou pode responder. Ouvi algumas pessoas em Gaza; estão desesperadas. As crianças perguntam: para onde iremos agora? Nem lembram e quantas vezes tiveram que se transferir. E as mães e os pais não sabem o que dizer a elas. Afinal, nem todos têm condições de ir embora, nem mesmo de correr ou caminhar. Há muitos idosos, muitos doentes, muitos com deficiência. Os bombardeios são constantes, na Cidade de Gaza, em todos os lugares. E mesmo quando acabar, para onde poderão ir? Dois milhões de pessoas, e não há mais nada de pé.
O que pode ser feito?
Os EUA e a comunidade internacional devem intervir. A guerra deve acabar. Quem se beneficia? É uma derrota para todos. Os familiares dos reféns estão desesperados. Aqui em Jerusalém e em todo o país, as manifestações contra a guerra continuam.
Como estão os cristãos em Gaza?
Há 450 pessoas na paróquia. Estão lá, resistem. Um bombardeio caiu a duzentos metros.
O Vaticano continua apoiando a solução "dois povos, dois Estados". Parece uma utopia agora, não é?
Mas, no entanto, não há outro caminho. O que mais poderia ser? Não podem viver assim para sempre.
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