Os senhores do caos e as teias da brutalidade humana. Destaques da Semana no IHU Cast

Arte: Mateus Dias | IHU

Por: Cristina Guerini e Lucas Schardong | 05 Julho 2025

Há uma grande teia de conexões que emergem sutilmente, uma rede de atores que age para ganhar o poder. Não é só o poder democrático, mas também o poder religioso e o poder capitalista, no intuito de fazer avançar o projeto fascista. Uma nova ordem mundial cujo caos dará a direção a seguir. É como se estes fossem o senhor sombrio que encarna a cosmologia das ficções no dia a dia. São as pedras de visões - Palantír -, como na saga do Senhor dos Anéis, que usadas para fins nefastos, manipulam informações e ilusões. Este e outros assuntos nos Destaques da Semana

"Acaso"

Não ao "acaso", a empresa Palantir Technologies, do magnata Peter Thiel, vende ao governo Trump uma “plataforma de dados alimentada por inteligência artificial que permite que seus usuários – incluindo agências militares e policiais – analisem dados pessoais, incluindo perfis de redes sociais, informações pessoais e características físicas. Esses dados são usados para identificar e monitorar indivíduos. O alerta está no artigo de Robert Reich, “A empresa mais perigosa dos EUA”.

Neointegralismo

Com uma ideia de "retorno aos guetos religiosos da Idade Média", os católicos neointegralistas surgem com um projeto de longo de prazo que visa “a entrada direcionada em administrações, ministérios e think tanks para reestruturar os Estados de dentro para fora”. “Isto é, uma nova ordem é necessária — uma sociedade dominada pelo catolicismo, com princípios religiosos claros e organizada de forma autoritária”. A advertência está na entrevista com James M. Patterson. Para o cientista político americano, “não se trata de proteger a fé, mas de uma política de poder brutal sob o disfarce da religião.

Brutalidade

Continuamos atentos à barbárie sem fim em Gaza. Mas não há mais adjetivos para descrever as atrocidades que os palestinos vivem. Estuprados, violados, torturados, expulsos, roubados e mortos, muitos mortos. Mortos na fila da comida, envenenados, por bombas, por existirem. Uma pesquisa conduzida pelo economista Michael Spagat apontou uma diferença 65% maior no número de mortos na Palestina. Segundo o estudo, são 75 mil mortes diretas pela guerra entre outubro de 2023 até janeiro de 2025.

E Angelo Rusconi, Médico Sem Fronteira, faz um retrato do cenário de desumanização que vive o povo palestino. “Não sou nenhum estranho às paisagens lunares da Terra. Trabalhei com Médicos Sem Fronteiras em quase todos os lugares, inclusive em respostas emergenciais a desastres naturais. A força da natureza é incrível, mas a brutalidade humana é pior. Tudo aqui foi destruído pela humanidade".

Teia genocida

O projeto sionista para Gaza é patrocinado por diferentes corporações ao redor do mundo, conforme denunciou o relatório Da Economia da Ocupação à Economia do Genocídio. Elaborado pela relatora especial da ONU para os territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, o documento “destacou a cumplicidade de fabricantes de armas, empresas de tecnologia, construtoras, bancos e universidades na economia de ocupação, no apartheid e no genocídio gerados por Israel na Palestina”. Entre alguns nomes figuram Carrefour, fundos de investimento Blackrock, Vanguard, Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Chevron e Palantir Technologies. Além, da brasileiríssima Petrobras.

Natureza barata

O sistema capitalista é “um sistema de natureza barata. A natureza barata inclui não apenas solos e riachos, campos e florestas, mas também trabalho humano. A natureza barata inclui o que chamo de quatro elementos baratos: mão de obra barata, alimentos baratos, energia barata e matérias-primas baratas. Para que o capitalismo supere suas crises, precisa reduzir o preço da mão de obra, alimentos, energia e matérias-primas, aumentando simultaneamente seu volume. Foi isto que todos os grandes impérios fizeram: desvalorizar a vida e o trabalho da vasta maioria, explicou Jason W. Moore.

Congresso da mamata

Enquanto os congressistas brasileiros agem como um Robin Hood às avessas, tirando dos pobres para garantir os lucros dos ricos, a tensão aumenta no Planalto Central. O Executivo acuado começa a dar sinais de pode estar, enfim, olhando para a classe trabalhadora. Mais uma vez, os deputados tentaram acuar também a ministra Marina Silva. Mas, desta vez, ela respirou fundo e respondeu aos seus algozes à altura.

Justiça climática

O documento Um apelo à justiça climática e à nossa casa comum: conversão ecológica, transformação e resistência a falsas soluções, entregue pelos bispos do Sul Global no Vaticano, é “um documento programático comum e sinodal, que exige que os países ricos reconheçam e assumam sua dívida social e ecológica”.

Água de cadáver

O Massacre do Rio Abacaxis, patrocinado pelas autoridades do estado do Amazonas, completo cinco anos mês que vem. Polícia e políticos estão envolvidos. A matéria “Era uma água de cadáver”, relembra o episódio. “Várias pessoas de diferentes comunidades foram torturadas, entre elas uma criança que foi trancada em um freezer. Seis ribeirinhos e dois indígenas Munduruku foram assassinados. Dois destes corpos continuam até hoje desaparecidos. Corpos jogados no rio contaminaram as águas dos ribeirinhos e indígenas durante semanas".

Esperança

Estamos “no limiar do abismo em que o mundo corre o risco de afundar: guerras, genocídios, ecocídios, desigualdades, discriminações”. “Sem perder a esperança, porém”. Com a reflexão do jornalista Luca Kocci, apontamos para aquela que pode ser a saída dessa teia a qual estamos presos:

“A salvação, se houver, virá de uma revolução não violenta capaz de construir uma aliança entre uma ciência livre, não subserviente aos poderes econômicos, e uma espiritualidade profunda, comum a todos os seres humanos e não enredada por poderes religiosos que nada têm a ver com o 'divino', seja qual for seu entendimento. Uma salvação que não é individual, mas planetária, que diz respeito a todos os seres vivos e à própria Terra, cuja existência é posta em risco por aquele que se autoproclamou homo sapiens e que, tão pouco sabiamente, transformou / “a sagrada morada viva de nossos ancestrais em um depósito de matéria inerte a ser saqueado com base apenas em interesses humanos, ou melhor, apenas de alguns humanos, principalmente – pelo menos até agora – do sexo masculino, brancos, cristãos e ocidentais”.

Clique na imagem abaixo e ouça o podcast na íntegra para ficar por dentro dos principais acontecimentos da semana.

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