30 Mai 2025
Pelo menos desde as últimas eleições parlamentares está claro: o populismo de direita está em ascensão na Alemanha. Quais são as causas disso e o que os cristãos podem opor aos slogans da direita, explica Jonatan Burger em entrevista ao katholisch.de.
Nas eleições parlamentares, a AfD também obteve ganhos expressivos de votos entre os cristãos. Já está claro há muito tempo: eleitores da AfD também estão sentados nos bancos das igrejas e nas casas paroquiais. Existem sobreposições de conteúdo com o populismo de direita? Como é possível argumentar contra a direita a partir da fé? O especialista em ética social Jonatan Burger responde.
A entrevista é de Gabriele Höfling, publicada por Katolisch, 28-05-2025.
Quais fatores sociais e históricos favorecem a ascensão do populismo de direita na Alemanha?
Há um conjunto inteiro de causas para isso. A Alemanha tem um sistema político muito voltado para o consenso. Especialmente os anos 2000 e 2010, marcados por grandes coalizões, facilitaram que a AfD pudesse se apresentar como uma alternativa radical ao establishment político, que em parte representava pouco os conflitos de opinião política. No plano cultural e social, o populismo de direita pode ser entendido como uma reação a um suposto excesso de abertura e liberalização. Do ponto de vista econômico, ele é frequentemente interpretado como um movimento contrário à globalização. Isso vale, aliás, não apenas para a política econômica, mas também para a política migratória.
Que papel desempenha a religião nisso?
A religião serve como marca de diferenciação. O cristianismo é instrumentalizado para contrapor o Ocidente cristão aos imigrantes muçulmanos. A religião funciona como uma folha de parreira. Por exemplo, em 2020-2021, opositores das medidas contra a Covid carregaram velas de forma demonstrativa em suas manifestações em Leipzig. Eles usaram a mesma simbologia recomendada pelas igrejas em 1989, durante os protestos contra a ditadura da SED. Assim, tentava-se dar à revolta contra as medidas da Covid uma aparência pseudocristã e, com isso, uma legitimação.
Em geral, pessoas religiosas são menos suscetíveis a slogans da extrema-direita ou há entre elas ambientes conservadores particularmente vulneráveis?
Nas eleições parlamentares de fevereiro, a AfD obteve 18% entre católicos e 20% entre protestantes, contra 24% entre os sem religião. Ou seja, há diferenças sutis. Ao mesmo tempo, devemos, como cristãos, admitir honestamente: também em nossos bancos de igreja e casas paroquiais há eleitores da AfD. E é verdade: especialmente em contextos eclesiais conservadores, há sobreposições com posições do populismo de direita — como na concepção de família, em questões de gênero, na defesa da vida ou na discussão sobre a pertença do Islã à Europa. É preciso deixar claro, para possíveis eleitores da AfD: qual visão populista de política estão apoiando com seu voto, mesmo que concordem com certas posições específicas?
Como avalia a atuação da Igreja contra a direita — por exemplo, a declaração da Conferência dos Bispos sobre o nacionalismo étnico, feita em 2024?
A declaração é um sinal forte, especialmente porque foi aprovada por unanimidade e estabeleceu, na sequência, para muitos órgãos eclesiais, a incompatibilidade com a filiação à AfD. Considerei também um sinal igualmente claro o comunicado do Escritório Católico em Berlim sobre a votação conjunta da União (CDU/CSU) com a AfD antes das eleições. Mas não basta que essas posições firmes sejam visíveis na mídia — elas precisam chegar às bases, aos territórios. Funcionários e voluntários das paróquias precisam ter segurança para agir quando são pressionados a se posicionar — seja por exigências para se distanciarem de atores locais da extrema direita, seja, pelo contrário, pela ideia de que a Igreja deve manter neutralidade partidária, inclusive frente às correntes de direita. Lidar com cada situação local não é algo simples.
Como isso poderia ser feito concretamente?
Precisamos fornecer conhecimento às pessoas: o que é, exatamente, o populismo? Como distinguir uma posição conservadora de direita, mas democraticamente legítima, de uma que ameaça a democracia? Porque as paróquias locais não podem evitar se posicionar: mesmo se não fizerem nada, as pessoas percebem isso — e, no pior dos casos, como uma aprovação silenciosa de um discurso social que caminha cada vez mais à direita. Mas vejo ainda um outro aspecto importante…
Que aspecto é esse?
A sociedade é composta por diversos grupos, os chamados “milieus”. No "milieu precário", estão pessoas com desvantagens sociais, experiências de exclusão e, muitas vezes, baixa renda. Nessa camada, 45% votaram na AfD nas últimas eleições. E são justamente essas pessoas que a Igreja Católica quase já não alcança — comunicados políticos quase não são percebidos por elas. A pergunta, portanto, é: como a Igreja pode continuar sendo acessível localmente — e conseguir, apesar de todas as reformas estruturais necessárias, não se distanciar demais da vida cotidiana das pessoas? Precisamos manter um acesso facilitado, para abrir espaços de troca entre diferentes milieus. Frequentemente, as igrejas em áreas rurais são um dos últimos atores ainda presentes para isso.
Com que frequência o senhor já testemunhou alguém, assumindo-se como cristão praticante, levantar-se contra slogans da direita numa mesa de bar ou num ponto de bonde?
Tive experiências variadas. Em minhas palestras sobre Igreja e populismo de direita, o público costuma estar muito engajado e quer saber o que pode fazer concretamente. Ao mesmo tempo, percebo certo cansaço, quando pessoas relatam que seus interlocutores simplesmente já não se abrem mais ao diálogo ou que é difícil manter, constantemente, uma discussão contra um clima cotidiano marcado pelo populismo de direita. Nesses momentos, é bom que existam espaços eclesiais para recarregar energias e fortalecer uns aos outros.
O que exatamente diferencia a postura dos cristãos da postura dos não cristãos diante do populismo e do extremismo de direita?
Vivemos, talvez pela primeira vez desde a fundação da República Federal, um tempo em que se olha para o futuro não com otimismo, mas com preocupação. Diante da situação geopolítica, isso é totalmente compreensível. O essencial, porém, é não reagir com exclusão, como faz o populismo de direita, mas manter-se aberto aos outros e à diversidade em nossa sociedade. E é aí que a fé cristã, com a mensagem da ressurreição, nos oferece uma espécie de “óculos da esperança”, que ajuda a ver as coisas com outros olhos.
Cristãos e cristãs podem ser um contraponto a uma percepção cotidiana que só vê o negativo, que olha apenas com saudade para o passado — e assim torna as alternativas populistas ainda mais sedutoras. Quando cristãos se posicionam de forma visível por uma sociedade aberta e democrática, isso pode encorajar outros: pessoas que antes se calavam percebem que não estão sozinhas — e talvez encontrem coragem para dizer claramente, no trabalho, no vilarejo ou no clube: eu vejo as coisas de outra maneira.
Vamos olhar para o futuro: o populismo de direita veio para ficar?
Em comparação europeia, a Alemanha passou por um desenvolvimento tardio: partidos de direita já eram politicamente bem-sucedidos em países como Áustria ou Holanda nos anos 1990 e 2000 — inclusive participando de governos. No médio prazo, portanto, devemos assumir que a AfD também se consolidará no Bundestag. Nessa situação, a forma como os partidos democráticos — especialmente a União (CDU/CSU) — lidam com a AfD será decisiva. Se a CDU e a CSU se mantiverem firmes na separação das forças populistas de direita e não cometerem — como em outros países — o erro estratégico de buscar cooperação, isso pode ser um fator de estabilização para a democracia. Só por meio dessa separação é possível evitar que os dois partidos conservadores à direita do centro sejam destruídos e absorvidos pelos populistas.
No momento, o Serviço de Proteção da Constituição e a AfD travam uma disputa na justiça sobre a classificação do partido como “certamente de extrema-direita”. Em seu trabalho, o senhor fala sempre de populismo de direita. Qual é exatamente a diferença?
Simplificando: o problema do extremismo de direita está na hierarquização entre grupos humanos — por exemplo, colocar os chamados "alemães de sangue" acima das pessoas com histórico migratório e desconsiderar os direitos destas. Isso é incompatível com a democracia. O perigo do populismo de direita, por sua vez, é que ele, ao menos inicialmente dentro da ordem democrática, afirma que haveria, por exemplo na política migratória, apenas uma solução correta — que as elites ignoram de forma intencional. Mesmo assim, o objetivo final é excluir certos grupos da população. Mas as fronteiras entre ambos são muitas vezes fluidas. A AfD se radicalizou progressivamente nos últimos anos — de um populismo eurocético competitivo em 2013, passando pela crítica populista à política migratória, até chegar a concepções de extrema direita sobre quem supostamente não pertence ao povo alemão, dentro de suas fileiras.