28 Mai 2025
O pároco da catedral e da unidade pastoral do centro da cidade de Saint-Gall, no nordeste da Suíça, foi confirmado esta quinta-feira, 22, pelo Papa Leão XIV, como o novo bispo da diocese do mesmo nome. Este fato não seria notícia, não se desse o caso de ele ter sido eleito pelas estruturas locais da diocese e não por Roma, como é habitual acontecer.
A reportagem é de Manuel Pinto, publicada por 7Margens, 23-05-2025.
A diocese de Saint-Gall, criada no século XIX, conserva esse privilégio de eleger o seu bispo, num processo que tem algumas analogias com o processo da escolha do Papa.
Assim, quando completou 75 anos, no início de agosto de 2024, o atual prelado pediu ao Papa a renúncia de funções. A resposta chegou poucos dias depois. Era-lhe pedido que se mantivesse no cargo até a eleição do sucessor.
Em 20 de agosto do mesmo mês, o capítulo da catedral, constituído por 13 membros do clero, abriu nas comunidades diocesanas “uma ampla consulta inspirada sinodalmente” essencialmente online, envolvendo 173 grupos e 1.305 pessoas, para refletir sobre o perfil que deveria ter o bispo a eleger, face aos desafios percebidos da diocese no presente e no futuro. A partir de 9 de setembro, com base nas conclusões da consulta, liderada pelo Instituto Suíço de Sociologia Pastoral, sediado em Saint Gall, o capítulo da catedral chegou a uma lista de seis candidatos cujas trajetórias foram investigadas pela Nunciatura e pelo Dicastério para os Bispos, lista devolvida à diocese, sem objeções, já em abril de 2025.
O dia marcado para a eleição foi 23 de abril último. Porém, a morte do Papa Francisco, dois dias antes, levou o capítulo a adiar a eleição um mês (para 20 de maio). No entanto, na manhã daquele dia 23, o Colégio Católico, que é o parlamento da corporação eclesiástica no cantão de Saint-Gall e que tem a prerrogativa de sinalizar objeções a algum dos candidatos, até três, fez a reunião que estava prevista.
A eleição do bispo aconteceu efetivamente na última terça-feira e o nome escolhido foi, de imediato, enviado para o Dicastério dos Bispos. Tal como relativamente aos seis candidatos, nenhum nome foi tornado público no processo, para acautelar alguma situação de veto do lado do Vaticano ou, posteriormente, do tal Colégio.
A resposta chegou esta quinta-feira, confirmando a escolha feita na diocese: o eleito foi o padre Beat Grögli, que, curiosamente, pertence ao capítulo da catedral. O anúncio foi feito ao meio dia desta quinta-feira, pelo decano e vigário geral da diocese, numa sessão solene que incluiu um concerto de órgão e a primeira bênção do bispo eleito, que entrará oficialmente em funções no início de julho.
O dia da eleição começa de manhã com uma missa em que participam todos os membros do capítulo. Segue-se, no fim, a reunião à porta fechada, do Colégio Católico, que decide por votação secreta se tem objeções sobre até três nomes de entre os candidatos (esta reunião tinha sido feita já em 23 de abril, como referido atrás). À tarde, os cônegos dirigem-se em procissão para a sacristia e, depois de fechadas as portas, o decano, que preside ao ato, faz uma preleção sobre o significado e responsabilidade da decisão a tomar. São, de seguida, eleitos dois escrutinadores e todos prestam juramento, em como escolherão aquele nome que, em consciência, acreditam ser o que melhor servirá a Igreja na função de bispo, sem considerações de laços de família ou amizade. Também não deverão votar em quem tenha trabalhado para a sua própria eleição. A decisão toma-se quando um candidato obtém sete dos 13 votos possíveis, ou seja, por maioria absoluta.
Durante a reunião eleitoral, decorrem na catedral orações invocando a assistência do Espírito Santo àqueles a quem cabe decidir quem será o bispo de Saint-Gall.
Beat Grögli é o 12º bispo de uma diocese com 142 paróquias e vai liderar a Igreja Católica numa área geográfica de 600 mil habitantes, 40% dos quais se dizem católicos – uma percentagem que representa uma redução de 12 pontos percentuais relativamente a 2005.