04 Setembro 2025
O desfile sinaliza um salto decisivo para o exército: estão em exibição armas capazes de atingir os EUA e os fuzileiros navais no Pacífico.
A reportagem é de Gianluca Di Feo, publicada por La Repubblica, 04-09-2025.
Um silo instalado em um veículo muito longo, com tração nas dez rodas, com uma única inscrição na lateral — DF-61 —, o suficiente para causar arrepios nos escritórios do Pentágono. Essa sigla atesta que a China implantou um novo míssil nuclear intercontinental, provavelmente mais avançado do que se temia anteriormente, e está pronta para desafiar diretamente os Estados Unidos na corrida nuclear. A preocupação de Washington com o crescente arsenal nuclear de Pequim está agora sendo concretizada pelas armas exibidas no desfile na Praça da Paz Celestial. Diz-se que o DF-61 tem um alcance de 15 mil quilômetros e um cone de ogiva com 14 ogivas para incinerar várias cidades simultaneamente: "um instrumento de dissuasão" — como enfatizou o comentarista da televisão estatal chinesa — mas direcionado diretamente aos Estados Unidos. Não é o único. A República Popular da China exibiu todos os seus cinco "cavaleiros do Apocalipse": além dos três modelos existentes e do DF-61, estreou o JL-1 Thunderbolt, menor e mais aerodinâmico por ser lançado de aeronaves. Isso tem importância estratégica: a China agora também possui uma "tríade nuclear", com armas capazes de atacar do ar, do solo e de submarinos.
🇨🇳 Se você perdeu o Desfile da Vitória da China, aqui está um vídeo de 60 segundos com os principais momentos.
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Via @DD_Geopolitics pic.twitter.com/B6i1UrZPXD
É claro que, como nos lembra o general australiano Mick Ryan, "desfiles não são indicadores da real capacidade de combate", mas o show de artes marciais de ontem destacou o "Grande Salto Adiante", para citar Mao, realizado em apenas dez anos pelo Exército Popular. A Força Aérea mobiliza caças furtivos, radares voadores e aviões-tanque de reabastecimento de alta altitude; a Marinha possui porta-aviões com esquadrões de caças avançados e inúmeros mísseis; as forças terrestres possuem escudos antidrones com lasers, micro-ondas e microinterceptadores que a OTAN está apenas começando a projetar. Mas mais impressionante do que a qualidade — ainda a ser demonstrada — das inovações é a enorme quantidade de projetos, que, por um lado, pode resultar em desperdício de recursos, mas, por outro, torna o sistema industrial militar chinês muito mais resiliente em caso de um conflito de larga escala: a guerra na Ucrânia demonstrou que os números importam, talvez mais do que a tecnologia.
🇨🇳 As formações militares femininas da China são impressionantes!
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Parada da Vitória, Beijing, 3 de setembro de 2025. pic.twitter.com/x0tQOShATk
E o grande número de veículos e soldados que a China mobiliza continua impressionante. As táticas, no entanto, também foram revolucionadas, com o objetivo — definido como "defensivo" pelos oradores — de varrer a Marinha dos EUA do Pacífico e invadir Taiwan. Assim, além do míssil "Guam Killer", projetado para atingir a principal base americana, dois novos mísseis hipersônicos de 10 mil quilômetros por hora foram implantados, projetados para bombardear navios e postos avançados da Marinha. Para proteger suas ilhas-fortaleza que impedem a navegação nos estreitos, os chineses têm uma tripla camada de armas apontada para o céu: incluindo baterias HQ-29, que prometem desintegrar mísseis balísticos fora da atmosfera e são até capazes de derrubar satélites.
O Pentágono não está subestimando a ameaça. Enquanto o Estado-Maior Conjunto estuda respostas operacionais, de hipersônicos a bombardeiros furtivos B-21, Donald Trump prefere investir bilhões no "Golden Dome", o sistema de defesa antimísseis. Mas o alarme com as novas garras do Dragão não se limita aos EUA. "Há uma questão muito interessante", sugeriu Mike Ryan: "O que Putin e seus generais pensaram quando assistiram ao desfile? Eles certamente estão preocupados. Eles lutaram contra a China no século passado e agora tiveram que transferir grande parte de suas forças da Sibéria para lutar na Ucrânia. Os russos, no entanto, estão fazendo uma coisa de cada vez: o desfile celebra a vitória sobre o Japão, contra o qual a URSS declarou guerra somente após derrotar o Terceiro Reich".
Não se trata apenas de uma foto da Cúpula da Organização para a Cooperação de Xangai. É a estampa da marcha do Sul Global para a nova ordem, enquanto o antigo centro sistêmico se isola com políticas erráticas e unilaterais, a China assume as rédeas da transição sistêmica. 🧶🇨🇳 pic.twitter.com/5LJ5Qvqbs4
— Diego Pautasso 🧉 (@dgpautasso) September 3, 2025
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