"Mariam era corajosa e doce, doou um rim para mim. Gostaria que agora pudesse ver os elogios ao seu trabalho". Entrevista com Riyad Mohammed Abu Dagga

Foto: Rawanmurad2025 | Wikimedia Commons

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29 Agosto 2025

Se ele tivesse xingado, acusado ou gritado palavras de ódio, ninguém poderia ter se oposto. Porque a dor de um homem cuja filha foi morta é inquestionável. Mas Riyad Mohammed Abu Dagga, pai de Mariam, jornalista assassinada com outros quatro colegas no bombardeio israelense ao hospital Khan Younis três dias após o ataque que mudou o destino de sua família, prefere falar de paz e se dirige ao povo israelense.

A entrevista é de Greta Privitera, publicada por Corriere della Sera, 28-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

O que gostaria de dizer?

O que está acontecendo em Gaza é uma tragédia. Peço ao povo israelense que protesta que nos ajude a parar a guerra. Peço também aos estadunidenses e à comunidade internacional. Gostaria que os mediadores, o presidente egípcio al-Sisi, o emir do Catar e Benjamin Netanyahu me ouvissem: chega de bombas que matam os nossos filhos. Queremos viver como todos. Amamos a paz e a vida. Somos instruídos, sabemos que nos conflitos se perde e basta. A paz é o nosso desejo.

Fale-nos sobre Mariam.

Sou pai de 11 filhos. Seis rapazes e cinco garotas, tenho cinquenta netos. Mariam era a minha garota especial; quando criança, sempre queria estar comigo e me fazia muitas perguntas: sonhava em ser jornalista. Era uma mulher sensível e doce como o mel; gostava de estudar e frequentou a universidade. Deus tenha piedade dela. Era afetuosa e, após a morte da mãe, tomou conta de mim. Todos em Gaza a amavam, a conheciam pelo seu trabalho tão respeitoso e, hoje, aqueles que me encontram na rua compartilham memórias que guardarei para sempre. Nesta guerra, já havia perdido outro filho e um neto.

O senhor tinha medo da profissão de Mariam?

O jornalismo era a sua paixão. Quando veio me contar que tinha escolhido ser repórter, eu disse para ela confiar em Deus. Se esse era o seu desejo, o que eu poderia fazer? Ela estudou seriamente até conseguir, também trabalhava para jornais internacionais. Era corajosa e determinada. Já era mãe quando começou a faculdade e, quando ia para a aula ou para o trabalho, eu era quem cuidava do seu filho, Ghaith.

Como está seu neto?

Não está bem, mas é um garoto forte. Está nos Emirados com o pai. Assim que a guerra começou, Mariam queria que eles saíssem do país; não queria se separar dele porque ele era a coisa mais preciosa que ela tinha, mas fez isso para o bem dele. Em Abu Dhabi, há muitas pessoas que o amam e ele vive em paz.

Como ficou sabendo da morte da mãe?

É grande, tem 13 anos e lê as notícias nas redes sociais. Na segunda-feira, viu que o Hospital Nasser foi atingido. Sabia que a mãe dormia lá. Ligou para ela e conseguiram conversar. Depois, ela correu para filmar o local da explosão. Ghaith ligou de volta, mas a ligação não foi atendida: havia ocorrido o segundo ataque, aquele que a matou. Conversamos e eu disse a ele que Mariam estava desaparecida. Coube a mim avisá-lo que ela estava morta.

No passado, sua filha doou-lhe um rim.

Eu não estava bem, e ela me obrigou a ir ao hospital para me consultar: não gosto de hospitais. Naquele dia, descobrimos que eu tinha um problema renal grave. Inicialmente, o doador deveria ser um dos meus filhos mais velhos, mas não era compatível. Então ela se ofereceu. Eu não queria, mas ela insistiu. Sempre foi altruísta. Sinto muita falta dela; sinto tristeza, mas também muito orgulho.

Por quê?

Vejo suas belíssimas fotos publicadas nos jornais do mundo todo. Escrevem que era uma jornalista talentosa, um exemplo. É uma honra para a nossa família e para a Palestina. Eu gostaria muito que também Mariam soubesse o que dizem sobre ela.

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