31 Julho 2025
"Eles [Estados Unidos], no entanto, substituíram métodos sangrentos por métodos incruentos. Uma espécie de Terrorismo de Estado 2.0 com pressão, boicotes, aumento de tarifas e muita fanfarra virtual".
O artigo é de Gustavo Veiga, jornalista, publicado por Página|12, 31-07-2025.
Em 1964, a ditadura brasileira lançou uma série de golpes militares na América do Sul. Seus líderes militares, com o total apoio dos Estados Unidos, elaboraram e implementaram o Plano Condor, que se espalhou por todo o continente para assassinar ou fazer desaparecer figuras políticas. Eles também forneceram apoio logístico da embaixada em Santiago, Chile, para a derrubada de Salvador Allende em 1973. O aparato repressivo na região durante a Guerra Fria foi construído com base nessa combinação do Departamento de Estado (então liderado por Henry Kissinger) e do poder das Forças Armadas subordinadas a Washington. O comunismo, como é hoje — e sem qualquer análise detalhada — era o inimigo que eles buscavam exterminar.
Mas o Brasil não é mais aquele Brasil, sem entrar em detalhes internos. Lula é governado por um presidente democrático, eleito três vezes pelo seu povo, que concorrerá a um quarto mandato em 2026. O que não mudou é a política intervencionista dos EUA. Antes, ela era executada com métodos sangrentos. No século XXI, o mesmo Departamento de Estado, controlado por Marco Rubio — um falcão da Casa Branca —, está lidando com essa tarefa, mas com leis extraterritoriais do Congresso ou por meio de perseguição por outra agência-chave em Washington: o Departamento de Justiça. São fórmulas de baixa intensidade no chamado quintal do império.
Eles, no entanto, substituíram métodos sangrentos por métodos incruentos. Uma espécie de Terrorismo de Estado 2.0 com pressão, boicotes, aumento de tarifas e muita fanfarra virtual. Sem política de canhoneiras, sem porrete, sem Aliança para o Progresso. A interferência descarada (lembrem-se do que disse o futuro embaixador na Argentina, Peter Lamelas, um quase vice-rei do Rio da Prata) não tem slogan neste momento. Se o nome da doutrina permanecer: Monroe. Ela completará 202 anos em dezembro próximo.
Ninguém está seguro se não prestar homenagem aos EUA. Nem mesmo presidentes atuais ou antigos, nem mesmo um juiz como Alexandre de Moraes, membro do Supremo Tribunal Federal. Eles se enquadram na mesma categoria de figuras do submundo passíveis de extradição ou de dirigentes do futebol, como aconteceu em 2015 com o escândalo do Fifa Gate. Trump não é Nixon, nem Reagan, para citar dois ex-presidentes do mesmo Partido Republicano. O que é constante e inalterável é a interferência dos Estados Unidos nos assuntos internos dos países do hemisfério para fins geopolíticos e qualquer pretexto. No caso do Brasil, significa ingressar no BRICS ou julgar e condenar Bolsonaro por ser golpista.