Paz é o único nome de Deus que podemos pronunciar sem blasfemar

Foto: Moiz Salhi/Anadolu Agency

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14 Julho 2025

"O Evangelho exige que estejamos do lado dos oprimidos, sempre. Hoje, esse lado é o lado do povo palestino — e daqueles muitos judeus que não aceitam mais ser cúmplices", escreve Fabio Tesser no Facebook, 12-07-2025, intuindo o que Giovanni Franzoni, diria sobre as guerras em Gaza e na Ucrânia. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o texto.

Se Giovanni Franzoni (1928-2017) falasse conosco hoje...

Irmãos e irmãs, hoje falo a vocês como cristão, não como clérigo. Falo a vocês como um homem que viu demasiados silêncios cúmplices, demasiadas liturgias sem justiça, demasiadas cruzes erguidas sobre os corpos dos pobres e das crianças assassinadas.

No Evangelho, Jesus não abençoa as guerras. Ele não nos diz: "Bem-aventurados os que defendem as fronteiras com os mísseis". Ele diz: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus".

O que está acontecendo hoje em Gaza é uma ferida que dilacera não apenas um povo, mas toda a consciência humana. Não podemos dizer "nunca mais" ao nos referirmos ao Holocausto e depois aceitar os bombardeios diários contra civis, a fome usada como arma, as crianças presas sob os escombros.

Israel tem direito à segurança, mas ninguém tem direito à ocupação perpétua, à vingança sem fim, à desumanização dos outros. A resistência não é terrorismo quando nasce da necessidade de viver livre. Mas o lançamento de foguetes também não justifica o massacre coletivo.

O Evangelho exige que estejamos do lado dos oprimidos, sempre. Hoje, esse lado é o lado do povo palestino — e daqueles muitos judeus que não aceitam mais ser cúmplices.

Na Ucrânia, estamos assistindo a outra guerra em que os poderosos jogam War com a vida dos pobres. O nacionalismo ortodoxo russo é blasfêmia quando santifica a guerra. Mas também o Ocidente, que envia rios de armas enquanto corta os financiamentos para os refugiados, é um império que perdeu a memória.

Não estou com Putin. Mas também não estou com aqueles que querem que acreditemos que a paz virá pela multiplicação das armas. A não violência não é passividade. É resistência ativa, é diplomacia, é desarmamento bilateral, é presença humana nos lugares mais perigosos.

Há jovens russos e ucranianos que estão desertando: são eles, não os generais, que estão abrindo espaço para a paz. A Igreja, com muita frequência, fica em silêncio ou se limita a abençoar os "dois lados". Mas não existem duas verdades equivalentes quando um povo é sitiado, quando a terra é devastada, quando o Evangelho é instrumentalizado.

Nós, cristãos, nós, cidadãos do mundo, temos um dever: apoiar os corredores humanitários, não os suprimentos bélicos. Apoiar os movimentos de paz, não os alinhamentos geopolíticos.

Exigir uma ONU refundada que coloque a dignidade humana acima dos vetos dos poderosos. Denunciar toda religião que se torna cúmplice do poder em vez de ficar ao lado dos crucificados da história.

Irmãos e irmãs, não há paz sem verdade, mas também não há verdade sem amor. E hoje, amar a paz significa perturbar a ordem das coisas. Significa levantar a voz contra as bombas e contra o silêncio.

Que cada gesto nosso – do voto às palavras, das orações às ações concretas – seja uma pedra lançada no canteiro da paz. "A terra pertence a Deus", não aos generais. E paz é o seu verdadeiro nome.

Padre Giovanni Battista Franzoni

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