29 Agosto 2025
A Caritas Internationalis, uma das maiores organizações humanitárias do mundo, denunciou o cerco de Gaza por Israel, que, segundo o grupo, “se tornou um mecanismo de aniquilação, sustentado pela impunidade e pelo silêncio, ou cumplicidade, de nações poderosas”. A organização pediu um cessar-fogo imediato e o fim da guerra em Gaza.
A reportagem é de Gerard O'Connell, publicada por America, 25-08-2025.
Em uma declaração emitida hoje, 25 de agosto, de sua sede no Vaticano, sob o título “Fome provocada pelo homem e ataque à cidade de Gaza”, a Caritas Internationalis descreveu a fome em Gaza, recentemente confirmada pelas Nações Unidas, como “o resultado de uma estratégia deliberada: bloqueio de ajuda, bombardeio de comboios de alimentos, destruição de infraestrutura e negação de necessidades básicas”.
O documento recordou que, em 20 de agosto, “forças israelenses invadiram a Cidade de Gaza, onde quase um milhão de civis deslocados buscavam refúgio, muitos já famintos. Dois dias depois, em 22 de agosto, as Nações Unidas declararam estado de fome. Àquela altura, o estrago já estava feito: 273 pessoas já haviam morrido de fome, incluindo 112 crianças”.
A declaração de fome da ONU, disse, "não foi um aviso, mas uma confirmação sombria do que as organizações humanitárias vêm dizendo há meses: os habitantes de Gaza há muito tempo sofrem uma descida deliberada à fome".
"Isto não é guerra. É a destruição sistemática da vida civil", afirmou o grupo.
No comunicado enviado à imprensa internacional, a Caritas Internationalis disse que “é testemunha deste horror” em que “civis, principalmente crianças e mulheres, estão sendo vítimas de fome, bombardeados e eliminados”.
Denunciou o facto de “governos influentes, corporações e multinacionais terem possibilitado esta catástrofe através de apoio militar, ajuda financeira e cobertura diplomática” e disse: “o silêncio deles não é neutralidade, é apoio”.
“A fome em Gaza é um teste de integridade moral, e muitos fracassaram”, dizia. “Matar uma população de fome é profanar a vida. Permanecer em silêncio é ser cúmplice”.
Ele acrescentou que “esses atos e omissões… representam um flagrante desrespeito aos valores e princípios fundamentais da humanidade e violam claramente o Direito Internacional, o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Direitos Humanos, bem como inúmeras disposições de Convenções específicas da ONU, incluindo a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio”.
Gaza é um enclave do tamanho da Filadélfia, com uma população de cerca de 2,1 milhões de palestinos. O Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, descreveu-a como "uma prisão a céu aberto", onde a entrada e saída de pessoas é inteiramente controlada por Israel. Desde os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, mais de 60 mil palestinos foram mortos ali pelas forças israelenses, incluindo mais de 18 mil crianças.
A Caritas Internationalis é uma confederação de 164 organizações católicas nacionais de assistência, desenvolvimento e serviço social, que operam em mais de 200 países e territórios. Sua secretaria geral está sediada no Vaticano e é chefiada por Alistair Dutton. É "uma organização católica e, portanto, além de prestar assistência humanitária, temos que levar esperança às pessoas, esperança de vida, esperança para o futuro", disse o Cardeal Tarcisio Isao Kikuchi, arcebispo de Tóquio e atual presidente da confederação, em uma coletiva de imprensa no Vaticano em maio de 2023.
A Caritas Internationalis concluiu sua declaração hoje com sete exigências específicas, muitas das quais a Santa Sé já solicitou:
1. Um cessar-fogo imediato e permanente.
2. Acesso humanitário irrestrito para acabar com a fome e fornecer cuidados.
3. Libertação de todos os reféns e pessoas detidas arbitrariamente.
4. Desdobramento de uma força de paz da ONU para proteger civis.
5. Proteção de todos os civis, especialmente crianças, mulheres e idosos.
6. Responsabilização de todos os perpetradores e facilitadores perante tribunais nacionais e internacionais.
7. Implementação total do Parecer Consultivo do CIJ de 19 de julho de 2024, incluindo: Acabar com a presença ilegal de Israel no Território Palestino Ocupado, Cessar a atividade de assentamento e evacuar os colonos, Fornecer reparações, Exigir que os estados rejeitem a situação ilegal, Mandatar os órgãos da ONU para tomar medidas concretas para acabar com a ocupação.
A Caritas Internationalis encerrou com um apelo a “todas as pessoas de fé e consciência”, pedindo-lhes que “levantem suas vozes, pressionem seus governos e exijam justiça. O mundo está assistindo. A história está registrando. E Gaza espera, não por palavras, mas por salvação”.
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