21 Agosto 2025
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Religion Digital, 20-08-2025.
"O verdadeiro perdão não espera o arrependimento, mas se oferece primeiro, como um dom gratuito, antes mesmo de ser aceito ." Com estas palavras, Leão XIV comentou a passagem do Evangelho de João que descreve Jesus oferecendo pão também ao traidor Judas.
É uma lógica divina, tão distante da lógica humana do "do ut des" . Jesus, explicou o Papa, não está alheio ao que está acontecendo, mas justamente porque vê com clareza, sabe que "a liberdade dos outros, mesmo quando se desviam para o mal, ainda pode ser alcançada com a luz de um gesto de gentileza".
É o escândalo do perdão "preventivo", que se antecipa com a oferta do abraço da misericórdia, sem exigir quaisquer pré-condições. Assim como aconteceu com o publicano Zaqueu, que se arrependeu porque foi chamado e acolhido por Jesus, que se convidou para sua casa, para grande perplexidade de todos diante do gesto do Nazareno de romper com a tradição e as convenções.
Como nossas vidas e nossos relacionamentos precisam desse perdão. Como o nosso mundo precisa desse perdão, que "não é esquecimento, não é fraqueza". Lembro-me das palavras proféticas da mensagem de João Paulo II para o Dia Mundial da Paz de 2002, publicada logo após os ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos.
Enquanto todos pensavam em guerra "preventiva" , após a enormidade do atentado, o Pontífice quis dizer que "não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão". "Muitas vezes", afirmou o Papa Wojtyla, "parei para refletir sobre a seguinte questão: qual é o caminho que leva à plena restauração da ordem moral e social tão brutalmente violada? A convicção a que cheguei através do raciocínio e do confronto com a Revelação bíblica é que a ordem quebrada não pode ser totalmente restaurada a menos que a justiça e o perdão sejam combinados. Os pilares da verdadeira paz são a justiça e aquela forma particular de amor que é o perdão". Não apenas os indivíduos, mas também "as famílias, os grupos, os Estados, a própria comunidade internacional, precisam se abrir ao perdão para restaurar laços rompidos, superar situações de condenação mútua estéril e superar a tentação de excluir os outros sem lhes conceder a oportunidade de apelar. A capacidade de perdoar é a base de qualquer projeto para uma sociedade futura mais justa e solidária".
A falta de perdão, por outro lado, explicou João Paulo II, "especialmente quando alimenta a continuação dos conflitos, tem um custo enorme para o desenvolvimento dos povos. Os recursos são usados para financiar a corrida armamentista, os custos das guerras e as consequências das represálias econômicas. Assim, faltam os fundos necessários para promover o desenvolvimento, a paz e a justiça. Quanto a humanidade sofre por não saber se reconciliar, quantos atrasos sofre por não saber perdoar! A paz é a condição para o desenvolvimento, mas a verdadeira paz só é possível através do perdão."
O Papa Leão concluiu a audiência explicando que " sem perdão nunca haverá paz ". Ele nos convidou para um dia de oração e jejum pela paz na sexta-feira, 22 de agosto, para implorar a intercessão de Maria, Rainha da Paz, e pedir a Deus paz e justiça para um mundo devastado pela guerra. Para o nosso mundo, que precisa desesperadamente de perdão "preventivo".