19 Agosto 2025
Entrevista com o chefe de estudos palestinos no Centro Moshe Dayan: "Muitos se recusam a lutar na Faixa: junto com a greve, seu descontentamento terá um forte impacto político".
A entrevista é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 19-08-2025.
Voltamos à estaca zero. Pouca coisa mudou entre esta proposta aceita pelo Hamas e o que esteve na mesa de negociações nos últimos dois meses, embora precisemos entender cuidadosamente todas as cláusulas do novo rascunho. Acredito que, sem pressão real de Trump, o que não vejo no momento, Netanyahu prosseguirá com o plano de ocupação da Cidade de Gaza. Michael Milshtein, um dos mais competentes e experientes analistas israelenses e chefe de estudos palestinos do Centro Moshe Dayan, decifra assim a mais recente reviravolta no destino de Gaza, onde o número de mortos ultrapassou 62 mil e centenas de milhares de moradores de Gaza se preparam para fugir para o sul.
Somente o presidente dos EUA pode impedir o plano de Netanyahu?
Há outro fator a considerar: a praça lotada do último domingo. Meio milhão de pessoas protestando em Tel Aviv contra a continuação da guerra sem dúvida pressiona o governo, especialmente em relação à questão dos reservistas que não querem mais retornar a Gaza.
Quão difundido é o fenômeno?
Se o plano de ocupação total da Faixa de Gaza for implementado, como parece, o exército precisará convocar centenas de milhares de reservistas. A oposição está crescendo. A maioria dos soldados está disposta a ser enviada para a Síria ou a Cisjordânia, mas não para Gaza. Até o momento, houve de 10 a 20 casos de pessoas enviadas para prisões militares por esse motivo, mas o fenômeno está crescendo. Isso é algo novo para o nosso país. E, dada a alta consideração que os israelenses têm pelas Forças Armadas, o descontentamento dos reservistas terá um forte impacto político.
O que poderia acontecer?
Isso não levará necessariamente a uma explosão de raiva semelhante à de uma intifada, mas os protestos aumentarão em frequência e intensidade. Por exemplo, os organizadores que convocaram a greve geral há dois dias já convocaram outra para domingo.
Espero uma participação massiva, especialmente se a manobra militar na Cidade de Gaza começar.
As manifestações do último domingo exigiram a devolução dos reféns e o fim de uma guerra que os israelenses não querem mais travar, mas não houve tanta preocupação com o massacre de civis palestinos e a destruição da Faixa de Gaza. O que você pensa?
Você tem razão. Muitos israelenses estão cientes do que está acontecendo em Gaza, e não acho que estejam felizes em ver os palestinos sofrerem. É igualmente verdade que esse não é o motivo que os leva em massa às ruas para protestar contra o governo de Netanyahu. Durante as manifestações, alguns grupos de esquerda desenvolveram slogans denunciando uma nova Nakba em andamento em Gaza. Eles eram uma minoria, e os líderes dos protestos também se ressentiam deles, temendo que fossem explorados pela direita para argumentar que a greve geral é contra os interesses de Israel.
Por que Netanyanu não pode aprovar a proposta de trégua?
Oficialmente, ele declarou que só está disposto a negociar um acordo completo, não parcial, e somente se o Hamas concordar em se desarmar e se retirar da Faixa de Gaza. Mas, se decidir deixar a porta aberta para negociações, terá que lidar com ministros como Ben-Gvir, que, como era de se esperar, ficou furioso ontem quando os vazamentos sobre o novo projeto surgiram.
Por quê?
Porque a proposta do Egito e do Catar prevê que as partes comecem a negociar um fim definitivo para o conflito no primeiro dia do cessar-fogo. É exatamente isso que Ben-Gvir não quer.