08 Julho 2025
O tempo se esgota e até mesmo a ONU admite que provavelmente apenas 15% das metas estabelecidas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sejam atingidas em 2030. O déficit de financiamento dos Estados-membros da organização internacional para os ODS, firmados em 2015, é estimado em quatro trilhões de dólares.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A plataforma ecumênica conhecida como Nova Arquitetura Financeira e Econômica Internacional (NIFEA) enviou um duro recado à 4ª Conferência da ONU sobre Financiamento para o Desenvolvimento, reunida em Sevilha, na Espanha, de 30 de junho a 3 de julho.
“Desde 2020 – aponta o manifesto de NIFEA -, os indivíduos mais ricos do mundo dobraram sua riqueza, mesmo com uma estimativa de que 28,9% da população global, ou seja, 2,33 bilhões de pessoas, sofriam de insegurança alimentar moderada ou grave”. Tal desigualdade, cada vez maior, “corroeu a confiança nas instituições públicas, enfraqueceu os sistemas democráticos, permitiu a influência corporativa sobre as políticas estaduais e dificultou o progresso em ações climáticas urgentes, reforçando um ciclo vicioso de disparidade e desempoderamento”.
O chefe da Advocacy Global da Federação Luterana Mundial (FLM), Isaiah Toroitich, questionou a crise da dívida, “um legado de estruturas financeiras e econômicas injustas e de má governança”, classificando-a de paralisante e imoral. “É importante que estejamos em Sevilha para levantar nossas vozes e dizer que nenhum governo deveria ter que escolher entre deixar de pagar a dívida ou deixar de atender às necessidades e aos direitos das pessoas e do planeta”, proclamou.
Segundo Toroitich, quase metade da humanidade – ou seja, 3,3 bilhões de homens, mulheres e crianças – vive em países que gastam mais com o pagamento de dívidas do que com educação ou assistência médica para seus cidadãos.
Instituições parceiras da Nifea apelaram aos governos, em manifesto emitido em fins de junho, para que tomem medidas urgentes no intuito de acabar com o fardo da dívida dos países pobres, trabalhando em favor de um sistema tributário mais justo e financiar, assim, o alívio da pobreza além de introduzir reformas para uma governança mais inclusiva da economia global.
O encontro de Sevilha gerou descontentamento de representantes da sociedade civil. Eles reclamaram que suas vozes estavam sendo excluídas nos processos de tomada de decisões.
Dez anos atrás, no encontro que a ONU organizou na Etiópia, “nossa expertise e nossas contribuições eram bem-vindas e valorizadas como parte importante da discussão”, comentou o diretor do Departamento de Desenvolvimento Social da Igreja Evangélica Luterana na República da Namíbia, Uhuru Dempers. “Aqui na Espanha, apesar de trazermos experiência de base e propostas de soluções que queremos compartilhar mcom os governos, fomos impedidos de participar de fato”, lamentou.
Dempers lembrou do déficit de financiamento de 4 trilhões de dólares. “Mas as comunidades que representamos não podem esperar mais dez anos para ver a crise da dívida se agravar e os governos incapazes de pagar por saúde básica, educação e moradia digna”.
Além da FLM, integram a NIFEA, criada em 2012, a Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas, o Conselho Metodista Mundial, o Conselho Mundial de Igrejas, o Conselho para a Missão Mundial e a Sociedade Unidas Parceiros no Evangelho.