09 Julho 2025
"O suicídio não é novidade para o clero. A vida é tão difícil em muitos aspectos que não há saída, e o clero é composto por pessoas sujeitas às mesmas realidades que todos os outros".
O artigo é de María Cristina Inogés Sanz, teóloga espanhola que integra a comissão metodológica do Sínodo dos Bispos, publicado por Vida nueva digital, 07-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A idade é o elemento menos importante, mas é significativo. Seu nome era Matteo Balzano e ele era o vigário paroquial de Cannobio, um município da diocese de Novara. Um padre até agora anônimo, que infelizmente acabou nos holofotes da mídia por cometer suicídio. Um evento terrível. É impensável o que esse homem teve que suportar para chegar e pôr em ato tal decisão.
Nesse caso, a diocese, com o bispo na frente, decidiu não esconder a terrível realidade que deixou a paróquia em choque. Não dá nem para imaginar como está a família. Foi uma boa decisão por parte do bispo, que, em última análise, é quem tomou a decisão final? Eu diria que mais do que boa, é ótima por vários motivos, mesmo que pareça estranho.
O suicídio não é novidade para o clero. A vida é tão difícil em muitos aspectos que não há saída, e o clero é composto por pessoas sujeitas às mesmas realidades que todos os outros. A atitude mais natural é buscar desculpas que acabam sendo patéticas e muito prejudiciais para enfrentar essa realidade, principalmente quando, no fim, se acaba conhecendo a verdade envolta nos "sussurros" das fofocas e nos acréscimos daqueles que, com a premissa de "estou lhe dizendo em segredo, não comente", acabam criando – inventando – uma história ainda mais terrificante do que realmente é. O comunicado da diocese pôs fim aos boatos antes mesmo de começarem.
Por que negar?
Negar que um padre cometeu suicídio e recorrer ao costumeiro enfarte continua a enviar uma mensagem perigosa, mas poderosa, a outros padres que estão atravessando por um momento difícil. Porque acabam por interpretar a situação como se ninguém se importasse com a sua situação, mesmo após a morte, e que o importante continua a ser o bom nome da instituição. Um suicídio não é apenas o fim terrível de uma pessoa; é responsabilidade de todos, e na Igreja ainda nos falta a sensibilidade necessária para considerar que um padre pode precisar de uma ajuda altamente especializada num dado momento. Ele teria dado sinais de que algo estava errado, ou, pelo contrário, resistiu porque ninguém o tinha ensinado a pedir ajuda? Ninguém percebeu a sua dor, a sua solidão, o seu medo, ou foi-lhe dito que um padre não pode demonstrar fragilidade? Por isso é tão importante não esconder o suicídio de um padre, porque pode acontecer, e infelizmente efetivamente acontece. Deveria nos fazer refletir.
Fr Matteo Balzano
— Fr Grant Ciccone (@UrbanHermit15) July 6, 2025
A tragic event has shaken the small town of Cannobio, overlooking the beautiful Lake Verbano. On the morning of July 5, 2025, Father Matteo Balzano, a 35-year-old priest of the Diocese of Novara, was found lifeless in his residence, he had taken his own life.… pic.twitter.com/APAwTUHGIm
Quem decide se tornar padre não pode estar preparado para suportar, para se dedicar à Igreja, a ponto de experimentar sofrimento e viver em uma solidão insuportável.
Conformar-se "in persona Christi" não significa isso. A saúde mental e emocional do clero deveria ser uma preocupação primária. Embora a formação recebida nos seminários deva ser urgente e completamente revista, nem sempre é a única questão.
É a própria estrutura de um modelo ministerial que não serve nem à sociedade nem à Igreja do século XXI. Até não acreditarmos realmente nisso, será inútil recomendar que, quando a vida parece escurecer (e realmente acontece), devemos confiar na oração. A oração é algo mais belo e profundo para poder transformá-la em recurso de um xamã tribal.
O Evangelho já adverte que um cego não pode ser guia para outro cego. Portanto, quando um padre precisa de ajuda, outro padre nem sempre é a melhor solução. Não é bom que um padre que ousa pedir ajuda seja encaminhado a um terapeuta específico "porque desfruta da confiança da diocese". Em algumas dioceses isso acontece. A escolha deve ser livre, pois será necessário mergulhar nas profundezas da pessoa, e essa imersão deve ser acompanhada pela pessoa que se decidiu livremente escolher.
Saber que um padre cometeu suicídio, com toda a dor que isso gera, assim como o suicídio de qualquer pessoa, deveria nos fazer refletir e não buscar no clero a versão cotidiana e acessível do Super-Homem. A batina ou o colarinho (clergyman) não possuem nem conferem poderes sobre-humanos. E nem mesmo a imposição das mãos durante a ordenação transforma um homem em herói, nem a tão perigosa "paternidade espiritual" o coloca acima e a salvo dos altos e baixos humanos. Apenas compreender que, antes de tudo, são homens, já será um grande passo à frente.
Hoje, o suicídio de um padre deveria ser um tremendo abalo para nós; que possa nos fazer refletir sobre o quanto ainda há por fazer na Igreja. Descanse em paz, Matteo.