04 Setembro 2025
Novas manifestações são esperadas nesta quarta-feira (3) em Israel, organizadas por familiares que exigem a libertação dos reféns ainda mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza. A população israelense, no entanto, está dividida quanto ao fim da guerra. Diversos protestos têm sido realizados em frente ao Parlamento: enquanto alguns pedem o fim imediato do conflito, outros defendem a continuidade da ofensiva.
A reportagem é de Frédérique Misslin, correspondente da RFI em Jerusalém, 03-09-2025.
Ex-soldados que não podem mais lutar no front também se manifestam. Sofrendo de transtorno de estresse pós-traumático, eles não querem ser esquecidos.
Israel Hayat era médico do Exército e deixou a Faixa de Gaza há sete meses. Hoje, o ex-combatente relata seus pesadelos. Em entrevista à RFI, ele diz que a memória da guerra ainda é muito presente em seus pensamentos.
“Cada soldado que você vê aqui é um cadáver ambulante. Meu corpo está aqui, estou falando com você, mas minha mente está em Gaza”, diz. O doutor Hayat descreve as dificuldades que enfrenta desde que voltou da guerra.
“Vou para a cama pensando em Gaza e acordo pensando em Gaza. Tenho surtos repentinos de violência. Uma tela preta desce diante dos meus olhos. Não consigo ver nada. Posso quebrar tudo na minha casa. Apago cigarros nos braços, me corto. E quando acordo, não me lembro de nada", relata.
Antes de sofrer de transtorno de estresse pós-traumático, Israel Hayat pertencia à Brigada Golani, um batalhão da linha de frente no enclave palestino.
“Já estive em muitos combates. Vi amigos serem despedaçados. Alguns morreram em meus braços, enquanto eu tentava reanimá-los. Ouvi suas últimas palavras, que transmiti aos seus pais. Estes são tempos muito difíceis. Perdi 23 amigos, 23 irmãos”, conta.
Centenas de soldados israelenses já morreram em Gaza
Após quase dois anos de guerra contra o grupo palestino Hamas, Israel intensificou os preparativos militares para uma nova ofensiva anunciada na Cidade de Gaza. Na terça-feira (2), 40 mil reservistas foram reintegrados às fileiras do Exército.
Muitos desses reservistas estão deixando suas vidas, famílias e empregos para trás pela quarta ou quinta vez desde o início da guerra, desencadeada pelo ataque do Hamas em território israelense em -07-10-2023.
Nos últimos dois anos, mais de 450 soldados israelenses morreram na Faixa de Gaza. Cinquenta e nove deles cometeram suicídio. Enquanto isso, segundo dados da Defesa Civil Palestina, mais de 63 mil palestinos morreram em Gaza desde o início da guerra.
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