10 Julho 2025
"O mesmo vale para os esforços de mitigação (redução de emissões que alteram o clima) que seriam inúteis se não compartilhados pelos devedores".
O artigo é de Leonardo Becchetti, publicado por Avvenire, 08-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Leonardo Becchetti é professor de economia política da Universidade de Tor Vergata, em Roma, colunista de Avvenire e um dos fundadores da Next – Nova economia para todos.
Não são apenas as que antes eram chamadas de “armas inteligentes” que produzem terríveis efeitos colaterais em termos de mortes e feridos. As décadas passam, mas para muitos, gente demais, a história não muda: o flagelo da dívida obriga alguns dos países mais pobres do mundo a gastar mais para o pagamento da dívida do que para a saúde e a educação. Correndo assim o risco de nos entregar uma nova geração perdida. Mais uma vez, o problema é exacerbado pelas políticas macroeconômicas (as “armas inteligentes” da política econômica, precisamente) com as quais os países credores respondem à explosão dos preços dos combustíveis fósseis que gera inflação interna. Políticas monetárias restritivas aumentam as taxas de juros, atraem capital e geram para os devedores o duplo choque de um aumento nas taxas de juros e da desvalorização da taxa de câmbio do devedor, uma combinação que desencadeia uma cadeia de falências. Mais uma vez, como no passado, tudo acontece devido à responsabilidade conjunta dos credores e das classes dirigentes dos países devedores. Emprestar dinheiro nem sempre é a resposta certa para a necessidade. Os empréstimos – e especialmente as condições em que são concedidos – nem sempre são necessariamente um ato de caridade, mas em muitos casos tornam-se um laço que condena o devedor a uma condição de dependência perpétua.
A armadilha da dívida era acionada, com diferentes mecanismos, mesmo na antiguidade. Por essa razão – ou seja, para evitar que as responsabilidades dos pais recaiam sobre os filhos e os condenem a uma vida de escravidão a serviço dos credores – a instituição do Jubileu oferecia uma possibilidade de recomeço. É com o objetivo de aproveitar também hoje o tempo-kairos (oportunidade) jubilar que a comissão internacional de especialistas nomeada pelo Vaticano (composta, entre outros, pelo Prêmio Nobel Stiglitz e pelo economista e ex-ministro das Finanças argentino Guzmán) publicou o relatório, discutido no Avvenire, que poderia constituir um marco e uma esperança para o início de um percurso de libertação. Além de descrever com sinceridade e crueza a situação e os mecanismos que a geraram, o relatório delineia claramente alguns princípios e linhas de ação necessários para corrigir as falhas dos mecanismos que perpetuam a praga.
Com grande realismo, o relatório enfatiza que destacar as falhas do sistema não nos torna, por si só, otimistas quanto à possibilidade de uma reforma virtuosa promovida e aceita por todos os protagonistas. Uma das conclusões mais importantes é que as possibilidades, ainda que parciais, de resolver o problema poderiam surgir de uma coalizão que compartilhe um espírito de solidariedade, sublinhando como “às vezes, uma coalizão menor que compartilha uma missão pode fazer mais do que um grupo universal de países poderosos que, no entanto, são relutantes em tomar a ação global coletiva que seria necessária”. Tal coalizão poderia, por exemplo, acolher o apelo urgente que o Papa Francisco nos deixou e reiterado pelo Papa Leão por uma ação que conjugue dívida e emergência climática. Portanto, é necessário ser pragmáticos e realistas, direcionando energias e esforços para a identificação de soluções capazes de criar condições de benefício mútuo para, assim, conquistar o consenso de um grupo de credores. Soluções pequenas, mas escaláveis, como a de transformar parte da dívida que um país está pagando em um fundo para financiar e facilitar investimentos em projetos de alto impacto social e ambiental no próprio país. Soluções viáveis como essa deveriam destacar e valorizar aquelas razões que unem credores e devedores em um único destino.
O mesmo vale para os esforços de mitigação (redução de emissões que alteram o clima) que seriam inúteis se não compartilhados pelos devedores.
Mas um país devedor que se encontra em dificuldades não participa desse esforço comum e se torna cada vez menos capaz de pagar sua dívida, quanto mais vulnerável e afetado por choques climáticos for. Portanto, é de interesse comum apoiar um esforço conjunto de devedores e credores sobre a mitigação e adaptação em uma estrutura que transforme o pagamento da dívida em projetos de desenvolvimento local sustentável, projetos que também sejam submetidos a uma rigorosa avaliação de impacto que elimine a suspeita de desperdício de recursos e melhore a reputação do próprio devedor. Agora que o relatório foi tornado público, abre-se uma fase em que os estudiosos e a sociedade civil devem empenhar juntos todas as suas energias intelectuais e capacidade política para promover mudanças e iniciativas concretas capazes de libertar pessoas e recursos do jugo da escravidão e da dependência.