Os ataques de Putin na Polônia e os ataques de Israel no Catar minam a influência internacional de Trump

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11 Setembro 2025

Os incidentes destacam o fracasso da estratégia do presidente dos EUA.

A reportagem é de Iker Seisdedos, publicada por El País, 11-09-2025.

Dois golpes no tabuleiro geopolítico, separados por apenas algumas horas, serviram para evidenciar o fracasso, até o momento, da estratégia de Donald Trump para alcançar a paz nas duas guerras que ele prometeu encerrar assim que assumisse o cargo. Também colocaram em questão a credibilidade internacional de Trump e sua imagem como líder do clube dos homens fortes, que também inclui o presidente russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, dois líderes determinados, nestes dias, a testar a paciência do republicano.

Primeiro, houve o bombardeio unilateral israelense contra líderes do Hamas em Doha, capital do Catar. A Casa Branca reconheceu posteriormente que Washington não havia sido avisado da operação militar, embora os militares americanos tenham alertado Trump, que à noite, em um gesto incomum, criticou Netanyahu, seu grande aliado no Oriente Médio (e também, nas palavras de ambos, um "amigo"), por bombardear outro aliado dos EUA na região.

Posteriormente, o presidente americano compartilhou seu "descontentamento" com a imprensa. "Temos que garantir a libertação dos reféns. Mas estou muito decepcionado com a forma como tudo se desenrolou", declarou, referindo-se ao fato de seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, ter alertado as autoridades catares sobre o ataque, conforme solicitado por Trump, quando as bombas já estavam caindo sobre Doha.

Na mesma época em que Trump fez esses comentários em frente a um restaurante em Washington, surgiu a notícia de que 19 drones russos haviam sido abatidos após invadir o espaço aéreo polonês. Isso marca o primeiro ato real de intimidação de Moscou contra um membro da OTAN desde o início da guerra na Ucrânia, há três anos e meio, e pode ser interpretado como uma escalada do conflito com consequências imprevisíveis. A Polônia abateu os drones com a ajuda de outros aliados da OTAN (como a Holanda, que forneceu dois F-35), e seu primeiro-ministro, Donald Tusk, descreveu o incidente como "um ato de agressão".

O Kremlin sustenta que Varsóvia não era "o alvo", e a vizinha Bielorrússia, aliada de Moscou, afirma que os drones "perderam o curso". Até que o incidente seja esclarecido (Mark Rutte, secretário-geral da OTAN, considerou nesta quarta-feira que, "intencional ou não, este é um ataque imprudente e perigoso"; nem é um "incidente isolado"), uma coisa é clara: Putin continua a se fazer de bobo com Trump sem grandes consequências.

Durante a campanha eleitoral que o trouxe de volta à Casa Branca, Trump prometeu acabar com a guerra na Ucrânia em seu primeiro dia no Salão Oval. 233 dias se passaram e não houve nenhum progresso digno desse nome em direção à paz com Kiev. Também já se passaram 22 dias desde que Putin e Trump se encontraram em uma base militar em Anchorage, Alasca. O encontro não apenas libertou seu homólogo do isolamento internacional em que se encontrava e ignorou as ameaças de impor novas tarifas à Rússia para forçar uma mudança de atitude no Kremlin; ele também aceitou as principais exigências de Putin e começou a falar sobre o fim da guerra. No total, a Rússia ocupou quase 20% do país vizinho.

Desde então, Putin vem elogiando Trump e intensificando seu esforço de guerra, que, além da invasão do espaço aéreo polonês, incluiu o maior ataque com mísseis e drones, lançado no último domingo contra a Ucrânia desde o início da guerra. Todas essas ações militares parecem ter como objetivo provocar Trump a endurecer sua posição em relação à Rússia e deixar claro que Putin só está disposto a encerrar a guerra na Ucrânia em seus próprios termos.

A invasão da Polônia por drones ocorre uma semana após a visita a Washington do presidente polonês Karol Nawrocki, historiador ultranacionalista e boxeador amador com quem Trump compartilha uma conexão pessoal. Durante a visita, o presidente americano prometeu que seu país manteria uma forte presença militar na Polônia. "Nós os apoiaremos em todos os momentos", prometeu Trump.

O ministro das Relações Exteriores polonês, Radek Sikorski, dirigiu-se ao republicano durante uma coletiva de imprensa em Varsóvia na quarta-feira, exigindo que ele cumprisse essas promessas. "Putin ri dos esforços de paz do presidente Trump", declarou Sikorski. "Desde o Alasca, ele só intensificou a guerra. Espero que [o presidente dos EUA] cumpra suas palavras com ações".

Enquanto aguardamos para ver se os desejos de Sikorski serão atendidos e a reação de Washington à Polônia, país com o qual os Estados Unidos compartilham a condição de membros da OTAN e com o qual, portanto, estão vinculados por um compromisso de defesa mútua, conforme previsto no Artigo 5º do Tratado da OTAN, podemos concluir que a provocação da Rússia e as ações unilaterais de Israel estão minando a imagem que Trump busca projetar: a de um estadista que veio restaurar a ordem no cenário internacional. Elas também estão minando suas aspirações de ganhar o Prêmio Nobel da Paz, prêmio que ele acredita merecer por seus esforços para pôr fim às guerras em Gaza e na Ucrânia, que ainda não se concretizaram.

É irônico que nesta terça-feira, enquanto o Exército polonês abateu os drones russos que invadiram seu espaço aéreo, Trump exerceu outro tipo de pressão sobre o Kremlin, certamente mais suave, quase como uma pressão de salão, ao instar seus aliados da UE a impor tarifas de até 100% à China e à Índia, os principais compradores de petróleo russo, como parte de uma estratégia para pressionar Putin, de acordo com vários relatos da mídia americana.

Uma delegação da UE está atualmente em Washington para discutir a coordenação de sanções entre os dois aliados. Segundo a Reuters, a operação seria concluída com a imposição de tarifas semelhantes por Washington, assim que a UE der o primeiro passo. Se ficar comprovado que a crise dos drones na Polônia faz parte do plano de Putin para escalar o conflito para além da Ucrânia, essas armas econômicas podem não ser suficientes.

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