12 Agosto 2025
Como "uma jaula cada vez mais estreita". Esse é o sentimento, como ratos numa armadilha, que permeia a alma dos moradores de Gaza. Vinte e dois meses de guerra, após décadas de cerco, não conseguiram dobrar seu espírito. Mas a provação que têm pela frente é ainda mais terrível, angustiante. A escolha é entre "morrer lentamente de fome ou sobreviver entre bombardeios contínuos". O centro e os subúrbios do sul da Cidade de Gaza, bem como a cidade de Deir al-Balah, mais ao sul, e partes de Khan Younis e Nuseirat, são os últimos lugares que ainda não estão sob controle do exército israelense. Famílias foram deslocadas duas, três, quatro vezes. Agora, nesses espaços apertados e superlotados, em meio a tendas provisórias e casas semidestruídas, chegará uma nova onda de refugiados.
A reportagem é de Majid al-Assar, publicada por La Stampa, 09-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Amna Jameel tem 55 anos. Ela fugiu da Cidade de Gaza para o campo de refugiados de Nuseirat no início da guerra. "A morte se tornou um sistema na Cidade de Gaza. Famílias inteiras desaparecem dos registros, dizimadas pela agressão israelense. Agora Netanyahu ameaça ocupar a outra metade da cidade, mas o que mais, o que pior, pode fazer? Ele já matou de fome, matou e expulsou a maior parte da população. Não vivemos mais uma vida digna de ser vivida. Somos esmagados por uma máquina de guerra que não nos deixa tempo nem para chorar". É uma realidade insuportável. Mas não há escapatória. Todos os dias, pessoas arriscam suas vidas para obter um pacote de ajudas, nos centros de distribuição ou onde as ajudas caem de paraquedas do céu.
E seu grito de desespero sobe aos céus. "Temo que a ocupação nos prenda em um espaço ainda menor do que aquele em que vivemos", disse Nawal Hammad, 67. "Estou tentando juntar a pouca comida que tenho para sobreviver, mas receio não poder levá-la comigo durante a deportação. Estes são dias difíceis e não sei o que fazer". Abu Muhammad Ziyad, de 60 anos, compartilha esse sentimento: "Estamos vivendo em tendas há meses, mal abrigados. Somos um povo que ama a vida e a paz, por que prolongar a guerra? Israel não está lutando contra o Hamas, está matando todos os palestinos, crianças inocentes, civis indefesos".
Até mesmo o chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, descreveu a operação como uma campanha longa e custosa, com alto risco de vítimas civis e riscos para os reféns, mas o plano segue em frente. No campo, Israel controla atualmente cerca de 75% do território de Gaza, conquistado por meio de vastas operações como as "Carruagens de Gideão", que garantiram toda Rafah, parte de Khan Younis e a parte oriental da Cidade de Gaza. Civis sofreram tudo isso em sua própria pele.
"Provamos a morte em todas as suas formas", conta Bilal Al-Kahlout. "Desmontamos nossas tendas e fugimos, humilhados e sem nada, como avestruzes de cabeça baixa. Perdemos parte de nossa humanidade".
A terceira alternativa, além da fome e das bombas, é a emigração forçada. “A maioria dos jovens, inclusive eu, está pensando em emigrar”, confirma Rashad Hammad, de 36 anos. “Não tenho nenhuma possibilidade de ficar aqui. Esse é um plano claro para esvaziar Gaza de sua população. Só peço um lugar seguro fora de Gaza porque estou desesperado”. Uma situação que o escritor palestino Abdullah Abu Shawish resume assim: "Sofremos um genocídio sistemático por mais de 70 anos. Agora, há quase dois anos, enfrentamos a morte por fome e o extermínio. A decisão do governo de ocupar completamente Gaza parece ser um passo em direção à deportação forçada de cerca de um milhão de habitantes de Gaza, repetindo uma trágica deportação demográfica. Não há zonas seguras; todas as áreas estão expostas a bombardeios. Por que o exército israelense retornaria em áreas que declarou ter limpado no ano passado, se não fosse para dar continuidade a esse horror?"