25 Julho 2025
"Eis o que significa ser branco, ocidental. A vida vale mais. Esperemos que sirva para salvar também os civis palestinos. Mulheres, homens e crianças de segunda classe".
O artigo é de Valentina Petrini, jornalista, publicado por La Stampa, 22-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Estamos sob ordens de evacuação. Lançam folhetos antes de começar o bombardeio. Nós, trabalhadores humanitários de organizações internacionais, recebemos ordens de ficar trancados em casa."
No domingo, às 8h08, o despertador toca com essa mensagem diretamente de Gaza. Em Deir al-Balah, mora um grande amigo meu, Gennaro Giudetti. Gennaro é de Taranto como eu, hoje um homem com quinze anos de experiência em zonas de conflito. Quando o conheci, ele era adolescente. Esta não é uma entrevista. É o relato angustiado de 48 horas de medo. Quando alguém que você conhece bem está sob as bombas, com risco de morrer, a percepção da guerra é diferente. "Querem que a gente evacue também, sem levar nada. Todos têm que deixar esta área. O problema é que não sabemos para onde ir e, se formos embora, corremos o risco de não ter mais nada quando voltarmos daqui a alguns dias ou semanas. Significa ser obrigados a interromper as operações."
Domingo, 10h17. Ir embora não é uma escolha temporária. Significa abandonar o povo de Gaza à sua própria sorte. Às 12h14, ligo novamente. "Todos estão indo embora." O som de pesados bombardeios com os aviões pode ser ouvido no telefone.
13h20: "Tenho vontade de chorar, vejo pela janela filas de crianças fugindo com suas famílias, mas elas são pequenas demais para empurrar carrinhos carregados com pertences pessoais de uma vida inteira." Desde o início da guerra, venho pedindo a Gennaro que deixe Gaza, que deixe para lá. Sinto vergonha depois de ter feito isso. Se eu não o conhecesse, se sua vida não fosse tão importante para mim, eu não lhe pediria isso. Mas ele e todos aqueles como ele realizam um trabalho indispensável são a única âncora de esperança para milhares de civis.
As Nações Unidas e as ONGs que operam na Faixa de Gaza estão sediadas principalmente em Deir el-Balah e arredores. Às 14h09, ligo novamente. Ao vivo o áudio de uma explosão. Devem estar bem atrás da casa dele. A noite certamente será pior. "Estamos indo para o escritório." São 20h49, os bombardeios estão bem ao lado deles. Repito. Gennaro é muito perigoso. Às 21h10, tanques, aviões e drones sitiam a área onde Gennaro está. A terra queima. "Nos abrigamos no escritório, não se preocupe", mas ouço crianças chorando, gritos. São cerca de 40, 20 deles crianças desesperadas.
Ele só gostaria de chorar, mas precisa coordenar toda a logística e, além disso, um agente humanitário não pode desmoronar, senão como todas as crianças podem se acalmar? Às 23h28 do domingo, 20 de julho, o italiano Gennaro Giudetti não consegue falar ao telefone. O cheiro a enxofre é sufocante. Não há como dormir. Não há paz. Os tanques israelenses estão a 200 metros do escritório onde Gennaro e os seus colegas, juntamente com dezenas de civis, se refugiaram. Penso apenas no risco do dano colateral. 1h28 da manhã de segunda-feira, 21 de julho, estou acordada. Eu, em segurança na Itália. Ele está debaixo das bombas. Ligo de novo. As crianças choram. Depois desmorono. Abro os olhos às 7h25. Ligo novamente. Ouço uma explosão poderosa. Ouço um ruído como de vidro quebrados. São aqueles de seu escritório? Gennaro, sei que não pode dizer nada. Às 11h19 bombardearam o terceiro andar do seu edifício. Felizmente, não havia ninguém lá. Os colegas de Gennaro tinham acabado de sair. Às 12h da segunda-feira, não posso esperar mais; lanço o alarme, assim como dezenas de colegas e parlamentares. Caro governo Meloni, há um italiano em risco de morte sob as bombas israelenses. Precisam intervir.
À noite, chega a nota do Ministro das Relações Exteriores Tajani: "Estou acompanhando pessoalmente a situação. É verdade que estão atirando perto do local onde ele está, um lugar onde não se deveria atirar." Eis o que significa ser branco, ocidental. A vida vale mais. Esperemos que sirva para salvar também os civis palestinos. Mulheres, homens e crianças de segunda classe.