08 Setembro 2025
James Martin, jesuíta conhecido nos Estados Unidos por seu incansável apoio pastoral aos católicos LGBTQ+ e um dos promotores da peregrinação a São Pedro, tem certeza de que o Papa Leão XIV, que o recebeu há poucos dias no Vaticano, dará continuidade às aberturas do Papa Francisco.
A entrevista é de Iacopo Scaramuzzi, publicado por La Repubblica, 07-08-2025.
Eis a entrevista.
Tudo isso seria imaginável apenas alguns anos atrás?
Não, não teria acontecido antes do Papa Francisco.
Mas também no Jubileu Extraordinário de 2015-2016, não houve uma peregrinação LGBTQ+: as pessoas têm menos receio de se assumir?
É um processo do Espírito, e o Espírito precisa de algum tempo para converter os corações. Quanto mais pessoas se assumem, mais paróquias, dioceses e bispos acabam sendo envolvidos. Dizem que as pessoas LGBTQ+ são uma minoria, o que é verdade, mas seus pais, seus irmãos e irmãs, seus amigos, seus vizinhos, seus colegas de trabalho são um grupo grande.
No catecismo, porém, a homossexualidade continua sendo "uma inclinação intrinsecamente desordenada". Isso mudará?
Para muitos, isso é uma dificuldade, mas o catecismo também diz que os homossexuais devem ser tratados com respeito, compaixão e sensibilidade. Lembro também que o ensinamento da Igreja não é simplesmente uma livro, é uma pessoa, Jesus, que sempre ia ao encontro das pessoas marginalizadas.
O que mais o impressionou na missa celebrada antes da peregrinação?
O fato de dom Savino ter contado que o Papa lhe disse: vá e celebre a missa.
O senhor foi recebido por Leão há poucos dias: como foi?
Ele foi muito aberto, muito relaxado, muito sereno, e sua mensagem é que ele dará continuidade à abertura do Papa Francisco em relação às pessoas LGBTQ+.
No entanto, parece mais calmo; talvez falará menos sobre esse tema?
Acho que apenas se trata de uma personalidade diferente. E também é mais jovem, então não tem a pressa que Francisco tinha. Mas ele é um ótimo ouvinte, muito inteligente, e acho que será um amigo para as pessoas LGBTQ+.
Sua audiência com o Papa desencadeou os protestos habituais dos conservadores: o que pensa a respeito?
Se eles estão decepcionados por ele ser uma pessoa aberta e que escuta, eu realmente não entendo qual é o problema.
Os conservadores, no entanto, existem e não aceitam as aberturas em relação a gays, lésbicas e pessoas trans. O que prevê: eles se convencerão, se oporão, haverá um cisma?
Não acho que haverá um cisma, mas acho que os debates, as discussões e os fatos não são tão convincentes quanto os encontros: o que realmente muda a mentalidade das pessoas é descobrir que alguém em sua família é homossexual, ou que alguém de seu círculo, que conhecem e amam, é homossexual e se assume. Encontrar-se com essas pessoas, não as ver mais como categorias e estereótipos, mas como seres humanos. Quanto mais pessoas se assumem, quanto mais cardeais e bispos, padres e freiras descobrem que têm, por exemplo, um sobrinho ou sobrinha homossexual, mais as coisas mudam. É aí que acontece a conversão.
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