09 Junho 2025
Ministério de Minas e Energia defende as termelétricas como garantia de segurança energética.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 09-06-2025.
A Justiça suspendeu em março uma audiência pública sobre a instalação de uma termelétrica a gás natural em Samambaia (DF), enquanto duas empresas desistiram de construir usinas a carvão no Rio Grande do Sul após questionamentos judiciais. Os casos reacendem o debate sobre a expansão de termelétricas fósseis no Brasil, que emitiram 17,9 milhões de toneladas de CO₂ em 2023 – volume superior às emissões anuais da cidade de São Paulo (14,5 milhões de toneladas), segundo dados do IEMA e do SEEG.
O ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira defende as termelétricas como garantia de segurança energética, argumentando que elas podem ser acionadas independentemente de condições climáticas. O Plano Decenal de Energia 2034 prevê o “fortalecimento da geração termelétrica”, mas especialistas apontam alternativas, como a modernização de hidrelétricas antigas. “Trocar turbinas geraria mais energia sem impactos ambientais adicionais”, afirma Shigueo Watanabe Jr., do ClimaInfo, ao Deutsche Welle.
O lobby por combustíveis fósseis é evidente em manobras legislativas. Em 2021, a lei da privatização da Eletrobras incluiu a obrigação de contratar 8 GW de termelétricas a gás, enquanto o marco da energia eólica offshore tentou impor mais 4,25 GW e estender a vida útil de usinas a carvão até 2050. Embora Lula tenha vetado os trechos, o Congresso pode derrubar os vetos e manter os subsídios a fontes poluentes.
A crise hídrica de 2001 justificou a primeira onda de termelétricas, mas hoje o cenário climático exige mudanças. “O preço do gás é volátil e as emissões são incompatíveis com as metas ambientais”, alerta Watanabe. Enquanto isso, projetos como a usina de carvão Nova Seival, que consumiria água para 230 mil pessoas diariamente, enfrentam resistência. No RS, uma decisão judicial inédita passou a exigir análise climática nos licenciamentos de termelétricas.
Com 100 projetos em tramitação, o Brasil caminha na contramão da transição energética. Um estudo publicado em dezembro pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) mostrou que as 67 termelétricas fósseis conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) emitiram, em 2023, quase 18 milhões de toneladas de gás carbônico (CO₂), o principal responsável pelo aquecimento global, destacou a Isto É Dinheiro. “Termelétricas são caras, poluentes e agravam a crise hídrica”, destaca Raíssa Gomes, do IEMA. Ela defere avaliações ambientais rigorosas e critica leilões que habilitam usinas sem licenças. Enquanto o lobby do gás e do carvão pressiona, a conta climática e tarifária recairá sobre a população.
UOL, g1, entre outros, repercutiram o questionamento sobre o uso de termelétricas no Brasil.
Em maio, lembra o Estado de Minas, a ANEEL ativou a bandeira amarela nas contas de energia devido à transição para o período seco, com previsão de chuvas e vazões abaixo da média nos reservatórios das hidrelétricas nos próximos meses. A agência alertou que a menor geração hídrica pode exigir maior acionamento de termelétricas, cuja energia é mais cara, após meses com bandeira verde (sem custo extra) devido às condições favoráveis de geração. O sistema de bandeiras tarifárias, criado em 2015, indica os custos variáveis da energia: a amarela adiciona R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos, enquanto a vermelha (com dois patamares) pode elevar a tarifa em até R$ 7,877 para o mesmo consumo.
Um estudo encomendado pelo Movimento União BR à Nexus apontou que 82% dos brasileiros acima de 16 anos já realizaram ações de auxílio a vítimas de desastres naturais, sendo as doações de roupas (68%), alimentos (58%) e dinheiro (37%) as mais comuns. A pesquisa, realizada com 2.013 pessoas em todas as unidades da Federação entre abril e maio de 2025, também mostrou que 25% dos entrevistados já vivenciaram ou conhecem alguém afetado por eventos climáticos extremos, com enchentes (68%) sendo os mais citados. Apesar da solidariedade, 77% da população nunca tomou medidas preventivas contra desastres, e metade desconhece canais de informação para emergências.