01 Agosto 2025
Um padre assassina um "mendigo", um parlamentar nega o Holocausto e algumas homilias de bispos parecem violar a Concordata. A Polônia está inquieta.
A informação é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 01-08-2025.
O doloroso escândalo do assassinato de um "mendigo" por um padre (24 de julho) se soma a uma perturbadora polêmica político-eclesiástica, originada pela afirmação de um parlamentar polonês na Europa que nega o Holocausto (10 de julho), e ao protesto do governo junto à Santa Sé por algumas homilias consideradas "ofensivas" e violadoras do Concordato.
Um padre de 68 anos, pároco da vila de Przypki, no território de Varsóvia, agrediu sua vítima com um machado e, após derramar gasolina sobre ela, ateou fogo. De acordo com as primeiras investigações da polícia, o motivo teria sido a reação impaciente da vítima à oferta de acomodação feita pelo padre, condicionada a uma doação. Graças ao testemunho de um transeunte, o padre foi rapidamente reconhecido. Posto sob custódia, ele admitiu o crime e aguarda julgamento.
No clima tenso da opinião pública polonesa, a gravidade do ato reacendeu as denúncias contra a Igreja, apesar da reação imediata e severa do bispo de Varsóvia, dom Adrian Galbas, que censurou o crime. Dirigindo-se aos fiéis da diocese, ele comentou: "Hoje não tenho palavras de conforto para vocês, muito menos uma explicação ou uma justificativa. Estou chocado e devastado pela notícia de que um dos meus sacerdotes assassinou brutalmente um homem, um pobre sem-teto. Não tenho outra resposta senão a pergunta: por quê?"
Em 26 de julho, uma nota da arquidiocese decidiu pela suspensão imediata do padre de sua função paroquial e de seu serviço pastoral, e solicitou ao dicastério da Santa Sé a demissão do estado clerical do interessado, em razão dos cânones do direito eclesiástico. A arquidiocese assegurou à polícia plena colaboração nas investigações. No domingo (27 de julho), a notícia foi comunicada a todas as paróquias. O bispo pediu aos padres e paroquianos um momento de oração e de pedido de perdão.
O evento, singular embora dramático, ocorre em um contexto de crescente tensão entre Igreja e governo, e entre Igreja e opinião pública (cf. aqui). O primeiro episódio surgiu das infelizes declarações do eurodeputado de extrema-direita Grzegorz Braun, na Rádio Wnet, que, abraçando o revisionismo histórico e as leituras antissemitas, afirmou: "As câmaras de gás de Auschwitz são falsas".
A reação de dom Jozef Kupny foi imediata: "Como vice-presidente da Conferência Episcopal Polonesa, mas sobretudo como bispo católico e polonês, expresso minha indignação pelas declarações do eurodeputado Grzegorz Braun. Ele questionou o genocídio cometido pelos alemães nas câmaras de gás de Auschwitz contra os judeus e outras nações. As palavras do político polonês não são apenas inaceitáveis. São uma mentira flagrante que não se justifica de forma alguma e que não deveria ser proferida por um político que representa nosso país no cenário internacional".
O cardeal Grzegorz Rys, presidente da comissão episcopal para o diálogo com o judaísmo, comentou em termos claros e telegráficos: "O antissemitismo em qualquer forma é, segundo o ensinamento da Igreja, um mal moral; negar o Holocausto é uma mentira e coloca quem o afirma do lado dos carrascos e não das vítimas".
O arcebispo de Varsóvia, dom Adrian Galbas, foi igualmente claro: "As palavras do senhor Grzegorz Braun são maldosas e geram o mal. Não podemos calar e não podemos ignorá-las".
O parlamento votou uma resolução de condenação, lembrando o horror da máquina totalitária de morte, o assassinato sistemático das elites polonesas e o milhão de vítimas judias. "A negação deste crime ainda está presente na política europeia e sinais perigosos de sua existência são visíveis também na política polonesa," como evidenciam as declarações de G. Braun.
O consenso sobre a oposição ao antissemitismo se desfaz em muitas outras questões. A prova disso é o inusitado protesto diplomático do governo junto à Santa Sé contra as afirmações de dois bispos, Antoni Dlugosz e Wieslaw Mering.
Em 11 de julho, nas celebrações anuais de Jasna Gora, Dom Antoni se manifestou em defesa do movimento político de extrema-direita de Robert Bakiewicz e, dois dias depois, Dom Wieslaw atacou os "inimigos" russos e alemães, insultando os atuais governantes como "gangsters políticos".
O movimento de Robert Bakiewicz se caracteriza pela vontade de sair da União Europeia, tornar a educação patriótica e o alistamento militar generalizado obrigatórios, distribuindo armas para uma sociedade militarizada.
Wieslw afirmou que as fronteiras orientais (Rússia) estão em perigo, assim como as fronteiras ocidentais (Alemanha), e que os atuais governantes são "alemães", lembrando o dito: "Desde que o mundo é mundo, como disse um dos poetas poloneses do século XVII, Waclaw Potoski, um alemão nunca será irmão de um polonês".
Definir os governantes como "alemães" "sugere uma fundamental deslealdade à nação por parte do governo. Tal acusação é inaceitável para as autoridades eleitas por um processo eleitoral democrático e legitimadas pela sociedade da República da Polônia".
Além disso, o apoio ao movimento de Bakiewicz configura uma ingerência indevida no confronto político interno. "As palavras dos dois bispos são indignas da instituição que representam e dos fiéis confiados aos seus cuidados".
O protesto diplomático do governo conclui pedindo as "devidas consequências" para os dois bispos pela violação do que está previsto na Concordata com a Santa Sé.
O bispo de Breslávia, dom Jozef Kupny, se distanciou de suas afirmações, denunciando a ressurgente aversão ao povo alemão. Também em razão do papel de seu predecessor, cardeal Boleslaw Kominek, na redação da famosa carta do episcopado polonês ao alemão no fim do Concílio (1965), em que se oferecia e se pedia perdão, um texto fundamental no processo de aproximação dos dois povos. Aquele documento "parece cada vez mais atual. Ao slogan recentemente retomado no debate público - 'desde que o mundo é mundo um alemão nunca será irmão de um polonês' - eu gostaria de responder com a carta citada, que é um grito na nossa memória. Um documento revolucionário, tão desesperadamente necessário há sessenta anos quanto hoje".
A associação de intelectuais católicos de Varsóvia também interveio. Seu presidente, Jakub Kiersnowski, censurou as palavras dos dois bispos pronunciadas no altar da Virgem Negra: "É inaceitável que mentiras e expressões de ódio aberto saiam dos lábios de sucessores dos apóstolos durante uma celebração litúrgica.
Estamos preocupados com o silêncio da maioria do episcopado diante de tal perversão. Isso não contribuirá para o consenso popular às palavras da Igreja na Polônia, mas soará como escândalo para muitos, pela incapacidade do povo cristão, neste caso dos bispos, de se opor aberta e publicamente ao mal exibido de forma pública e flagrante".
Ele lembra que apenas o bispo Kupny e o cardeal Rys se distanciaram.
Uma sensibilidade oposta foi expressa pelo padre Dariusz Kowalczyk, jesuíta, professor na Gregoriana em Roma. Ignorando os temas de fundo, ele se limita a sublinhar as imprecisões e as falhas do protesto governamental: os bispos indicados não são formalmente representantes da conferência, e muito menos estão envolvidos na execução da Concordata; os bispos não participam da vida política, mas podem comentar seus eventos; o pedido de censura por parte do governo soa completamente impróprio.
"Trata-se simplesmente de um comentário crítico, motivado pela preocupação com o bem comum, sobre a atuação do governo, ao qual os bispos têm direito como bispos e cidadãos da República da Polônia". Resta saber se a avaliação deve se ater à forma ou à substância.