22 Julho 2025
Ausência dos EUA do negacionista Donald Trump é apenas um dos desafios para a presidência da COP30.
A informação é publicada por ClimaInfo, 21-07-2025.
Quase uma década após a aprovação do Acordo de Paris, as negociações climáticas da ONU vivem um contexto completamente diferente daquele que permitiu o entendimento entre mais de 190 países na COP21. Hoje, o multilateralismo vive uma profunda crise, impulsionada pela guerra comercial imposta pelos EUA, os conflitos armados na Ucrânia, na Palestina e na África, e o fortalecimento do negacionismo climático capitaneado pela extrema-direita e pelas petroleiras. É esse o cenário de fundo da COP30, que acontecerá no Brasil no final do ano.
“As negociações evoluem muito de acordo com as circunstâncias internacionais, e não preciso dizer que vivemos circunstâncias internacionais particularmente complexas”, reconheceu o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, à Folha.
A ausência dos EUA das negociações climáticas, com sua saída do Acordo de Paris, é um dos reflexos desse contexto de tensões e disputas que pode interferir nos resultados da COP30. “A realidade é que a ausência de um ator tão importante como os Estados Unidos não pode ser boa para a negociação do clima. Afinal, eles são os maiores emissores históricos, estão em segundo lugar no ano de 2025 e, portanto, é muito importante ter um ator tão relevante na discussão”, afirmou Corrêa do Lago.
Junto com o recuo norte-americano, o presidente da COP30 assinalou o impacto da escalada dos gastos militares entre as grandes potências e a guerra comercial iniciada pelos EUA para as conversas em Belém (PA), especialmente na parte de financiamento climático. “A gente passou do negacionismo científico para um negacionismo econômico, ou seja, [a suposição de] que não vale o investimento para combater a mudança do clima”.
Essa avaliação é compartilhada por um importante antecessor de Corrêa do Lago no comando das COPs – o ex-primeiro-ministro francês Laurent Fabius, que presidiu a COP21 em 2015. Em entrevista à Folha, ele reforçou a necessidade de mais colaboração entre os países que seguem engajados na agenda climática, além de maior envolvimento de atores não governamentais e subnacionais nas discussões sobre implementação.
“O multilateralismo está sendo prejudicado pelo aumento das taxas alfandegárias e, é claro, pelos conflitos armados. A força está substituindo cada vez mais o estado de Direito. Essa atmosfera desfavorável torna o esforço ainda mais necessário. É um grande paradoxo: em um momento em que a ação climática é particularmente útil, os números mostram um enfraquecimento”, afirmou Fabius.
Além do contexto internacional, a COP30 também enfrenta uma crise existencial, como Caroline Prolo, Claudio Angelo e Eduardo Viola destacaram na Piauí: depois de mais de 30 anos, não há mais o que ser negociado – o que falta agora é implementar os compromissos firmados nessas três décadas. E, nesse ponto, persistem dúvidas sobre a capacidade de entrega do modelo atual de negociação.
“As principais regras de operação do Acordo de Paris – para apresentação das metas, dos inventários de emissões, dos relatórios de progresso das NDCs, para o funcionamento dos mercados de carbono e até mesmo para os objetivos globais de adaptação e financiamento climático – já foram adotadas. Isso traz uma crise existencial para a Convenção: para que servem os convescotes anuais, agora que já negociamos quase tudo o que havia para ser negociado?”.
Apesar dos esforços recentes do governo federal para conter os preços de hospedagem em Belém durante a COP30, o quadro ainda é delicado. Um levantamento do g1 mostrou que os valores cobrados por hotéis e proprietários de imóveis seguem bem salgados, mais caros até do que os preços praticados em grandes destinos turísticos internacionais, como Nova York (EUA). As principais redes hoteleiras presentes na capital paraense seguem ignorando a proposta apresentada em abril pelo governo federal para regular os preços, sob a justificativa de que a medida interferiria em seus negócios.
Já O Liberal destacou o cálculo da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), que estimou o faturamento mínimo esperado pelo setor durante a COP em pelo menos US$ 10 milhões. Esse montante não considera as hospedagens em imóveis privados e outros estabelecimentos.